LEMBRANÇA

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Eu estava em estado de choque, a minha vida havia virado de ponta de cabeça em literalmente minutos. Vi meu pai morrer na minha frente, fui tirado da minha mãe diante dos olhos dela por um homem que não faço ideia de quem seja e agora ela está abandonada sem ninguém. Dos meus olhos descem lágrimas, lágrimas de ódio e tristeza, que não podem dizer o quão estou destruído por não poder fazer nada para defender a mim ou minha mãe. Tenho medo do que ele possa fazer comigo.

Estava anoitecendo. Deitado naquele banco de carro eu poderia olhar para o céu que estava com poucas estrelas e uma cor espetacular, talvez fosse a última vez que eu pudesse fazer isso. - Sinto uma mão acariciando minha coxa esquerda, não me ouso em olhar, apenas fecho meus olhos sentindo todo o prazer que era ser acariciado. Um riso fraco e curto foi dado por ele, que dirigia e me tocava ao mesmo tempo.

- Já está melhor, Kyle? - Me perguntou sem desviar a vista do trânsito. - Preciso que você descanse. Estamos quase chegando em casa.

Ele deve achar que eu já superei tudo.

- Me leva de volta pra minha mãe.. - Falei choroso.

- Querido.. Já conversamos sobre isso. Quando chegarmos em sua nova casa, te explicaremos tudo com bastante calma. Pode voltar a se deitar se quiser.. Estamos quase chegando.

Foram poucos minutos até passarmos por um grande portão dando em uma linda casa que parecia ser de alguém com alto poder. Os detalhes focados em vidro, as grades de formato diferente e a arquitetura eram impactantes. Considerando pelo carro em que eu estava, não era qualquer pessoa que havia me pegado. - O carro parou, a marcha foi travada e consegui sentir meu coração parar. Não sabia o que vinha pela frente.

- Chegamos. Podem ir para os postos de vocês que agora eu cuido daqui. - Hector falou dispensando os homens que o acompanhavam. - Agora somos eu e você. - Falou se aproximando de mim dentro do carro.

- Não por favor não me machuque, eu.. - Gritei por instinto. Senti um peso sair de mim, eu não estava mais em superfície e sim no colo daquele sujeito.

- Eu jamais machucaria você, bebê.. - Falou enquanto me levava para dentro em seu colo.

Não sabia o que estava por vir, mas estava tão confortável estar sobre aqueles braços, que qualquer traço de ansiedade se anulou dentro de mim.

🩸

O lado interno daquela casa era mais lindo ainda, haviam lustres e estatuetas conceituais por toda parte. O cheiro era doce, como tutti-frutti, eu poderia passar horas aspirando aquele aroma lá dentro que eu não me importaria. - O tal cara que o nome talvez seria Hector, de acordo com o que eu ouvi antes, me colocou sentado no enorme sofá da sala, e se sentou na poltrona quase ao lado.

- Enfim sós. - Hector diz, parecia aliviado por finalmente estar em casa. - Agora somos eu e você.

Uma gota de suor frio escorreu pela minha cabeça.

- Eu.. eu tô nervoso.. Desculpa..

- Não tem problema. Com meu primeiro menininho também foi do mesmo jeito. - Falou simples.

Primeiro meninininho?

- Então.. Kyle.. Sabe o por que de estar aqui? - Hector perguntou se voltando para mim.

- N-não.. - Funguei.

- Por que eu gostei de você. - Hector falou bem claro. - Quando eu vi você pela primeira vez naquela janela eu sabia que sua vida não era boa. Fora que, quando seu pai me ofereceu você hoje antes de morrer foi como um chequemate no xadrez. Achei convicente e perfeito te trazer para cá.

- Eu tinha minha mãe.. Eu preferia ficar com ela.. Por que me trouxe sabendo que eu tenho mãe?..

- Kyle, querido.. - Ele gourmetiza sua voz a partir de um tom mais calmo. - Você viu como estava sua mãe? Ela estava desgastada e não tinha condições algumas de sustentar vocês. Ofereceremos um suporte para ela financeiro sem a cobrar nada, mas, você de toda forma não é mais filho dela.

- E o que vai acontecer comigo agora? - Perguntei nervoso. Logo bateu o arrependimento e senti que eu não deveria ter perguntado isso.

- Com você? - Ele se levanta. - Nada. Nada além de uma boa mudança de vida.

- Co-como assim mudança de vida.

Hector se aproximou de mim, sentando-se ao meu lado. Ele suspirou e enfim me olhou.

- Kyle, você sabe o que é regressão de idade? - Me perguntou calmo, me olhando de maneira compreensiva.

- Já ouvi falar..

- É uma espécie de terapia, tipo uma válvula de escape dos seus problemas. Me entende?

- Acho.. que sim..

- Você se lembra de quando era pequeno? Quando era um simples neném dengoso que brincava e vivia sua vidinha simples?

- Um pouco.. Foi meio conturbado.. Mesmo eu sendo pequeno, meu pai já me batia por motivos bestas..

- Entendo. Com a agere, você pode voltar para esse tempo e relaxar, sendo você mesmo, pequeno..

Pensei em relação ao que Hector me dizia. Eu já havia ouvido dizer sobre isso na internet. Muitos dos comentários sobre diziam ser loucura ou doença, mas para mim era algo que só poderia opinar caso estivesse no lugar daquela pessoa.

- E como eu faço isso? - Perguntei curioso. - Lembro de poucas coisas, mas lembro de muitos detalhes..

- Ah é? E quais seriam? - Hector perguntou interessado. - Estou curioso em saber.

- Minha chupeta era azul.. Tinham aviões coloridos nela.. Eu tinha uma pelúcia de cachorro branca.. - Ri fraco. - Era o Joey, eu era inseparável dele.. Eu havia ganhado da minha mãe aos 2 anos, mas hoje em dia não o tenho mais..

- O que houve com o Joey para você não o ter mais atualmente? - Hector mudou sua feição para preocupado.

- Digamos que, eu não o largava nem para comer.. e meu pai furioso com aquilo tudo o tomou de mim e o jogou no fogo. Ver meu brinquedo favorito derreter nas chamas foi horrível, eu chorei por dias e minha mãe até tentou me dar outro, mas eu não quis..

- Poxa.. Sinto muito, pequeno. - Hector lamentou.

Sorri fraco com a compreensão do homem. Mas a sua proposta parecia ainda estar de pé. Eu tentaria uma vez, eu teria que me acostumar com a minha nova vida a partir de então.

- Como posso ser pequeno de novo? Isso me faz lembrar do Joey, da minha mãe.. - Falei triste.

- Respire fundo e deixe-se deslizar ao Little Space. Garanto que será melhor para você relaxar e descansar.. Liberte seu little interior..

Fechei meus olhos bem forte. Senti um vento fresco soprar atrás de mim e me permiti deslizar... Era como voar, mas eu sentia as coisas pesarem menos até que..

pureblood.Onde histórias criam vida. Descubra agora