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Quando cheguei a casa Vitale, havia uma comoção e confusão. Os empregados estavam correndo de um lado para o outro, enquanto permaneci parada nas portas dos fundos da cozinha, com as sacolas de compras que minha mãe pediu para trazer do mercado.

Claro que haveria uma grande comoção com a volta do filho mais novo da família.

O problemático, que esteva em um reformatório no interior da França desde seus dezesseis anos. Agora, aos dezoito, está voltando para a casa e mesmo antes do seu avião pousar, já virou a casa de cabeça para baixo.

Caim Vitale era famoso pela cidade de Lagoa Serena. Todos conheciam do filho rebelde dos grandes empresários do ramo de Farmácia, uma das poucas famílias bilionárias da cidade.

Uma personalidade poderia ser referida como o prodígio no piano.

O talento foi perdido por sua personalidade quase criminosa. E anos que poderiam ser gastos em treinos e ganhando prêmios, foram jogados fora quando ele foi enviado para o interior da França, em um reformatório.

Durante o ensino médio, quando toda a confusão de Caim aconteceu, as minhas amigas da escola Estadual passaram meses falando sobre ele. Elas assistiam os vídeos dele da juventude em competições de piano, onde ele ganhou alguns prêmios, comentavam como a aura rebelde o dava um tom sexy enquanto tocava piano, indo contra estereótipo do bom menino pianista.

Ontem ela recebeu mensagem de Rebeca, uma das suas amigas do ensino médio e que era obcecada por Caim, que dizia:

Carol, meu deus. Ele tá voltando mesmo?

Sinceramente, eu queria manter em segredo que estávamos morando na casa dos patrões para 1) evitar humilhações e 2) evitar que minhas amigas do ensino médio ressurgissem em minha vida como fantasmas, depois de sumirem desde a formatura (seis meses atrás) apenas para saber sobre o filho dos chefes da minha mãe.

Rebeca era uma das poucas amigas do ensino médio que eu ainda mantinha contato e uma das poucas que eu contei sobre a situação financeira da minha família e o fato de estarmos morando nos fundos da casa Vitale. Ela era uma boa amiga, até mesmo me ajudou a encontrar um emprego no centro, em uma lanchonete.

Ele chega hj. Acho que os pais já foram buscar ele no aeroporto.

Coloquei as compras em cima da mesa e encarei a minha mãe, que estava trabalhando mais do que o normal.

Na casa Vitale, havia apenas três empregados: um jardineiro, uma moça para faxina e minha mãe, que cuidava de quase tudo. Ela trabalhava para os Vitale desde que eu tinha oito anos de idade, quase dez anos sendo empregada deles.

José Vitale dizia que minha mãe era quase da família, mas eu achava isso uma grande balela, mas minha mãe acreditava já que ele foi bondoso em nos dar abrigo desde que fomos despejados.

Minha mãe trabalhava bastante desde que papai morreu. Precisávamos de dinheiro para ajudar meu irmão mais novo, que ele precisou passar por uma cirurgia, ano passado, por causa de um acidente que quase tirou o movimento da sua perna esquerda.

Estávamos sem casa e meu irmão precisava de fisioterapia. O dinheiro era curto e não havia muito o que poderíamos fazer além de aceitar a benevolência de um homem rico. Fosse essa benevolência falsa ou não.

Enfim. Toda a merda me fez desistir do meu sonho, o único que mantinha desde que eu era criança.

Tentar ser cantora lírica nessas condições era inviável.

— Você trouxe o leite errado, Caim só toma leite desnatado. — Minha mãe reclamou e eu rolei os olhos. — Caramba, Lina, você não prestou atenção nas anotações? Essa marca também está errada, ele odeia a massa desse macarrão.

Desvendando CaimOnde histórias criam vida. Descubra agora