É assim que termina...

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Há bastante tempo, venho lhe observando sempre que vou à padaria comprar pães para os meus pais. Você, trabalhando naquela lojinha de peças para automóveis, começou a perceber meus olhares durante vários momentos.

Quando meus pais se disponibilizavam para irem à padaria, eu fazia questão de ir no lugar deles, chegava até, muitas das vezes, a ir mesmo já tendo sobras de pães em casa.

Via aqueles olhos azuis da cor do oceano me observando quando nossos olhares se cruzavam. Pupilas cansadas e muitas orelhas significavam a sua grande dedicação, pois enquanto eu acordava quase na hora da panificadora fechar, aquela loja em que ele trabalhava, o fazia quase passar a noite em claro ali.

Não sabia a sua idade, muito menos seus sentimentos. Fitava-o pela grande janela do estabelecimento. Tudo estava perfeito até eu querer me aproximar mais daquele belo rapaz.

Escrevo uma carta e a entrego a um de seus colegas de trabalho, que eu sabia que era de tamanha confiança, pois eles, na maior parte do tempo, estavam juntos e conversando.

Ele respondeu àquela carta e logo estávamos ali, escrevendo em folhas de papel nossas emoções, fazendo promessas impossíveis de acontecer e ansiando o dia em que tomaríamos coragem de dialogar pessoalmente, algo que até então parecia fantasia, pois jamais nem eu, muitos menos ele conseguiríamos suportar encarar um ao outro, frente à frente.

Passaram-se oito meses desde nossa primeira conversa por cartas. Eu estava muito feliz em ter um amigo igual no tempo antigo onde amizades e amores surgiam em meio a papéis com selos, só não usávamos selos já que a distância entre nós era separada por uma longa faixa de pedestres para ser atravessada.

Eu enviei uma carta cuja mesma dizia meu grande desejo de falar com ele, então nela o pedia para atravessar a faixa e vir ao meu encontro, que eu estaria esperando na entrada da padaria. Entreguei a seu amigo, que quando já estava na loja de peças, dizia para mim por meio de sinais que ainda não o tinha encontrado.

Até que eu o vi atravessar uma outra faixa de pedestres bastante movimentada que ficava ao lado oposto da faixa que nos separava. Assim que o avistei fiz sinal a seu amigo para mostrar-lhe onde estava.

Ele foi correndo até o rapaz e gritou algo inaudível aos meus ouvidos, ao mesmo tempo arqueando a carta que eu havia mandado.

Tudo foi aos meus olhos, tudo foi muito rápido, em questão de segundos, ao ver e ouvir aquilo, eu vi o possível amor da minha vida parar no meio da pista para ver o que seu amigo queria dizer-lhe, e então se virar para mim rapidamente e encontrar meus olhos pela última vez. um carro em alta velocidade o atropelou violentamente e sem dó, o motorista nem ao menos fez questão de parar o seu automóvel e seguiu adiante como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse acabado de perder uma parte de mim.

Me sinto completamente culpada. Será que tudo teria sido diferente? Será que se ele tivesse recebido minha carta, teríamos nos conhecido melhor e talvez fossemos felizes em um relacionamento? É incrível como somente quinze minutos podem mudar tudo na vida de duas pessoas, podendo destruir ciclos, amizades, paixões e até mesmo, vidas.

Ver aquela pessoa falecer quebrou meu coração para sempre. Isso foi há exatos nove anos, estou lendo nossas cartas à minha filha, sim, sou mãe, mas solteira, pois a fertilização artificial, para mim, naquelas circunstâncias, seria o melhor a ser feito, porque jamais conseguiria ter um novo amor que não fosse você...

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⏰ Última atualização: Jan 15 ⏰

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