Isso dói?

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|735 palavras

   Era a segunda vez no dia que trocava seus curativos, já estava mais do que agoniado com tantas pomadas e ataduras em seu rosto praticamente cicatrizado. Erwin já tinha o alertado que não devia preocupar-se tanto agora.
  — Levi a ferida já não está mais aberta, a enfermeira falou que não precisa de tanto cuidado. — Ele se apoia de lado na parede, olhando Levi atento em retirar as gazes e limpar um dos cortes que já cicatrizava. — Deixe-me ajudá-lo. — Diz calmo, entendendo o lado do amante que sempre foi de querer tudo à sua volta limpo.
   — Não precisa. — Afirma, ainda concentrado em seu reflexo no espelho oval da penteadeira do quarto em que estavam.  Limpava os resquícios de pomada do último curativo feito com dificuldade pela ausência dos dedos, tentando se acostumar com a mão direita que agora se encontrava sem dois dedos. — Tsc. — Reclama em murmúrios pela dificuldade de tentar passar a gaze em seu rosto.
  — Dê-me isso. —Diz se aproximando do homem sentado, se agachando ao seu lado e pegando a gaze que tentara equilibrar em sua mão, fazendo um novo curativo com agilidade, mas ainda sim atento à cada expressão do outro, com receio de machucar-lo.
   — Pronto, não foi tão difícil. — Exclama com humor, se levantando e arrumando a mesa e jogando as embalagens descartáveis fora.
   — Você diz isso, mas não é seu rosto que dói só de encostar. —Retruca, olhando para si no espelho com uma feição insegura.
  Sua autoestima em relação à sua aparência nunca foi das melhores, mas nunca deixou que fosse um incômodo pela tensão que vivia sendo um soldado. Agora, em um mundo pós guerra, onde a única preocupação é reconstruir e recomeçar tudo do zero, na calmaria de cuidar das cicatrizes e marcas esses sentimentos apertados e guardados ressurgem nos pensamentos de Levi, que agora se pergunta se pode ser amado.
   — Isso dói? —O loiro, agora no lado esquerdo do menor se abaixa, segurando o pálido rosto pelo queixo trazendo a atenção dos olhos cinzas para si, selando os lábios finos do moreno nos seus, sentindo os fiapos da atadura tocarem sua bochecha.
  — Não, não muito. —Sussurra, com o rosto ainda próximo de Erwin, passando sua mão esquerda pelos fios dourados, selando novamente seus lábios em um beijo mais intenso. Sem hesitar, o loiro aprofunda mais o beijo levando sua mão até a nuca do outro na tentativa de aproximar-lo.
  — Erwin... —O chama, desfazendo o beijo e segurando o braço forte do mais alto, lhe fazendo parar por um instante e entender sua hesitação.
   — Levi... — Tomba um pouco a cabeça para o lado afim de compreender a expressão apreensiva do outro, fazendo-lhe desviar o olhar, o que fez entender o desconforto de Levi com toda a situação como se o olhar cabisbaixo transmitisse uma conexão de pensamentos aos olhos intensos de Erwin: seria a primeira vez que se deitaria com Erwin depois de tantas mudanças e mutilações marcadas pelo estrondo que já não se sentia mais digno de se despir para alguém, ainda mais esse alguém sendo quem o amou e ama à tanto tempo. Seu maior medo agora era a reação do ex-comandante e se seria possível ele deixar de amar-lo por causa de sua atual aparência. — Eu estou aqui okay? Eu, apenas eu nada mais. Nada que vá mudar meu sentimentos, nada que vá me fazer arrepender de ter sobrevivido até aqui. — Afirma, transmitindo uma confiança a Levi que faz o único pequeno olho cinza brilhar e olhar fixamente na imensidão dos olhos azuis de Erwin que agora segurava o rosto cicatrizado com as duas mãos firmes de cada lado, fazendo com que a conexão entre os dois amantes aumentasse a cada segundo.
   — Depois de tudo que passamos, não me arrependo de ter te deixado vivo Erwin. — Revela, com um sorriso tímido, fitando os lábios finos do loiro que em um instante entende as intenções e o beija com um beijo calmo que logo se torna mais afoito, deslizando sua mão direita até a cintura do moreno, levantando-o da cadeira de rodas até que conseguisse puxar-lo para seu colo, caminhando na direção da cama e o deitando devagar e ajeitando o travesseiro para melhor conforto de seu amado e ficando por cima, traçando beijos pelo pescoço pálido fazendo os pelos se eriçarem por todo corpo de Levi.
    — E eu nunca me arrependeria de viver por você, Levi.
 
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capa: cilloweden on Pinterest.
multimídia: artista não encontrado.

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⏰ Última atualização: Mar 05 ⏰

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