~~~~~~~~~~ ○ A vingança ○ ~~~~~~~~~~~
INGLATERRA, 1958
O céu azul claro estava riscado pelas primeiras linhas de laranja, o sol já baixava no horizonte e o frio começava a penetrar pelas imensas janelas quando a carruagem do duque Paxton entrou na propriedade dos Canterburry.
Charles primeiro foi anunciado, e o anfitrião, que já estava sentado em sua poltrona na
sala de fumar, com um charuto fumegando entre os dedos e uma taça pequena com licor sobre a mesinha de mogno lustrado, apenas meneou a cabeça, assentindo sua aproximação.— Você tem bastante coragem para vir aqui — o olhar frio do duque de Canterburry fez
com que Charles Paxton respirasse com esforço, começando a suar.— Desmond, o que deu em você hoje?
— O que deu em mim? — a voz soou entrecortada de raiva.
A troca de olhares era dura. Paxton esperava que o velho Coucex, ou duque de Canterburry, recuperasse o juízo, quem sabe se desculpasse e ambos voltassem às negociações e tramas que impulsionavam o parlamento às decisões que mais enriqueciam suas famílias.
— Pelo amor de Deus, homem, tínhamos um acordo de cavalheiros.
— Que você jogou fora ao tentar abalar a honra da minha esposa.
— Mas eu apenas me preocupei com você, um escândalo teria sido desastroso para o seu
bom nome.— Você estava tentando me humilhar publicamente...
—Tentar? — Charles explodiu. — Ela mesma fez isso, encontrando-se às escondidas
com um qualquer.— Como você ousa macular a reputação de uma dama tão exemplar? — Desmond Coucex estava à beira de um ataque. — E pior, como eu pude acreditar em tão vil criatura?
— Na certa você não viu pessoalmente, por isso ainda questiona a veracidade do que digo. Fui apenas leal a um bom amigo, forneci ajuda em um momento terrível. E é assim que me retribui?
— Sabe o que é pior, Paxton? — Canterburry cuspiu as palavras com repugnância. — É que eu acreditei, duvidei da honra de Elizabeth para descobrir que, além de insultá-la, você ainda a confundiu com uma maldita criada.
— Não é possível, tenho certeza do que vi. E porque você iria querer que eu averiguasse
tais fatos se já não tivesse suspeitas?— Você só pode estar louco!
Os dois berravam.
— Eu, louco? Você é um maldito velho arrogante, que se vê acima de tudo, pede-me para ajudá-lo e agora me acusa... Mas não deixarei isso assim, você não perde por esperar.
— Você está me ameaçando?
— Vou fazer o que já deveria ter feito há muito tempo: expor suas jogadas, seus acordos e tudo o mais que me lembrar. Seu nome estará na lama e nem será por culpa da coitada com quem se casou.
— Você não ousaria.
— Tem alguma dúvida?
— Seu maldito! — O duque de Canterburry gritou no exato momento em que apanhou
uma pequena réplica da Vênus de Milo do batente da janela. Num rompante, usou a estatueta maciça e bateu com força na cabeça de Paxton, que surpreso, cambaleou.Antes que Charles pudesse reagir, outro baque soou seco. Desmond golpeou-o mais três vezes, até que seu corpo caísse inerte e completamente sem vida.
Não demorou muito para uma poça de sangue começar a se formar ao lado da cabeça do duque de Paxton, que já não mais respirava. Uma criada que entrava na sala de fumar carregando uma bandeja de chá, assustou-se com a visão do morto, derrubando tudo e gritando.
— Cale a boca, sua infeliz, vá chamar Saul e mais um lacaio.
Tremendo, a garota disparou porta a fora.
Retornou minutos depois, acompanhada do
capataz e de um lacaio magro e silencioso.— O senhor me chamou, Vossa Graça? — o homem reverenciou.
— Pare com essas bobagens, não temos tempo para isso. Preciso que você dê um fim nesse
porco imundo. Ninguém pode saber o que aconteceu aqui. Vocês ouviram?Todos assentiram.
— Thomaz, me ajude aqui — o capataz falou para o garoto, que passou rapidamente pelo
duque e começou a puxar o corpo morto de Charles Paxton pai, o primeiro inimigo de Taehyung a cair.Jordy, a criada, correu para o quarto de lady Elizabeth e despencou no tapete, chorando,
soluçando e narrando a cena que vira.— Estou com medo, vossa graça, o duque pode querer se livrar de mim.
— Eu vou proteger você, Jordy, assim como vocês me protegem desse monstro. Escute
bem, nunca mais fale nada a respeito disso e passe o máximo de tempo longe das vistas do duque, vamos esperar que ele esqueça de você.— E se ele não esquecer do que vi?
A jovem duquesa suspirou profundamente e pegou a mão da criada com carinho.
— Homens como ele menosprezam a inteligência das mulheres, se você for esperta, ele não se dará ao trabalho de tentar nada contra você. Mas escute bem, ninguém pode saber de nada.
— Ninguém vai, eu juro. E juro mais uma coisa, minha senhora, serei grata pra sempre por ter a senhora aqui pra me proteger, devo minha vida e pode contar que lembrarei disso pra sempre.
— Então, a partir de agora somos mais do que senhora e criada, somos amigas e aliadas e
vamos nos livrar do perigo juntas.O silêncio tomou conta do resto da casa.
Nunca mais ninguém ousaria mencionar o nome do morto dentro da propriedade Canterburry. E agora o destino estava traçado. A jovem duquesa iria até o fim com o plano de sobreviver ao monstro que chamavam de marido, nem que para isso
precisasse matá-lo.