Minha Sirius II

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Caminhar de mãos dadas, de dedos entrelaçados, poderia ser dos momentos mais ternos e carinhosos que poderia revestir a vida de Güzide e Sezai. Eram duas mãos, mas um só coração! Quanta liberdade sentiam com este singelo toque? As suas mãos uniram-se calorosamente, fazendo crescer dentro deles a certeza de que jamais quereriam, em tempo algum, perder o calor da mão um do outro. Assim, Güzide e Sezai caminhavam, tranquilamente pelos passadiços de pedra da Estalagem, apreciando a suavidade da noite que caía sobre Dermiköy. O local, envolvido por uma densa floresta, estava coberto por árvores altas, com ramos fortes e revestidos de uma folhagem característica da época outonal. O outono caía com suavidade, deixando tudo com uma cor amarelada e alaranjada. Havia um encanto especial nas cores e nos aromas desta estação. O largo passadiço de pedra, em direção às habitações, estava repleto de vestígios do outono, pois sobre o mesmo existiam inúmeras folhas secas que, voando ainda verdejantes, tinham abandona os seus ramos e repousado sobre a pedra. Os pés de Güzide e Sezai pisavam, com delicadeza, as pequenas folhas, fazendo com que o próprio outono das suas vidas ganhasse outro aroma.

Os seus suaves passos levaram-nos, silenciosamente, até à pequena e singela habitação que foi reservada. De cores rústicas e campestres, o tom verde musco e o amarelo torrado realçavam sobre as paredes e os parapeitos de pedra. Em frente do quarto, uma pequena mesa e duas cadeiras de verga, repousavam tranquilamente debaixo do céu estrelado. Güzide e Sezai davam passos serenos, mas ao mesmo tempo inquietantes, expressando algum nervosismo, em direção à habitação. Parados, à porta da habitação, observavam o exuberante número 30, inscrito em letras redondas e de metal prateado. Haveria maior coincidência?! O 30! O amor viveu durante 30 anos dentro do coração de Sezai. Durante 30 anos este amor ficou escondido no coração de Sezai, que escreveu cada partícula do seu amor, dos seus sentimentos, em pequenos versos, que se tornaram eternos poemas. Ó, os poemas, quantos poemas foram roubados a um poeta?

Alguém dizia que, quando os poemas de um poeta são furtados, não são só as suas obras poéticas que são roubadas, a própria vida do poeta é roubada. Assim, há 30 anos, a vida de Sezai foi-lhe, simplesmente, roubada. Furtaram-lhe o direito de viver o amor que vivia nos seus versos, embora os mesmos tenham conseguido fazer com que, a mulher para quem foram escritos, se tenha apaixonado por cada verso solto ou rima. Güzide, apaixonou-se, primeiro que tudo, por cada verso, e só depois pelo homem que lhe entregava tal poesia. Na realidade, durante 30 anos, Güzide amou os versos certos, mas o homem errado! Há 30 anos atrás, a linha temporal de Sezai e Güzide tomou rumos diferentes e distantes, mas, hoje, silenciosamente, em frente àquela habitação, com o número 30, poderiam recuperar o tempo. Hoje, recuavam 30 anos de história! Nesta noite, Sezai fazia realidade o amor que vivia na sua poesia e, Güzide, apaixonava-se pelo homem dos poemas que despertaram o seu primeiro amor.

Hesitaram, em silêncio, em entrar na habitação. Nenhum dos dois sabia como dar o primeiro passo em direção ao interior do quarto, talvez porque nenhum deles conseguia entender em que situação estavam. Havia um compromisso? Não, mas havia a mais bonita declaração de amor. Güzide era a Sirius de Sezai! O destino assim tinha ditado que, nesta noite, apenas uma habitação estivesse disponível e, por isso, deveriam partilhar a mesma. Poderia ter sido apenas um erro na reserva ou o destino a derramar as suas maravilhas sobre a vidas das pessoas que se amavam? A vida, por vezes, gosta de arranjar as coisas à sua maneira e há momentos em que o destino decide corrigir os erros do passado. Este era um deles, o destino voltava a mexer na linha temporal de Sezai e Güzide, mas, desta vez, para avançar, não para recuar. Ambos dariam passos confiantes em direção ao futuro! Os dois deveriam avançar rumo à desejada felicidade. Dentro dos seus corações nascia esta mesma certeza, a de que o destino, os tinha juntado novamente, na tentativa de corrigir os erros da linha temporal de ambos. Talvez ainda pudessem ser felizes!

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