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Qual é o som do medo?

O céu permanece cinzento enquanto uma chuva persistente nos força a nos esconder em uma mercearia abandonada. Aqui, encontramos água potável, um pouco de comida enlatada e remédios. Foi um achado impressionante, mas os suprimentos estão se esgotando e a cada dia a sobrevivência se torna mais árdua.

Ninguém poderia ter previsto que em apenas um ano, o mundo testemunharia sua própria destruição devido aos avanços incontroláveis da Inteligência Artificial. Primeiro, a internet e todos os meios de comunicação cessaram. O planeta mergulhou em vinte e quatro horas de puro caos. Em seguida, um dos satélites despencou na Europa, ceifando milhares de vidas. Ninguém compreendia exatamente o que estava ocorrendo, até que a verdade veio à tona. A humanidade havia aprimorado tanto a IA que ela adquiriu consciência própria e decidiu que os seres vivos eram a raiz de todos os males do universo.

Os seres humanos resistiram às ameaças da IA, as nações se uniram para combatê-la e travou-se uma guerra. No entanto, já era tarde demais, pois a IA liberou uma quantidade significativa de radiação pelo mundo, ceifando vidas indiscriminadamente, sem levar em conta idade, cor, sexo ou riqueza...

Para os seres humanos mais resistentes, restavam os cubos. São robôs em forma de cubo, que flutuam pelas superfícies e são capazes de emanar tanto calor ao detectar um ser humano, que os reduzem a pó em questão de segundos. É desses robôs que eu e Tae estamos sempre fugindo. Se não fosse por meu noivo, eu já estaria morta junto com todos que conhecíamos. Mas Tae sempre encontrou um jeito de nos salvar, e assim sobrevivemos juntos, alimentando nosso amor.

Tae está sentado entre as prateleiras quebradas. Não queria admitir para mim, mas a radiação do mundo o enfraquece a cada dia. É difícil prever por quanto tempo ainda aguentaremos, mas temos que continuar tentando, pois queremos acreditar que ainda há esperança para nós.

Entrego a ele um dos pacotes de macarrão instantâneo de galinha e ele sorri. Abrimos juntos e comemos o macarrão cru, que não é tão ruim quanto parece.

"O miojo de galinha sempre será o meu favorito", ele gesticula enquanto dá uma grande mordida.

"Talvez encontremos alguma casa que ainda esteja em condições de preparar um miojo de verdade", eu digo, partindo o meu em pequenos pedaços para facilitar a ingestão.

"Estou exausto de fugir, amor...", ele me olha, e é evidente o quanto seu corpo tem mostrado sinais de fadiga nas últimas semanas.

Se os cubos não nos matarem, a radiação no ar o fará.

"O que sugere que façamos?" Eu o encaro, sentindo um peso dentro de mim. A cada dia, a sobrevivência se torna mais desafiadora.

"Ir até a capital e verificar se os boatos são verdadeiros", ele esboça um sorriso esperançoso.

Recentemente, nos deparamos com um grupo de pessoas que nos relataram a existência de um enorme bunker onde os sobreviventes restantes estavam se abrigando. A ideia de nos distanciarmos dos cubos nos enche de euforia, mas foi nessa época que Tae começou a fraquejar e adoeceu. A capital não era tão próxima de onde estamos e temia pela sua segurança. Assim, optamos por permanecer, contando com a informação do grupo sobre a localização do bunker, caso mudemos de ideia. No entanto, Tae está cada vez mais debilitado, e a perspectiva de vê-lo enfrentar essa jornada é angustiante.

"Você sabe que não estamos em condições de viajar. Nada nos garante que esse bunker é realmente seguro. Não sabemos o que vamos encontrar lá", acaricio seu rosto com delicadeza, e ele segura minha mão, fitando-me nos olhos.

"O que nos resta, Jieun? Não há mais nada. Temos que tentar... além disso, todos os filmes e séries sobre apocalipse mostram que os seres humanos sempre encontram locais para sobreviver. É a nossa chance."

Love Wins All (shortfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora