O corpo

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Se passaram dois dias desde aquilo, é devastador pensar na forma em que minha irmã foi deixada ali, como se não fosse nada. Os médicos legistas falaram que foi algum animal que fez isso, obviamente não acreditei, é só que... é tão dificil pensar que ela se foi, mesmo não tendo uma grande relação e intimidade com ela isso ainda me afetou, e principalmente ter visto ela boiando foi uma surpresa e tanto.

Pra contextualizar eu sou a Kalia, moro em uma pequena cidade no interior da Itália e tem dois dias desde que eu e alguns outros moradores estávamos fazendo uma caminhada, coisa de vila pequena entre os residentes que se conhecem a vida toda, e de repente acabamos indo em direção a um pequeno rio, ai acabamos vendo o corpo da minha irmã boiando, ninguém sabia que ela estava na cidade e certamente todos se tornaram suspeitos desde que nós achamos ela naquela situação. Alguns policiais e políticos chegaram e tiveram de fechar a cidade para tentarem descobrir o que aconteceu, eu certamente fui taxada como suspeita mesmo ela sendo minha irmã, e isso me irrita um pouco mas significa que pelo menos estão levando a sério.

Já está de noite, e é a única coisa que habita em minha mente, como sou a única parente que mora na cidade do corpo as informações só chegam até mim e até agora não chegou nenhuma informação, mas a cada vez que eu olho para a minha janela eu consigo ver os policiais entrando e saindo da cidade, alguns são os mesmos mas as vezes muda.

De repente ouço a campainha tocar.

- Entrega para você Ka! - Minha amiga Alex grita da sala, ela veio me dar apoio moral e me ajudar com algumas encomendas que tenho acumuladas, não como se ela soubesse costurar ou embalar, mas pelo menos a sua companhia me ajuda a não enlouquecer.

- Estou indo! - Abro a porta e vejo o mesmo entregador de sempre, Raul, ele tem um cabelo grisalho que se contrasta com a sua pele negra, e pelo que eu saiba é o único entregador daqui.

- Boa noite Srta. Ricchi, entrega pra você, já sabe aonde assinar. - A voz dele ecoa na sala e dessa vez está mais calma e vazia do que geralmente, deve ser sua forma de expressar o luto.

- Tenha uma boa noite Sr. Raul! - Falo enquanto fecho a porta com a caixa na mão e lanço um leve sorriso de canto, sabe? Só para mostrar que tá tudo tranquilo e não estou perdendo a cabeça.

Vou andando com a caixa em direção a minha salinha de costura, que é onde faço a roupa da maioria dos moradores da vila e que se tornou um local confortável com o passar do tempo, coloco-a na mesa e abro, dentro tem um lindo tecido de flores em tons esverdeados que comprei para fazer alguns vestidos e camisetas.

- Ka, vem comer, fiz macarrão pra gente.

Falo que estou indo enquanto arrumo alguns utensílios de costura que estão jogados pela sala, eu acabei tendo um mini surto no dia que vi minha irmã e acabei destruindo uma grande parte dessa sala e do meu quarto, certamente não foi a decisão correta e eu sem querer quebrei alguns objetos caros, mas tenho motivo.

Após o jantar eu tomo banho, crio coragem para cuidar do meu cabelo cacheado que está sem finalização e hidratação desde aquele dia, dou boa noite para Alex e deito para tentar pegar no sono, observo as estrelas pela minha janela e, não querendo me gabar, mas eu sempre fui incrível em astronomia, fico procurando por algumas constelações e galáxias enquanto tento dormir, as vezes a visão que tive da minha irmã vem na minha mente, não fico muito feliz com isso então ligo meu celular para tentar ver algo novo acontecendo.

Algumas notificações chegam para mim, elas são normalmente sobre notícias de guerra ou o filho gay de tal celebridade, nada novo ou tão feliz, então a única coisa que me resta é selecionar minha playlist de músicas calmas, colocar meus fones, e me dopar para dormir.

Vermelho sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora