Episódio 26

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~~~~~~~~~~ ○ A vingança ○ ~~~~~~~~~~~

INGLATERRA, 1958

O céu azul claro estava riscado pelas primeiras linhas de laranja, o sol já baixava no horizonte e o frio começava a penetrar pelas imensas janelas quando a carruagem do duque Paxton entrou na propriedade dos Canterburry.

Charles primeiro foi anunciado, e o anfitrião, que já estava sentado em sua poltrona na
sala de fumar, com um charuto fumegando entre os dedos e uma taça pequena com licor sobre a mesinha de mogno lustrado, apenas meneou a cabeça, assentindo sua aproximação.

— Você tem bastante coragem para vir aqui — o olhar frio do duque de Canterburry fez
com que Charles Paxton respirasse com esforço, começando a suar.

— Desmond, o que deu em você hoje?

— O que deu em mim? — a voz soou entrecortada de raiva.

A troca de olhares era dura. Paxton esperava que o velho Coucex, ou duque de Canterburry, recuperasse o juízo, quem sabe se desculpasse e ambos voltassem às negociações e tramas que impulsionavam o parlamento às decisões que mais enriqueciam suas famílias.

— Pelo amor de Deus, homem, tínhamos um acordo de cavalheiros.

— Que você jogou fora ao tentar abalar a honra da minha esposa.

— Mas eu apenas me preocupei com você, um escândalo teria sido desastroso para o seu
bom nome.

— Você estava tentando me humilhar publicamente...

—Tentar? — Charles explodiu. — Ela mesma fez isso, encontrando-se às escondidas
com um qualquer.

— Como você ousa macular a reputação de uma dama tão exemplar? — Desmond Coucex estava à beira de um ataque. — E pior, como eu pude acreditar em tão vil criatura?

— Na certa você não viu pessoalmente, por isso ainda questiona a veracidade do que digo. Fui apenas leal a um bom amigo, forneci ajuda em um momento terrível. E é assim que me retribui?

— Sabe o que é pior, Paxton? — Canterburry cuspiu as palavras com repugnância. — É que eu acreditei, duvidei da honra de Elizabeth para descobrir que, além de insultá-la, você ainda a confundiu com uma maldita criada.

— Não é possível, tenho certeza do que vi. E porque você iria querer que eu averiguasse
tais fatos se já não tivesse suspeitas?

— Você só pode estar louco!

Os dois berravam.

— Eu, louco? Você é um maldito velho arrogante, que se vê acima de tudo, pede-me para ajudá-lo e agora me acusa... Mas não deixarei isso assim, você não perde por esperar.

— Você está me ameaçando?

— Vou fazer o que já deveria ter feito há muito tempo: expor suas jogadas, seus acordos e tudo o mais que me lembrar. Seu nome estará na lama e nem será por culpa da coitada com quem se casou.

— Você não ousaria.

— Tem alguma dúvida?

— Seu maldito! — O duque de Canterburry gritou no exato momento em que apanhou
uma pequena réplica da Vênus de Milo do batente da janela. Num rompante, usou a estatueta maciça e bateu com força na cabeça de Paxton, que surpreso, cambaleou.

Antes que Charles pudesse reagir, outro baque soou seco. Desmond golpeou-o mais três vezes, até que seu corpo caísse inerte e completamente sem vida.

Não demorou muito para uma poça de sangue começar a se formar ao lado da cabeça do duque de Paxton, que já não mais respirava. Uma criada que entrava na sala de fumar carregando uma bandeja de chá, assustou-se com a visão do morto, derrubando tudo e gritando.

— Cale a boca, sua infeliz, vá chamar Saul e mais um lacaio.

Tremendo, a garota disparou porta a fora.

Retornou minutos depois, acompanhada do
capataz e de um lacaio magro e silencioso.

— O senhor me chamou, Vossa Graça? — o homem reverenciou.

— Pare com essas bobagens, não temos tempo para isso. Preciso que você dê um fim nesse
porco imundo. Ninguém pode saber o que aconteceu aqui. Vocês ouviram?

Todos assentiram.

— Thomaz, me ajude aqui — o capataz falou para o garoto, que passou rapidamente pelo
duque e começou a puxar o corpo morto de Charles Paxton pai, o primeiro inimigo de Taehyung a cair.

Jordy, a criada, correu para o quarto de lady Elizabeth e despencou no tapete, chorando,
soluçando e narrando a cena que vira.

— Estou com medo, vossa graça, o duque pode querer se livrar de mim.

— Eu vou proteger você, Jordy, assim como vocês me protegem desse monstro. Escute
bem, nunca mais fale nada a respeito disso e passe o máximo de tempo longe das vistas do duque, vamos esperar que ele esqueça de você.

— E se ele não esquecer do que vi?

A jovem duquesa suspirou profundamente e pegou a mão da criada com carinho.

— Homens como ele menosprezam a inteligência das mulheres, se você for esperta, ele não se dará ao trabalho de tentar nada contra você. Mas escute bem, ninguém pode saber de nada.

— Ninguém vai, eu juro. E juro mais uma coisa, minha senhora, serei grata pra sempre por ter a senhora aqui pra me proteger, devo minha vida e pode contar que lembrarei disso pra sempre.

— Então, a partir de agora somos mais do que senhora e criada, somos amigas e aliadas e
vamos nos livrar do perigo juntas.

O silêncio tomou conta do resto da casa.

Nunca mais ninguém ousaria mencionar o nome do morto dentro da propriedade Canterburry. E agora o destino estava traçado. A jovem duquesa iria até o fim com o plano de sobreviver ao monstro que chamavam de marido, nem que para isso
precisasse matá-lo.

Um conde selvagem - TaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora