II.

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O duque lamentou a morte da esposa. De verdade. Ele não a amava, é claro, nem
ela a ele, mas os dois haviam sido amigos de uma forma estranhamente distante.
Ele não esperava nada do casamento além de um filho e herdeiro, e quanto a isso ela se provara exemplar. O soberano ordenou que flores frescas fossem levadas toda semana a seu mausoléu, qualquer que fosse a estação do ano, e seu retrato foi transferido da sala de estar para o saguão, em posição de destaque acima da
escadaria.
E então o duque começou a pensar na criação do filho. Não pôde fazer muito no primeiro ano. O bebê era jovem demais para palestras sobre administração de terras e responsabilidade, de modo que o duque o deixou sob os cuidados de uma ama e foi para Londres, onde sua vida continuou praticamente
como era antes de ele ser abençoado pela paternidade. A única diferença era que
agora ele forçava todos – até mesmo o rei – a olhar para o pequeno retrato do filho que havia mandado pintar logo depois de seu nascimento.
O duque visitou Clyvedon algumas vezes, e retornou em definitivo no segundo
aniversário de taehyung, pronto para assumir a educação do jovenzinho. Mandou que lhe comprassem um pônei, selecionassem uma pequena arma que ele usaria no futuro na caça à raposa e contratassem tutores de todas as disciplinas conhecidas pelo
homem.
– Ele é jovem demais para tudo isso! – exclamou a ama Hopkins.
– Bobagem – respondeu o homem, com condescendência. – Evidentemente, não
espero que ele domine nada disso logo, mas nunca é cedo demais para dar início à educação de um duque.
– Ele não é um duque – resmungou a ama.
– Vai ser – disse ele.
Virou-se de costas para ela e se agachou ao lado do filho, que estava no chão
montando um castelo assimétrico com um conjunto de blocos. Fazia vários meses que o duque não ia a Clyvedon e ficou satisfeito com o crescimento de taehyung. Ele era um menininho robusto e saudável, com cabelos castanhos sedosos e olhos pretos.
– O que está construindo aí, filho?
Taehyung sorriu e apontou.
O duque olhou para a ama Hopkins.
– Ele não fala?
Ela balançou a cabeça.
– Ainda não, Alteza.
O duque franziu a testa.
– Ele já tem 2 anos. Já não deveria estar conversando?
– Algumas crianças levam mais tempo que outras, Alteza. Sem dúvida ele é um
menininho inteligente.
– É claro que sim. É um Basset.
A ama assentiu. Ela sempre assentia quando o duque falava da superioridade do sangue de sua família.
– Talvez ainda não tenha nada que ele queira dizer – sugeriu ela.
O duque não pareceu convencido, mas deu a taehyung um soldadinho de brinquedo, acariciou-lhe a cabeça e saiu para exercitar a nova égua que havia adquirido do lorde Worth.
Dois anos depois, no entanto, ele já não estava tão confiante.
– Por que ele ainda não fala? – explodiu o duque.
– Não sei – respondeu a ama, retorcendo as mãos.
– O que você fez com ele?
– Eu não fiz nada!
– Se estivesse fazendo seu trabalho direito, ele – disse o duque, apontando um dedo furioso na direção de taehyung – estaria falando.
O menino, que estava treinando suas letras numa escrivaninha em miniatura,
observava a conversa com interesse.
– Ele tem 4 anos, pelo amor de Deus! – bradou o duque. – Já deveria saber falar.
– Ele sabe escrever – retrucou a ama. – Criei cinco crianças, e nenhuma delas
tinha o talento com as letras que o pequeno taehyung tem.
– Ele vai ter que escrever muito se não souber falar. – Virou-se para o filho com
os olhos cheios de raiva. – Fale comigo, droga! O menino retraiu-se, com o lábio inferior trêmulo.
– Alteza! – exclamou a ama. – O senhor está assustando a criança.
O homem virou-se para ela.
– Talvez ele deva levar um susto – falou. – Talvez o que esteja precisando seja
uma grande dose de disciplina. Uma boa surra pode ajudá-lo a encontrar a voz.
O duque agarrou a escova de prata que a ama usava para pentear os cabelos de
Taehyung e avançou na direção do filho.
– Vou fazer você falar, seu pequeno idiota...
– Não!
A ama ofegou. O duque deixou a escova cair. Foi a primeira vez que ouviram a
voz da criança.
– O que você disse? – sussurrou o duque, com os olhos se enchendo de lágrimas.
O menino cerrou os punhos ao lado do corpo e projetou o queixinho à frente
enquanto falava.
– Não me b-b-b-b-b-b...
O rosto do soberano ficou mortalmente pálido.
– O que ele está dizendo?
Simon tentou pronunciar a frase de novo.
– N-n-n-n-n-n-n...
– Meu Deus – bufou o duque, aterrorizado. – Ele é um idiota.
– Não é, não! – gritou a ama, lançando os braços ao redor do menino.
– N-n-n-n-n-n-n-não b-b-b-b-b-b-bata... – taehyung respirou fundo – em mim.
O duque afundou no assento próximo à janela e enterrou a cabeça nas mãos.
– O que eu fiz para merecer isso? O que eu posso ter feito... – lamentou-se.
– O senhor deveria estar elogiando o menino! – observou a ama Hopkins. – Está há quatro anos esperando que ele fale e...
– E ele é um idiota! – berrou. – Um pequeno idiota!
Taehyung começou a chorar.
– Hastings ficará nas mãos de um débil mental – gemeu o duque. – Todos esses
anos rezando por um herdeiro e agora está tudo perdido. Terei que deixar o título para meu primo. – Virou-se para o filho, que soluçava e secava os olhos, tentando parecer forte diante do pai. – Não consigo sequer olhar para ele. – Soltou um arquejo. – Não consigo.
Ao dizer isso, o homem saiu da sala.
A ama Hopkins deu um abraço apertado no menino. – Você não é um idiota – afirmou categoricamente, num sussurro. – É o menininho mais inteligente que eu conheço. E, se existe alguém capaz de aprender a falar direito, sei que esse alguém é você. Taehyung se entregou ao abraço carinhoso e chorou de soluçar.
– Vamos mostrar a ele – jurou a ama. – Ele vai engolir o que disse, nem que seja a última coisa que eu faça.

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⏰ Última atualização: Jan 21 ⏰

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o duque e eu - taennie verOnde histórias criam vida. Descubra agora