31 de Outubro de 1982
"Venha já aqui, seu ladrãozinho!" Gritava o padeiro com as mãos pesadas em punho. Eu não sou um garoto... Pensei correndo com todas as minhas forças, com o pedaço de pão sendo segurado firmemente por minhas pequenas mãos.
Minhas pernas eram foguetes e eu conseguia sentir meu suor escorrendo por meu rosto. O pedaço de pão que eu segurava caía e eu tentava mantê-lo comigo. As pessoas na rua olhavam para mim como se fosse uma aberração, apontando para o tapa-olho que usava no olho direito.
Vejo uma loja que parecia aberta e entro na mesma, fazendo com que o alimento que segurava escorregasse. Suspiro e vejo que estava em um ambiente assustador. Haviam caixões em todas os cantos. Velas bruxuleavam iluminando o local com uma luz pálida. Tateio a porta atrás de mim tentando encontrar a maçaneta. Ouço uma risada assustadora e vejo uma figura de longos cabelos prateados se aproximar.
"Olá, minha jovem cliente. Veio procurar um de meus caixões feitos sob medida? Ou veio para o chá da tarde?" Perguntou a figura com um sorriso enorme nos lábios.
"E-E-Eu vim parar aqui sem querer... D-D-Desculpe..." Falo recuando para a porta fechada. Ele se aproxima de mim e segura as minhas mãos, me puxando até um caixão fechado e me colocando sentada nele.
"Parece faminta. Irei trazer um chá." Disse ele entre risos, indo até a porta dos fundos da loja. Ele é louco? Pelo menos não me confundiu com um menino... Penso balançando minhas pernas no caixão que parecia alto para mim, com meus seis anos de idade.
Olho para a porta dos fundos por alguns minutos, estranhando a demora do homem.
"Aqui está, jovem senhorita." Riu ele em minhas costas. Dei um pequeno salto, assustada, vendo o homem aparecer em minha frente. "Chá de canela, com alguns cubos de açúcar." Ele disse me entregando uma xícara um pouco quebrada.
"Quer biscoitos?"
"C-Claro..." Falo bebendo um pouco do chá. Ele estende um pote de biscoitos em forma de ossos e eu pego um deles, mordendo um pedaço. "S-São deliciosos." Estendo minha mão para pegar outro, mas ele encolhe o pote balançando a cabeça.
"Primeiro me faça rir." Sorriu ele me olhando. Agora era possível ver claramente seu rosto. Ele tinha uma franja que tampava seus olhos e cicatrizes em seu rosto.
"Como você enxerga com essa franja longa?" Pergunto bebendo um pouco de chá, erguendo a sobrancelha. Ele ri assustadoramente e estende os biscoitos para mim. "Você fica tão engraçada quando está curiosa. Eu enxergo perfeitamente bem, assim como você." Ele diz com um largo sorriso. Pego mais alguns biscoitos e como-os lentamente.
"Eu sou o Undertaker. Qual é seu nome, garotinha?"
"A-Annelyse LeBlank..." Respondo bebendo o resto do chá.
"LeBlank... Me lembro de um casal com esse sobrenome. Ah... Sinto muito, garotinha." Disse ele sem deixar de sorrir. Dei um leve sorriso e coloquei a xícara no caixão. "Acho que está precisando de abrigo... O que acha de trabalhar aqui?"
"Eu... Eu adoraria." Sorri balançando minhas pernas no caixão. "Eu posso morar aqui?" Perguntei com um sorriso.
"Com certeza!" Riu ele, tocando o tapa-olho em meu rosto. "Mas apenas se me deixar ver o que há embaixo disso."
Retirei o tapa-olho, revelando o olho cinza que contrastava com o azul elétrico. O sorriso de Undertaker aumentou e ele ergueu a franja, mostrando olhos verde-amarelados. Ele logo baixou a franja e colocou um dedo na frente dos lábios.
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Rosas e Ossos
Romance"Quando você morrer, não haverá mais nada além de tristeza... Todos se sentirão mal, mas logo te esquecerão. O que vai importar o que se fez em vida?" A agência funerária do Undertaker, um lugar assustador e sombrio, assim como seu dono. Apenas uma...