Cecília
Se a minha vida fosse uma série, eu não teria dúvidas em dizer que o Gustavo está presente em todas as temporadas, desde o dia em que nos conhecemos quando crianças até o fatídico dia que resolvemos que seria uma boa ideia nos envolver. Gustavo é aquele cara que além de muito bonito, tem uma simpatia e um carisma para dar e vender, deixando-o ainda mais bonito o que é um grande problema pra mim que me apaixonei desde a primeira vez que o vi, nos tornamos vizinhos logo depois de eu ter me apaixonado por ele na escola. Não sei se foi o cabelo comprido no melhor estilo Justin Bieber, ou as roupas extravagantes de vaqueiro, mas eu sei que me apaixonei e aí que os meus desastres começaram.
Quando eu beijei o Gustavo pela primeira vez eu não sabia que ele traria uma bagunça tão grande para minha vida, na verdade no mesmo dia transamos. Em minha defesa tínhamos acabado de sair de uma festa e estávamos mais bêbados que o normal, só aconteceu, imprevisível como nós dois sempre fomos. E eu não sabia que eu ainda tinha sentimentos por ele, sério! Eu só fui descobrir no dia seguinte quando ele quebrou meu coração com um simples post no facebook “Gustavo está em um relacionamento sério com...”, sinceramente não me lembro o nome da garota, estava focada demais em ouvir o barulho do meu coração partindo para tentar me recordar.
Depois de um tempo Gustavo e eu voltamos a nos encontrar nas festas do meu primo, já que eles eram melhores amigos, agora ele estava solteiro e eu queria me divertir, o que eu deveria fazer afinal? É óbvio que continuamos saindo e transando, apenas nossos amigos mais próximos sabiam de nós dois e eu adorava o segredo e fingir que nada daquilo estava acontecendo fora de um quarto escuro, ainda me lembro da sensação da bebida correndo pelo meu sangue e me deixando um pouco tonta, quando entravamos no quarto rindo e fingindo que não tinha mais ninguém em casa ou na festa que rolava do lado de fora, a sensação das mãos dele percorrendo meu corpo pra tirar a minha roupa, ou as minhas mãos apressadas em desabotoar sua calça, lembro das nossas línguas dançando enquanto nossas mãos se apressavam em tirar nossas roupas e quando ele me deitava na cama e logo depois deitava em cima de mim, os beijos molhados em meu pescoço. Lembro de como a música ficava tão abafada que parecia que não tinha nada além de nós dois no quarto escuro e lembro de quando saiamos e fingíamos que nada havia acontecido, como dois estranhos.
E lembro muito bem quando eu percebi que Gustavo estava começando a se apaixonar por mim, sua mão na minha perna por baixo da mesa na frente de todos os nossos amigos, não fingíamos mais que éramos um segredo, ele não fingia. E eu tinha medo, morávamos em cidades diferentes agora e ele já tinha traído uma garota comigo, eu não podia confiar. Eu lembro ainda do gosto que eu senti quando apareci em uma festa com outra pessoa, depois de meses ignorando-o, sem falar nada. Lembro da sensação de vazio quando ele saiu para buscar outra garota e quando fingimos que éramos só amigos e nada mais, quando fingimos que nossos corpos não se conheciam tão bem e que não sentiam tanta saudade do toque do outro.
Gustavo e eu não fomos feitos para ficarmos juntos, definitivamente, mas por que todas as vezes que estávamos solteiros corríamos um para o outro? Ainda não entendo o que temos que parece magnético, até tentamos ser só amigos, já apresentei amigas pra ele e ele já ficou com elas, já fiquei com amigos dele, mas no final da noite sempre acabamos um na cama do outro. Bom, até o dia que ele finalmente se declarou pra mim, depois de mais um término de relacionamento, quando ele admitiu gostar de mim, admitiu o ciúme e eu com toda coragem que me restava disse que podíamos tentar algo e ele com todo orgulho ferido disse que éramos só amigos. Amigos. Nada mais.
Eu ignoro Gustavo desde então, parei de seguir nas redes sociais, exclui o número, parei até de ir nas festas dos meus primos, evito ir na casa dos meus parentes para não encontrar com ele, evito tudo. E ele não fez nada para mudar isso e sei que nunca vai fazer, porque quando acabamos nos esbarrando sem querer tudo que ele tem a dizer é meu nome alto, em um cumprimento, meu nome que já soou como um sussurro saindo da boca dele, meu nome que já saiu como um prazer, hoje é só um cumprimento seguido de um sorriso e um aceno. Confesso que ainda não sei como me sinto sobre isso.
Na verdade, ignorava com sucesso, até hoje de manhã quando o vi no saguão do meu prédio e pra piorar ele carregava uma caixa grande e nela estava escrito “Frágil” em letras garrafais vermelhas, eu cheguei à conclusão que só podia ter feito muito mal a alguém em outra vida, de todos os prédios ele escolheu o meu, de todas as cidades a que eu morava. E isso ainda não era o pior, o pior foi quando eu descobri que ele não morava só no mesmo prédio, agora morávamos no mesmo corredor, novamente éramos vizinhos e que desastre maior eu poderia querer?
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Nossos erros
ChickLitCecília e Gustavo tinham uma longa história, se conheceram ainda quando eram crianças e a garota se apaixonou pelo garoto no mesmo momento que o viu, enquanto ele a fez de sua amiga até alguns anos depois. Os dois cometeram muitos erros durante a su...