Despertar

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Em algum lugar muito abaixo do solo, havia um bunker extremamente bem protegido. Lá, algo asqueroso se movia pelo ambiente, algo que provavelmente faria a maioria das pessoas gritar ou até perder a força nas pernas ao vê-lo. Essa criatura sentia as mudanças do ambiente com suas antenas, parecia faminta e caminhava pelos corredores com suas patas enormes e afiadas, deixando marcas de pressão no chão metálico e enferrujado. Algumas luzes no ambiente piscavam em um tom carmesim, sinalizando a emergência. O supercomputador tinha sua sala de controle destruída, e o resto da sala parecia vazio.

Dentro de uma sala trancada por uma espessa porta metálica, um sujeito despertou de seu sono. A cápsula onde ele dormia foi desativada devido à baixa energia, e os primeiros passos daquela criatura em sua vida foram dados. Com doze anos, um corpo esguio e magro, o menino se ergueu. Sua pele morena contrastava com olhos de íris carmesim e uma pupila afiada como a de um predador. Seus longos cabelos negros cobriam a maior parte de seu rosto e tronco, dando-lhe uma aparência primitiva e fantasmagórica.

Ponto de vista de ?????

Foi a primeira vez que abri meus olhos, a primeira vez que me mantive em pé, o contato com chão gelado me fez arrepiar, eu me sentia faminto, estava escuro, e eu me sentia como se estivesse em outro mundo. Decidi tentar ir para frente e sair daquele lugar, e logo me vi indo ao chão, eu não tinha equilíbrio algum, era como se meu corpo não respondesse ao que eu desejava, e logo por instinto levei minhas mãos ao chão, ficando sobre "quatro patas", daquela forma estranha andei alguns "passos" e bati de cara com uma espessa parede, ou era uma porta? tudo estava tão escuro que era difícil definir o que era o que, mas alguns sons disparavam fora daquele quarto, até que uma luz azulada cobriu todo o quarto, surgindo em minhas costas. Olhei confuso, virando-me para descobrir o que havia causado aquilo, era algo estranho, um ser parecido comigo, só que, parecia angelical, transparente e estranhamente belo, o que era aquilo? me aproximei com cautela, e toquei no que deveria seu sua barriga com meu dedo indicador, mas simplesmente eu não senti o toque aquela "imagem", meu dedo a atravessou, era estranho, até que eu ouvi sua voz.

