Alícia Laspector
ERA madrugada de uma sexta. Eu estava em um hotel, era uma viajem que eu deveria estar fazendo com a minha mãe, porém ela resolveu morrer duas semanas antes da gente fazer a viagem.
"Eu não deveria ter vindo."
Esse pensamento passou por mim mais uma vez enquanto encaro o teto do hotel. Mas se eu tivesse desmarcado, minha mãe estaria decepcionada, onde quer que ela esteja.
Eu não gostava muito de Ribeirão, porém ela amava. Eu sei lá o que caralhos ela gostava daqui. Ela dizia que gostava da Casa da Memória Italiana. Porém, quem gosta disso?"Por favor, dorme, você precisa dormir, Alícia."
Repito mentalmente para mim mesma. Me viro de lado. Pego o celular. 01:01. Horas iguais. Se eu fosse uma maluca, acreditaria que isso é algum sinal do universo. Porém, ainda não sou maluca. Coloco o celular no criado mudo.
Desisto dessa baboseira de dormir e me sento. O quarto estava escuro, mas olho a luzinha vermelha da televisão."Você é uma chorona."
Meu subconsciente me acusa quando sinto as lágrimas brotarem nos meus olhos. Só desejo cair de joelhos e chorar. Sinto falta de me sentir em casa igual eu me sentia quando estava com a minha mãe.
Eu sei que ela não era pra sempre nem nada, mas eu só tenho vinte e seis anos, o mínimo era ela estar comigo até... Sei lá, até os cinquenta. A minha bisavó ficou viva até os noventa anos e a minha avó tinha setenta quando ela morreu.
"Engole o choro."
Olho para cima e limpo as lágrimas que escorriam em minhas bochechas. Volto a me deitar. Fecho os olhos e rezo para a rajada de pensamentos pararem. Até que são totalmente interrompidos pela maçaneta, que por sinal fazia um barulho insuportável quando era aberta. Me levanto e olho para a porta.
"Sério?"
Eu suspiro, não estava com o medo que pensei que estaria. Quer dizer, era uma da manhã de uma sexta. Se fosse pra eu morrer, que eu morra. A pessoa atrás da porta ainda está tentando entrar. Dou uns passos para frente até que escuto um:
- Renan, o meu cartão tá com algum erro... - A voz era grogue, como se estivesse... Bêbada? Era uma voz masculina, isso era certo.
Depois de alguns segundos eu resolvo abrir a porta. Vejo um garoto loiro, um loiro descolorido, sombrancelhas grossas e uma barbinha que crescia, parecia um cavanhaque. Eu sabia quem era. Sabia exatamente quem era.
- Você... Errou o quarto. - Falei enquanto o via. Ele estava obviamente bêbado, com uma garrafa de Jack Daniel's na mão que era maior que a minha cabeça.
"Meu Deus, é o Jão mesmo."
- Me ajuda, Renan. - Ele fala com a voz trêmula e manhosa. Ele obviamente não ouviu nada do que eu disse.
Ele entrou no quarto como se fosse dele. Largou a garrafa na mesa. Eu até falaria alguma coisa, mas seria em vão. Olhei para ele e cruzei os braços. Talvez eu esteja começando a acreditar no universo.
- Eu acho que não consigo fazer o show. - Ele fala e as lágrimas brotam de seus olhos. - Eu tenho medo, estou com medo, e se eu errar a letra? Se eu fizer algo errado? - O ouço soluçar.
- Você não vai. - Digo com mais convicção do que quando disse para mim mesma que estava tudo bem.
- Mas e se eu fizer? E se eu falar merda? - Ele me pergunta as coisas como se eu fosse Deus.
- Você não vai! Escuta, você ama o que faz! Você quer isso, então você vai subir naquele palco e fazer aquele show! Entendido!? - Perguntei a ele.
Ele ficou quieto, como se tivesse levado uma bronca de mãe. O silêncio se expandiu pelo quarto, que agora estava iluminado.
- Me dá seu cartão do quarto. - Falo para ele e ele me entrega. - Trezentos e cinquenta... Ótimo, é nesse andar. - Digo como se estivesse pensando em voz alta. Olhei o redor para depois olhar para o cantor. - Fica aqui.
Quando disse isso, saí do quarto e andei até o final do corredor direito, onde estava o quarto. Com o cartão na mão, eu o pressionei e a porta abriu. Eu não iria entra.
"Entra, entra, entra, entra!"
Minha mente dizia, porém, meu lado educado não me permite isso. Eu bato na porta. Um cara maior que eu, Renan. Ele era um fofo, seguia ele no meu Instagram.
- Boa noite, o João não está aqui, moça. - Ele fala com a voz suave, me faz sorrir levemente com vergonha até mesmo de falar com ele.
- Não... Ele tá... No meu quarto. - Digo baixinho, como se estivesse falando um segredo. Vejo-o arregalar os olhos. - Quarto trezentos e trinta e sete, lado esquerdo.
- Ô Pedro! Malu! - Ele chama os outros dois. - O Jão entrou no quarto da moça! Perdão, qual o seu nome?
- Ah, Alícia! - Fala e sorrio suavemente.
Renan e Pedro vão até o meu quarto, e quando entram. João Vitor estava em pé, com a garrafa de Jack Daniel's na mão enquanto olhava as minhas roupas.
- João! - Renan se vira pra mim e fala - Desculpa por isso. - Os dois entram e praticamente carregam João para fora do meu quarto, ele parecia um mendingo bêbado e drogado, tudo ao mesmo tempo.
- Me desculpe, juro que ele não é assim. - Pedro murmura pra mim como uma criança que fez algo errado.
- Vamos recompensar você, senhorita! - João fala e levanta as mãos. Mas logo vejo o rosto dele se transformar em uma carranca não muito agradável como se estivesse com ânsia. - Acho que vou vomitar...
Quando ele fala isso. Eu, Pedro e Renan fechamos a cara e olhamos um para o outro como aquele meme dos Homens-Aranhas apontando um para o outro.
- Tá bom, vamos indo, você não vai vomitar em mim igual da última vez! Eu lembro quando o Pedro... - Renan é interrompido por Pedro.
- O que aconteceu em Paris, fica em Paris.
Estávamos os quatro, eu na porta e os três lá fora. Parecíamos aqueles vizinhos que conversavam fora do portão em plena madrugada. Ou em qualquer hora. Nós três rimos e Jão murmurou algo que só ele entendeu nos fazendo rir mais.
- Boa noite. - Pedro diz e Renan acena. Eu aceno de volta e fecho a porta. Encosto as costas na porta e suspiro.
"O que raios aconteceu?"
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OLÁ SONHADORES IMORTAIS!
Espero que tenham gostado! Eu gostei e já tenho umas ideias para o próximo capítulo! Até mais!
★☆

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𝐄𝐒𝐂𝐀̂𝐍𝐃𝐀𝐋𝐎, ᴊ.ᴠ.
Fanfiction"𝒬 𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑒𝑢 𝑑𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑛𝑎̃𝑜 𝑡𝑒𝑚 𝑝𝑎𝑧, 𝑛𝑜𝑠 𝑚𝑒𝑢𝑠 𝑠𝑜𝑛ℎ𝑜𝑠 𝑢𝑚𝑎 𝑣𝑜𝑧, 𝑚𝑒 𝑐ℎ𝑎𝑚𝑎 𝑝𝑟𝑎 𝑖𝑟 𝑒𝑚𝑏𝑜𝑟𝑎 𝑒 𝑒𝑢 𝑣𝑜𝑢 𝑎𝑡𝑟𝑎́𝑠." - 𝓡 𝑎𝑑𝑖𝑜.