O perfume amadeirado inconfundível ainda impregnava-lhe a pele. O que antes era um aroma predominante em si, hoje é apenas um subtom da essência em suas veias. Como pode o cheiro de sangue ser assim tão obcecante? Como pode nossa racionalidade ser assim tão facilmente diluída pelo desejo?
Sinto meu autocontrole derretendo, como se o livre-arbítrio fosse evaporado de meu corpo a cada segundo em que minhas narinas são provocadas. Minha visão afunila de forma que só tem você em meu campo de visão, como se já não bastasse ser o centro do meu mundo, és agora o centro da minha obsessão.
Sou deixado em uma coleira de couro frio e ferro, puxado por uma corrente curta enquanto a besta assume o controle do meu corpo, suas garras tornam-se minhas mãos, suas presas tornam-se minhas, e meu beijo passa a carregar a luxúria agressiva de um monstro.
Quero mordê-lo, quero dilacerá-lo.
Meu coração não bate, mas ainda assim o peito pulsa. Como pode um corpo sem vida ser tomado por prazer e angústia? Tudo o que me fazia feliz mudou, me foi tirado. Sem minha opinião, sem meu consenso. Sou hoje apenas uma casca do que queria ser.
Tenho em meus braços quem eu amo, mas não como amei. Tenho em meus braços o elixir que sacia a besta, mas não deveria ser assim. Não deveria haver besta, não deveria haver tormenta, eu tinha tudo!
Quero ceder à perdição.
Minhas unhas penetram na sua pele e ele deixa que lhe rasgue as veias. O líquido gélido escuro escorre de forma tão lenta em sua clavícula, que me dá o tempo de saborear gota por gota do elixir proíbido. Meu corpo espasma com a ideia de saciar minha sede em seu sangue. Não posso realmente saciá-la, mas não significa que cada fibra de meu corpo não queira, não tente.
A cada gole, meu corpo aquece com anseio de fazer com ele o que já fiz dezenas de vezes com os dissimulados. Esqueço-me até de como deveria estar sofrendo por estar nos braços de quem amo e que já não pode mais me amar. Esqueço-me de que ele já não se lembra mais de mim. Esqueço-me até de que deveria pôr um fim nesse sofrimento pecaminoso. Nesse instante tudo que eu quero são suas mãos gélidas por debaixo de minha blusa, suas presas afiadas em meu pescoço e deixo me banhar na loucura que é essa não-vida sombria.
Quero tudo.
Caralho, como a carne é fraca.
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Desumano - Até que a Morte final nos separe
VampireAs trevas chegam até Matheus de forma impetuosa. Com o coração partido e determinado, ele procura respostas em uma sociedade secreta que logo descobrirá ser desumana. Tem gays emocionados e vampiros.