- Experimento 004, código 1091011, parabéns pelo despertar. - Foi o que aquela imagem disse, e eu entendi tudo, minha cabeça começou a doer, informações em excesso foram transmitidas para ela, aquela frase ativou um comando em um chip metálico instalado no córtex frontal do meu cérebro eu simplesmente recebi uma sequência de informações anormal, eu senti como se minha cabeça fosse explodir, mas após alguns minutos, consegui me recuperar. Me ergui do solo, fechei meus punhos e suspirei, verificando a qualidade do meu corpo gesticulei com meus dedos alguns movimentos, eu estava com fome devido ao tempo e enfraquecido devido a falta de músculos, eu precisava de alimento, água e de preferência alguns treinamentos físicos para condicionar melhor meu corpo, aquele holograma foi gravado a uma década atrás por uma das pesquisadoras do projeto, ela originalmente deveria ser minha "madrinha"? acho que sim, pois ela era alguém muito próxima a minha mãe, e curiosamente, ela era quem me nomeou. - Kalel, né? - Indaguei ao vento, antes de rir de forma sarcástica, aquele era meu carinhoso nome, que significava pequeno super-homem, eu rapidamente me virei em direção a porta, meus cabelos sujos acompanhando meu movimento com seu balançar. - Tudo bem, o alarme tocando deve indicar que invadiram o bunker, eu devo sair daqui imediatamente. - Eu disse, ao que rapidamente flexionei meus joelhos, sentindo o pesar de meu corpo, relaxei meus músculos, jogando meu punho direito para trás, eu carreguei meu golpe, lançando um soco fervoroso em direção ao centro daquela imensa e massiva porta, um brilho carmesim correu por meu braço até meu punho, chegando até ele no momento do impacto, e liberando uma imensa potência no golpe, fazendo aquela porta que pesava toneladas voar longe, enquanto eu sentia o sangue escorrer, pois meu punho estava machucado, e eu provavelmente estava com os ossos da mão fraturados, a dor era realmente algo bem incômodo, o suficiente para eu me agachar e ranger os dentes, sentindo a dor latejante, mas não havia tempo para isso, logo que a poeira levantada a frente dispersou, eu avistei tropas e mais tropas de pessoas correndo pelos corredores a frente, meus sentidos se atordoaram, desde grunhidos de alguma coisa desconhecida, até disparos de armas e alarmes por todo o bunker. - O que infernos está ocorrendo aqui? - Indaguei sem esperar resposta, mas ela infelizmente veio de forma violenta, pois o sistema de segurança do bunker foi ativado e prontamente uma metralhadora surgiu de uma escotilha, me travando como alvo, ela começou a disparar balas, e eu rapidamente me esgueirei para dentro do quarto novamente. - Droga, agora isso? como eu supostamente deveria sair daqui? - Meus olhos correram pelo lugar, até que eu vi algo que fez meus instintos arrepiarem. Baratas são seres que naturalmente causam repulsa ao ser humano por natureza, isso é devido a estranheza que sentimos pela sua aparência, no meu caso, meus instintos são anormais, e o perigo que eu senti vendo aquela barata voadora gigantesca foi imenso. aquele bicho tinha pelo menos 1 metro de altura, aquilo fez cada fio de cabelo pelo meus corpo arrepiar, e minha única reação foi disparar para fora do quarto, pegando o corredor oposto a barata em uma velocidade anormal, ao ponto de que a mira da metralhadora não foi capaz de acompanhar, talvez pelo sistema estar danificado, ou pela minha velocidade, não sei dizer. Corri pelos corredores sentindo as balas das metralhadoras passando de raspão próximo do meu corpo, algumas vezes me bati contra as paredes nas curvas que tinha de fazer, mas rapidamente me recuperava e voltava a correr, eu estava cansado, só desejava descansar em algum lugar, até que acabei me deparando com o que havia causado aquele estrago todo na base. Em uma curva, delizei pelo chão quase como se eu fosse um super-herói, admito que isso era divertido, mas meu sorriso logo se desfez ao olhar a frente, os mercenários que haviam invadido estavam de costas para mim, talvez uma ou duas dúzias, mas o aterrorizante era o que eles estavam atirando contra, pois aquilo era um enxame de aranhas, maiores até que a barata anterior, eu simplesmente senti minhas forças indo embora e meus joelhos cederem, e logo um dos mercenários abandonou seu grupo, decidindo correr, porém, ao me ver ajoelhado atrás do seu grupo, ele gritou, porém seu líder o mandou calar a boca com um grito ainda mais alto, um tão alto que me trouxe de volta a realidade, pegando forças e me impulsionando para trás, voltando a correr pelos corredores procurando por uma saída. - EI SUPER COMPUTADOR, ME DIGA ONDE ESTÁ A SAÍDA DESSE LUGAR! - Eu gritei, onde então, ouvi ao longe o barulho de algo se abrir, algo que estava com as engrenagens trancando muito devido a passagem do tempo. Após alguns poucos minutos, encontrei uma escadaria, foi por onde os mercenários haviam entrado, e eu rapidamente saltei por entre as escadas destruídas, me agarrando nos pequenos pedaços restantes que estavam grudados nas paredes, me levando por fim ao que antigamente deveria ser um poço, mas que agora era apenas um alçapão escondido por um montante de folhas secas e mortas. Ao finalmente me deparar com o que deveria ser a superfície, me vi em uma estação de trem, uma ferrovia distante e abandonada.

Ao sair de dentro daquele enorme buraco, pisei com força na beirada do alçapão, e rapidamente saltei, a estrutura frágil da beirada ocasionou em um desabamento que fechou a saída do poço, eu não queria ver aqueles insetos gigantes nunca mais, e aquela era uma boa forma de garantir que isso não iria ocorrer. Olhei a volta, a estação estava largada aos cuidados da natureza, cipós, teias grossas de aranha e ovos envoltos em teia estavam por toda parte, alguns casulos de teia estavam a volta também, e eu temi que meu medo de encontrar aquele monte de aracnídeos se tornasse realidade, por isso, comecei a caminhar, evitando regiões do chão onde houvesse teias e me focando em caminhar por entre os túneis onde outrora deveriam ser a passagem dos trens. Ao caminhar pelos túneis, me deparei com cadáveres já decompostos, onde haviam apenas alguns resquícios dos ossos, lá, haviam roupas rasgadas e sujas, mas que para mim que estava totalmente nu, já serviriam de algo, apanhando-as eu as vesti, parecendo um mendigo encontrado nas ruas de Nova York nos anos dois mil, eu logo procurei por algo nos bolsos das outras roupas, e encontrei um canivete e alguns papéis de doces, descartando tudo menos o canivete, que usei para cortar aquele monte de cabelo e me deixar ao menos com alguma visibilidade maior, minha face e corpo agora estavam pelo menos visíveis, e eu provavelmente estava pessimamente vestido, meu senso de moda estava fora de época.

Caminhei por longas horas, e logo me vi na saída do subsolo, onde a luz do sol quente como eu nada antes atingiu minha pele, senti o calor tomar conta do meu corpo, a paisagem do horizonte ondulando devido ao calor do solo, um local arenoso e seco, aquilo era um deserto, e antes que eu pudesse aproveitar o desapontamento que senti ao ver a superfície pela primeira vez, senti um imenso tremor no solo, onde algumas dezenas de metros a frente, uma explosão simplesmente surgiu na areia, levantando-a por alguns metros acima, e algo emergiu daquela poeira toda, parecia uma imensa centopeia, que mergulhava e emergia do solo, avançando na direção onde eu estava. - Oh droga, acho que pisei no calo de algum ser divino, não é possível! - Exclamei, partindo na direção oposta correndo, e iniciando uma perseguição fervorosa.

Days After ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora