Atenção! Nenhum frango foi ferido para o desenvolvimento da fanfic em questão (não podemos dizer o mesmo de Kelvin Santana).
[...]
Kelvin estava morrendo.
Por Deus, ele estava morrendo lenta e dolorosamente e tudo o que mais queria era que dissessem para todos que havia sido atropelado, morto tragicamente por um filhote de elefante caindo de um prédio, ou qualquer outra coisa por mais bizarra que fosse, mas que não deixassem ninguém saber que ele iria morrer ali: sentado na praça de alimentação de um shopping qualquer, em uma quarta-feira totalmente chuvosa, e o pior de tudo? Engasgado... Oh, Deus! Ele sequer conseguia pensar naquela frase completa... Quem no mundo gostaria de morrer engasgado com um demoníaco nugget de frango que nem estava tão gostoso assim para começo de conversa?
Xingou-se mentalmente, até porque, o jovem deveria imaginar que algo do tipo o esperava. Quer dizer, o universo normalmente não ria de sua cara, na real ele gargalhava enquanto lhe apontava o dedo e tirava uma foto para guardar de recordação, era assim que Kelvin Santana definiria todo o azar de sua vida.
O que mais poderia esperar, então? Não algo feliz, principalmente se tivesse levado em conta que o seu dia já não havia nem mesmo começado de um jeito agradável.
Ele tinha acordado às oito da manhã com um torcicolo terrível depois de acabar dormindo em cima da penteadeira enquanto comia um Noodles de vegetais — já que Berenice fizera questão de acabar com todos os outros sabores só porque Kelvin odiava vegetais —, aliás, ainda naquele curto período, depois de perceber que teria que aprimorar sua visão periférica para sobreviver àquele dia, havia deixado uma nota mental para si mesmo no futuro, lembrando-o de nunca mais experimentar os restos de um Noodles preparado no dia anterior apenas por preguiça de fazer um café da manhã. Aquilo era gelado e tão grotesco que o jovem quase prometeu ao universo que não comeria mais nada no dia em questão... Quase. Talvez tudo pudesse ter sido melhor se ele tivesse feito.
Enfim, depois de jogar o desastre no lixo e orar para que alguma das meninas não visse e o matasse por estar despejando coisas líquidas na lixeira da cozinha e não em seus devidos lugares – quais eram esses devidos lugares, afinal? –, Kelvin decidiu que seria perfeito passar um tempo em seu quarto lendo uma de suas fanfics favoritas para aproveitar bem e de maneira segura um dos seus últimos dias descanso.
Doce ilusão.
— Kelvin! — Cândida o chamou de repente enquanto batia na porta do quarto, fazendo-o resmungar irritado em resposta.
— Eu tô dormindo. — ele gritou de volta pouco antes da mulher, que o havia criado como uma mãe, abrir a porta e ignorar por completo sua falta de vontade em ter contato humano naquela manhã.
— Preciso que leve Berenice ao oftalmologista de tarde. — pediu como se nem mesmo tivesse acabado de invadir a privacidade do rapaz.
— Ela tem seu carro pra usar e uma carteira de habilitação, igual eu. Por que não pode simplesmente ir sozinha até lá?
— Você por acaso está insinuando que quer que a sua irmã dirija depois de um exame de vista? — a mulher perguntou abismada, usando a sua típica feição de: tudo o que eu quero é que você se sinta culpado como o diabo que é pelo o que acabou de me dizer. — Com a vista dilatada, não enxergando um palmo na sua frente e enquanto tem que atravessar as ruas caóticas da cidade? Você quer mesmo que ela morra, Kelvin Santana ? — concluiu ainda mais dramaticamente, o que era um de seus grandes talentos.
— Ela nem é mesmo minha irmã, mas tudo bem. — Kelvin bufou, sabendo que qualquer batalha era perdida quanto se tratava de Cândida. — Eu vou.
E os planos de passar o dia deitado em sua cama, lendo alguma história qualquer e sofrendo por uma burrada que aquela personagem muito provavelmente faria na mesma, haviam acabado de serem retirados da lista de afazeres do dia... Não que ele tivesse uma.
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Nuggets
FanfictionKelvin Santana tinha um problema chamado azar e outro chamado nuggets de frango. E os dois estavam prestes a matá-lo.