Capítulo 1 Aquarela

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Desde que eu me entendo por gente sempre gostei de ler, nos meus aniversários meus pais davam-me livros, dois livros em cada aniversário. Não só nos aniversários, mas também em cada mês. Como sou rápida nas minhas leituras, eu consigo ler três livros por mês. Quando completei 15 anos, ganhei um diário de capa azul. Era perfeito. Na semana seguinte comprei um caderno para fazer algumas anotações, pois eu quero ser uma escritora famosa. Meu pai é editor de livros numa respeitável editora de Londres, o nome dele é Josh Taylor e a minha mãe se chama Sophia Taylor.

Espera... eu ainda não me apresentei? Desculpe-me, meu nome é Ágata Taylor, tenho 20 anos e sou escritora. Quer dizer, estou engatinhando ainda nesse mundo da escrita. Tenho apenas um livro publicado, que se chama Aquarela. Isso te lembra de alguma coisa? Sim, foi inspirado na música do cantor brasileiro Toquinho. Quando fui para o Brasil com meus pais pela primeira vez, conheci uma menina que era filha de um escritor brasileiro e amigo do meu pai, essa menina canta sempre essa música. Não entendia muito português, mas achei o ritmo muito bonito. Esse amigo do meu pai traduziu para mim a letra da música e era muito linda. Tinha um estilo de infância, fantasia e sonhos.

— Eu adorei! — Disse eu em inglês, toda animada.

Ele passou para o meu celular o áudio da canção e eu passei o resto daquele dia ouvindo essa música e a viagem de volta para a casa, eu tinha 10 anos nessa época.

Com uns 12 ou 13 anos, eu comecei a escrever uma história inspirada nesta bela música. Como o meu pai trabalha na editora, ele analisou o meu original e mostrou ao seu editor-chefe. Ele adorou. Foi aí o meu primeiro contato com uma editora, é uma grande vantagem ser filha de um editor-executivo numa das editoras tradicionais. Depois de dois anos o meu primeiro livro foi publicado. Foi um momento mágico quando tive a minha primeira noite de autógrafos na feira de livros. Nunca vi tanta gente numa noite só!

Não posso me esquecer da minha melhor amiga Gemina. Ela é muito legal, gostamos de músicas, livros, filmes e séries. A gente se diverte muito nas tardes na minha casa ou na praça. Conversamos sobre tudo, e tudo mesmo. Ela está fazendo faculdade de psicologia. Será uma excelente psicóloga.

Todas as tardes eu vou para a Praça de Londres onde eu posso ler ou escrever sem nenhuma interrupção. Eu estava sentada em num banco lendo meu livro preferido: "A menina que roubava livros". Após ler alguns capítulos, me levantei para ir a lanchonete, ao encontro de. Gemina. Não prestei atenção às pessoas a minha volta, de repente, ouve alguém me chamando:

— Ágata... Ágata...

Virei-me para ver quem estava me chamando, aquela voz vinha de certo rapaz. Quando percebeu que estava olhando para ele confusa, ele falou:

— Perdão, eu estava falando com essa moça aqui.

Depois disso voltei ao meu caminho em direção a lanchonete. Gemina ainda não tinha chegado. Oba. Cheguei primeiro que ela. Sentei no nosso lugar preferido, não pedi nada ainda, resolvi esperar ela chegar para pedirmos alguma coisa. Fiquei observando as pessoas indo e vindo, a circular dos funcionários e pessoas dando gargalhadas à vontade. De repente entrou um grupo de amigos e entre eles estava aquele rapaz de horas atrás. Notei que ele carregava uma bag de violino nas costas.

— Querem que eu toque aquela música agora? — Disse ele. Não que eu tenha interesse em ouvir a conversa dos outros. Longe de mim. Mas eles conversavam tão alto que dava para ouvir a quilômetros.

— Agora? Aqui? — Pergunta uma de suas amigas.

— Por que não? — Fala o rapaz ao tirar o violino da bag.

Sem dizer mais nada, ele caminha até o centro e começa a tocar. Nas primeiras notas eu comecei a estremecer. Eu não acredito. Como ele conhece essa música? "Aquarela", a música que tem um gosto de infância.

Por essa eu não esperava. Todos da lanchonete olhavam-no admirados, parece que nunca viram tanto talento. Eu também não. Quando o pequeno concerto acabou, todos aplaudiram.

— Bravo!

— Bravíssimo!

Exclamaram a plateia. Foi lindo. Depois de agradecer, o rapaz voltou para o seu lugar. Vi que os seus amigos fizeram festa, até cantaram um pedaço da música em inglês. "Para essa música não existe idade! ", pensei comigo mesma. Pouco tempo depois chega a Gemina.

— Quanto tempo está aqui? — Pergunta ela ao sentar-se.

— O tempo suficiente. — Digo animada.

— Perdi alguma coisa? — Diz ela olhando para os lados.

— Um belo concerto. Um rapaz tocou violino ali no centro minutos atrás.

Gemina não gostou da ideia de ter perdido o espetáculo. Ela nunca foi para um concerto e nunca encontrou ninguém tocando violino na rua. Ela ficou lamentando e dizendo que sempre eu tenho sorte.

— Está exagerando.

— Não estou e você sabe disso. — Revirei os olhos. Ela estava exagerando sim.

— Vamos pedir alguma coisa logo antes que eu possa desmaiar de fome. Você demorou muito. — Disse eu.

Horas depois saímos da lanchonete e fomos passear um pouco no parque.

— Que livro é esse? — Gemina pergunta ao perceber o livro que eu estava carregando.

— Eu comprei no começo do mês passado. É a segunda vez que estou lendo ele — eu falei ao entregar o livro a ela.

— "A Menina que Roubava Livros". Interessante. —Exclamou. – Por que não me mostrou antes?

— Você estava viajando e ainda não tinha celular.

— Verdade. Mas diga, em que parte do livro você está agora?

— Acabei de ler o terceiro capítulo da Parte Um. —Respondi. — Vou entrar no quarto capítulo.

— Legal.

Depois, fomos para casa. Nós duas moramos na mesma rua, me despedi dela quando passamos na porta da sua casa e fui para a minha. Era 17h quando cheguei em casa.

— Nossa. Não tinha percebido que estava tarde.

Fui para o meu quarto, tomei um bom banho, vesti uma roupa confortada e deitei na minha cama. Exausta. Mas hoje foi um bom dia. Como qualquer outro. Adormeci com aquela música na minha cabeça.

Entre a Escrita e a SinfoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora