May Kurayami
Em momentos oportunos, eu realmente fico aliviada em ser tão organizada. Nunca perco minhas coisas, sempre tenho controle sobre tudo. Mas, em alguns momentos isso é um como um castigo. Estou desde às cinco da tarde arrumando minhas malas e não consigo encontrar padrões nas roupas que me deixem satisfeita. Meu toc é absurdo e minha mania de organização consegue tirar a paciência até de mim mesma, mesmo que eu ainda ache o ato satisfatório.
Decido por final, organizar as roupas de acordo com suas cores e o tipo das peças. Suspiro em alívio quando vejo que finalmente consegui acabar de arrumar todas as malas. Coloco elas bem ao lado da minha cama. Estava ansiosa pro dia de amanhã, bem cedo eu iria pegar meu vôo para os Estados Unidos, sinto como se fosse uma nova fase da minha vida mas não sei o que me aguarda. Essa era a oportunidade que eu sempre procurei desde que concluí a faculdade, finalmente sinto que depois de anos de esforço e estudos vou conseguir meus sonhos profissionais. E também, é uma ótima oportunidade para que eu consiga deixar de lado meu passado, e principalmente, as pessoas que foram culpadas por ele.
Escuto barulhos na escada e consigo saber que pelos passos, é minha mãe e logo ela entrará no meu quarto. Em menos de um minuto, ela bate na porta e não espera eu dizer se pode ou não entrar logo aparecendo na minha frente.
— Está com todas as suas coisas prontas? – Perguntou com a voz firme em seu japonês impecável.
Minha mãe e eu não costumávamos usar outra línguagem em nossas conversas, apenas quando meu pai estava por perto. Era como regra dele saber de tudo o que falávamos e como um americano que nunca se interessou em aprender a língua do país onde mora, minha mãe teve que aprender o idioma e eu fui criada com as duas línguas.
— Sim, estou. A senhora decidiu se vai me acompanhar até o aeroporto amanhã? – Perguntei na esperança de que ela dissesse que sim, mas quando sua resposta veio eu já esperava.
— Não. Seu pai e eu não vamos entrar no seu jogo, May. Sabemos pra onde você vai voltar quando sua teimosia e seus recursos acabarem. – Respirei fundo sem a mínima vontade de continuar essa conversa.
— Eu irei para qualquer lugar, mãe. Mas nunca mais volto a pisar aqui. A senhora viria comigo se tivesse um pouco mais de lucidez.
Ela apertou os olhos em minha direção me olhando com uma expressão furiosa. Eu sabia o quanto ela odiava que eu falasse o quão sem noção ela era pelo meu pai, minha mãe sempre fez tudo pra ele e por ele. Colocando ele até mesmo acima de sua própria filha quando o assunto era ser sua prioridade. Mas não a culpo. Quando não se tem nada, até o pouco oferecido torna-se muito.
— Seu pai sabe que está tentando fugir dele, isso não vai durar muito.
Olhei para a mulher que me criou reparando em suas características, as mesmas que nos tornavam tão parecidas mas ao mesmo tempo tão diferentes. Eu não sentia decepção por ela não ter sido a mãe que quando criança desejava ter, mas eu sentia decepção por tão medíocre que ela conseguia ser apenas em troca de afeto.
— Qualquer pessoa no meu lugar faria o mesmo, já tivemos essa conversa outras vezes e a senhora sabe que não vai conseguir me fazer mudar de idéia ou me fazer desistir do meu objetivo. Se foi pra isso que veio ao meu quarto, por favor saia, meu vôo é cedo e eu tenho que descansar.
Minha mãe hesitou um minuto antes de sair, ela me olhou com o mesmo olhar indecifrável de sempre e depois saiu batendo a porta atrás de si. Me deitei na minha cama pela última vez e eu estava feliz por isso. Aquela cama, aquele cheiro, aquela casa, tudo me trazia sensações e memórias ruins, não seria um problema pra mim abandonar tudo aquilo, pelo ao contrário, seria a coisa mais fácil que já fiz na vida.
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Império de Sangue [DARK ROMANCE]
RomanceAs pessoas costumam falar que é loucura querer um trabalho como esse ou dizem que eu só posso ser tão louca quanto meus pacientes, mas na verdade você não precisa se esforçar muito pra entender que nem todo mundo que tá preso no D.B Mendenhall tem...