Chuuya estava puto. Andava em passos pesados e raivosos até alguma sala vazia e abandonada da máfia do porto - que foi onde sugeriu que o maldito embuste responsável pela sua perca de paciência logo de manhã poderia estar. -, acontece que Chuuya havia sido alvo de mais uma das piadinhas infantis de Dazai, e oras, quando se encontrasse com aquele imbecil, certamente acabaria com ele de vez.
Acontece que logo quando saiu de seu apartamento para ir ao trabalho, na porta tinha nada mais e nada menos que um balde cheio de tinta preta. Assim que o balde caiu em cima de Chuuya, sujou não só seu lindo chapéu, mas também seu novo terno, paletó, sapatos sociais e sobretudo de grife que havia comprado recentemente. Lembrou-se também que na noite passada, Dazai havia esfregado Sal e pimenta extra-forte em todas as suas taças de vinho justamente por saber da necessidade de Chuuya em sempre chegar de um dia cansativo e desfrutar-se de uma boa taça de vinho em sua poltrona de couro. Isso tudo aconteceu porque Dazai sabia muito bem a localização do parceiro, e também havia ganhado uma cópia da chave pelo próprio ruivo.
Mas, bem, o que importa agora é que ele está prestes a esganar Dazai e seu ódio é fervente. Entretanto, não encontrava aquele maldito desperdiçador de oxigênio em lugar algum.. Pensou até em ligar para ele e mascarar sua intenção principal em querer quebrar os dentes do parceiro, mas ele era infernalmente inteligente ‘pra caralho. Aquele cretino sabia ler Chuuya melhor do que qualquer um.
Ao virar o sétimo corredor daquele andar e abrir a milésima porta - talvez estivesse exagerando um pouquinho -, Chuuya pode se deparar com o maldito que tanto ansiava... Só que algo estava errado.
Os olhos de Nakahara se arregalaram em surpresa, seus lábios levemente entreabertos. Dazai estava sentado no chão enquanto enrolava ataduras pela sua perna, mas seu busto, pescoço e braços estavam completamente expostos. Não entendia o motivo de ter ficado tão surpreso se já era o que esperava, mas agora a ficha de Nakahara Chuuya finalmente havia caído.
As piadas sobre suicídio de Dazai não eram piadas. Dazai era um homem complexo e repleto de máscaras, máscaras essas buscando esquecer a pessoa que já fora algum dia. Ninguém conhecia e nem mesmo sabia quem realmente é Osamu Dazai. Ele era um mistério indecifrável, Chuuya estava levemente assimilando isso.
Dazai poderia deixá-lo a qualquer momento, bastava uma recaída e talvez nunca mais o visse vivo novamente... E se aquele idiota realmente conseguisse o que tanto anseia? O que acontecerá com tudo o que viveram até agora..? A última memória que teria com Dazai seria batendo nele? Claro, Chuuya não era muito amável com Dazai, e ele de certa forma provocava, mas... Se lembrava de algumas vezes que já teve a oportunidade de ver a parte frágil dele - apenas desacordado -, como nas vezes que Dazai dormia em sua casa, em sua cama.. A expressão relaxada dele dormindo era simplesmente adorável, exceto quando era bombardeada com pesadelos que imaginou serem terríveis, já que Osamu fechava a cara no mesmo momento que seu sonho parecia mudar.
E lá estava ele, suas inúmeras cicatrizes tão profundas e preocupantes. Os cortes fundos em todo o seu corpo - principalmente seus pulsos -, a marca de estrangulamento em seu pescoço, as cicatrizes de bisturis, agulhas que foram perfuradas em Dazai sem o mínimo de cuidado, queimaduras, arranhões feitos pelo próprio Osamu, tiros recém cicatrizados, cortes e mais cortes profundos em todo o seu corpo, quase como se não houvesse uma parte dele sem alguma maldita cicatriz.
Aquela era uma visão completamente nova para Chuuya. Era claro que já tinham fodido juntos muitas vezes, mas aquilo... Dazai nunca havia tirado aquelas malditas bandagens, e agora entendia o motivo.
— O que está fazendo aqui, lesma? — Dazai franziu a testa, tentando disfarçar sua surpresa com a visita.
— Suas cicatrizes..
— Não olhe, espere um momento e já conversamos.
Chuuya não obedeceu, ao invés disso ele andou até o moreno e se aganhou para ficar da mesma altura, apenas para pegar um rolo de bandagem no chão e envolver sobre o braço machucado do parceiro, e isso o deixou ainda mais surpreso.
Dazai não sabia como reagir com aquela demonstração de... bem.. de importância? Parceria...? Preocupação... ou.. Afeto..? Estava tão nervoso. Corou levemente, assim como Chuuya parecia um tomate apenas por fazer essa mísera troca de toques. Para dois adolescentes mafiosos que já transaram forte inúmeras vezes, estavam mais para duas crianças tímidas ao encostarem os dedinhos um no outro.
— Que ação incomum, eu não sabia que você podia fazer algo por mim além de me judiar. — Dazai provocou enquanto abria um sorriso sutil.
Chuuya apenas suspirou, lembrando-se vagamente do ódio que possuía no início daquilo.
— C-Cala a boca... Cavala imbecil.
— Lesma. — Retrucou. — O que você pensa que vai fazer?
— Fecha essa sua boca de merda enquanto eu ainda estou sendo legal com você, coisa que você nao merece. — Esbravejou novamente enquanto enrolava um rolo de bandagens sobre o braço de Dazai.
— Que gentil. De qualquer forma, eu não preciso da sua ajuda.
Chuuya fechou os olhos e respirou bem fundo, tentando manter-se calmo para não esganar Dazai e acabar estragando tudo. Mas, porra... Parecia que aquele suicida de merda estava agindo assim de propósito.
— Eu não perguntei nada.
Dazai sorriu, mas não havia brilho em seus olhos. Era visível seu medo - por mais que tentasse esconder - de ser visto totalmente sem bandagens, totalmente exposto. Sentiu uma mão tocando seu ombro e logo se surpreendeu ao ter sua clavícula beijada por Chuuya, bem em cima de uma cicatriz de corte profundo.
— Chuuya.. O que...
— Você está lindo, imbecil. É muito melhor assim do que cheio de ataduras igual uma múmia que desperdiça bandagens. — Foi sincero, mas logo seu rosto se esquentou.
Dazai piscou algumas vezes para ter certeza de que aquilo não era um sonho, então sorriu levemente e puxou Chuuya para beijar sua testa.
— Você ficaria muito melhor sem esse chapéu ridículo também.
Foi então que Chuuya o atacou, dando um tapa bem dado no rosto sem bandagem de Dazai.
— ESCUTA AQUI, SEU-
— EI..! ESPERA! CACHORRINHO MAL, SENTA! — Tentou se proteger quando Chuuya subiu em cima de si e começou a enforcá-lo.
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Suas cicatrizes - Soukoku
FanfictionChuuya mal acreditou no que viu com os seus próprios olhos, de repente, todo o ódio que estava sentindo e a enorme vontade de chutar Dazai foi substituída por uma sensação que jamais jurou sentir relacionada a Osamu Dazai. Chuuya sentiu medo. . . . ...