Chá de Chuva

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Um sentimento crescia em meu peito, talvez medo ou um leve desconforto. Eu nunca fiquei assustado com trovões, ou tempestades, mas estava uma chuva de cair o céu lá fora, então a cada lampejo e raio eu sentia o apartamento inteiro estremecer.

Meu gato estava escondido debaixo da cama porque estava um pouco incomodado (talvez aflito) da mesma maneira que eu, fiquei envergonhado. Um homem crescido igual a mim com medo de uma chuvinha, tentei trocar de posição na cama para outra tentativa de dormir, fiz meu melhor para não me mexer demais.

Afinal meu marido, Mingi, estava dormindo calmamente ao meu lado. Geralmente é ele quem fica com medo de alguma coisa e me chama, ou quem precisa de mim já que ele é bem mais manhoso que eu. Então eu não me senti muito másculo, ou forte, quando senti um leve desespero ouvindo alguns trovões que estavam estrondosos do lado de fora da janela do quarto. 

O quarto estava com as luzes apagadas e a única fonte de iluminação era essa janela grande ao lado da cama, que Mingi deixava com as cortinas abertas para poder acordar melhor de manhã. A vista da janela dava para alguns prédios e um céu em uma tonalidade de azul escurecido mas não completamente preto, muitas nuvens e muita mas muita chuva.

Outro trovão ecoou, esse foi perto, tremi um pouco me encolhendo dentro do cobertor e ouvi o gato miar embaixo da cama.

— Okay...okay...está tudo bem, por que estou com medo? São só alguns barulhinhos bobos, hehe, é só o céu piscando e água caindo vai ficar tudo bem...coração você já pode desacelerar. — falei para mim mesmo o mais baixo possível.

No segundo exato em que eu terminei de falar, o céu gritou mais uma vez com outro raio que iluminou todo o quarto por um segundo. Eu consegui ver exatamente onde ele caiu pela janela e logo em seguida veio o forte estrondo do trovão. Me encolhi no cobertor mais uma vez e meu corpo se arrepiou.

Eu realmente não sei como o Mingi ainda está dormindo calmo nesse temporal. Na verdade eu não tenho a menor ideia do porquê eu estou com medo, era para o Mingi estar com medo e eu o abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, sempre foi assim que fizemos.

Tentei me acalmar mais uma vez, e olhei para o rosto sereno do meu amado. Às vezes ele dormia de boca aberta o que era engraçado, outras vezes dormia com os olhos semi-abertos e roncando alto. Mas naquele momento não, ele estava em um estado pleno e calmo. Rosto limpinho e ainda fresco do banho que ele havia tomado horas antes, Mingi ressonava baixinho em seu sono perfeito.

Enquanto eu continuei me tremendo embaixo do cobertor. Tentei olhar para sua feição, admirá-la, e talvez isso me acalmasse. Ver seus pequenos detalhes enquanto dormia, suas pintinhas pequenas e adoráveis, suas bochechas levemente arqueadas por causa do quase-biquinho que ele estava fazendo enquanto dormia. Eu tive que resistir à tentação de querer tocá-lo. Afinal poderia atrapalhar o seu sono e ele estava tão bonito. Meu marido estava lindo dormindo ao meu lado.

Não me contive, cheguei um pouco mais perto de seu corpo, os trovões ainda estavam ecoando e eu ainda estava com medo, possivelmente pouco mas talvez (com certeza) muito medo. Eu não queria acordá-lo, me sentiria um criminoso por fazê-lo mas eu não acho que tenha outra alternativa. Eu não quero ficar sozinho.

— Amor...amor...acorda — sussurrei meio inquieto, enquanto cutucava levemente seu ombro.

Mingi fez alguns barulhos, um quase rosnado, e depois de alguns segundos se remexendo, abriu os olhos lentamente e olhou para mim com a cara de assustado, que eu não sabia que estava, mas ele pareceu confuso ao acordar e dar de cara comigo daquele jeito, então provavelmente eu estava irradiando medo.

— O que foi, meu bem? Por que está acordado? — Perguntou bocejando logo em seguida.

— Eu...é que eu...to meio que, querendo companhia — disse levemente envergonhado.

Chá De Chuva - YungiOnde histórias criam vida. Descubra agora