Henrique

1 0 0
                                    

🌑

De novo briguei com meu pai, e desta vez a marca dos murros ficaram na geladeira, meu pai destruiu qualquer objeto que viu enquanto andava até a saída de casa. Minha mãe começou a colar fotos da família e lembretes na geladeira para cobrir as marcas, o medo dela era de que as empregadas vissem.
        Quando coisas frustrantes assim acontecem eu costumo sair de casa, eu ainda não tenho controle emocional mas estou trabalhando nisso. Ser Uber foge totalmente da minha realidade, do meu universo, do meu normal e de certa forma era bom.
Eu poderia simplesmente dirigir até cansar, mas porque não ganhar dinheiro enquanto faço algo assim?
       Já era muito tarde e eu não poderia ficar em casa com ele, de jeito nenhum. Então fui trabalhar nas ruas mesmo sabendo que naquele horário ninguém pedia, e nenhum motorista aceitava mas por algum motivo alguém pediu e eu aceitei, aceitei porque era alguém que estava no restaurante do meu avô.
         Ao chegar lá vejo uma garota que aparentava ter seus 17 anos, sozinha, fechando o prédio enquanto falava com alguém no telefone. Era uma garota bonita, ela tinha olheiras marcadas, e olhos vermelhos e por um momento eu fiquei preocupado mas também fiquei empolgado ao ver que ela era brasileira.  A não ser a minha família eu não conhecia outra pessoa brasileira e isso de certa forma despertou uma curiosidade em mim.
         Ela falava como eu sou bonito, ria no telefone com a amiga, falava como não gostava do trabalho e achava que eu não entendia português. Foi hilário ver ela correr ao descobrir que eu era brasileiro, melhorou a minha noite.
        Se marcavam 02:00am quando eu voltei para casa, eu estava decidido de ter meu próprio apartamento. Eu já trabalhava e recebia um valor que me garantia uma estabilidade financeira, ser administrador da empresa do meu avô da parte financeira me permitia isso.

☀️

        Dormir? Quem dormia era a bela adormecida, e eu a invejava, invejava muito! Quem me dera poder dormir tanto, se dependesse de mim nem príncipe apareceria para me "acordar". Se eu estivesse em um conto de fadas com toda certeza seria a Cinderela, eram 05:00am e eu estava limpando o vômito do meu pai que já havia acordado 4x seguidas no meio da madrugada me permitindo dormir apenas 1 horas.
       Chego na escola com olheiras marcadas enquanto tentava arrumar os fios rebeldes do meu cabelo longo cacheado, até que sou surpreendida por mais uma das brincadeiras do meu melhor amigo.

— Bom dia bruxa, tá pior do que ontem. Você deve usar um feitiço pra ser tão horrenda assim. -Gabriel fala colocando o braço ao redor do meu pescoço enquanto me puxava-

         Isso era típico dele. Eu odiava abraços e qualquer tipo de contato físico, eu sempre odiei. Gabriel já fazia isso para me irritar e me assustar, e sempre funcionava.

— Ai Gabriel, não enche. -falo tirando o braço dele que rodeava o meu pescoço enquanto ele ria- Não tô legal hoje. -falo abrindo a porta do meu armário-

— O que aconteceu Sophi? -Gabriel fala com um tom levemente preocupado desfazendo o sorriso-

— Eu tô exausta Gabriel, exausta. -dizia enquanto colocava os livros com pressa na mochila- Eu nem dormi essa noite.

— Eles fizeram de novo?? -Gabriel se aproxima do armário enquanto me olhava-

        Diferente de mim Gabriel era rico, muito rico. Nos conhecemos em um trabalho de história e percebemos que tínhamos muito em comum, gostos parecidos, e eu ajudava ele a estudar. Com o passar dos anos ficávamos cada vez mais próximos, eu podia ser eu mesma e ser sincera em relação a minha realidade. O Avô dele era dono do restaurante mais prestigiado do país e quando eu precisava de dinheiro Gabriel conseguiu convencer seu avô a me contratar. Eu sou fluente em português,inglês,espanhol,italiano e francês, sou inteligente, educada e esforçada e o Sr.Floitter (avô de Gabriel) gostava de mim por isso.
         Em grandes eventos eu sempre era escalada para estar presente, quando a família do Sr.Floitter ia ao restaurante eu era convocada pelo próprio presidente para atende-los, além de sempre atender Gabriel. Isso fazia meus colegas de trabalho terem certa resistência comigo, eu com apenas 17 anos e poucos meses de trabalho era a favorita e me destacava mais do que os que já trabalhavam lá a anos.

— Sophia, responde! Eles fizeram isso de novo? -Gabriel fala com um voz mais firme enquanto chacoalhava meu braço-

— Sim Gabriel, eles fizeram. Fiquei até 01:10am no restaurante e ainda tive que cuidar do meu pai que passou mal a madrugada inteira. -falei batendo a porta do armário com força enquanto segurava o choro-

— Eu achei que esse problema tivesse acabado. Não é justo todos os funcionários deixarem apenas você para guardar todos os talheres, taças e fechar o restaurante.... eu falei com meu avô mas falarei novamente.

— Tá tudo bem, não precisa, eles só vão me odiar mais. -falo me acalmando-

— Eu vou hoje para o restaurante e vou ficar lá até você sair comigo. -Gabriel fala novamente rodeando meu pescoço com o braço-

🌑

         O prédio do meu avô era divido em 3 andares, o  primeiro andar que ficava o restaurante, o segundo que ficava o escritório que administrava o prédio e os outros restaurantes, e a cobertura que era um bar de jazz. Eu não costumava passar pelo restaurante n

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Sep 26 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O uberWhere stories live. Discover now