I: Ritual de passagem

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      Mari desceu a avenida, correndo como se estivesse em uma maratona. Não se preocupava com uma possível queda, só se preocupava em chegar ao seu destino o mais rápido possível.

      A jovem já havia vivido dezesseis anos, e aquela era a primeira vez que se sentia tão animada. O motivo de sua animação era a inauguração de uma loja... não uma loja comum, uma loja diferente, uma loja de ocultismo, que prometia vender os mais variados aparatos relacionados às práticas ocultas. Algo raríssimo de se encontrar.

      Mari se interessara por ocultismo bem cedo, ainda criança. Desde então, passou a ser taxada de esquisita; o que a fez se isolar em seu próprio mundo. Mundo esse que ela esperava expandir com sua visita à loja.

      Quando finalmente chegou, ficou deslumbrada com o visual grotesco do estabelecimento. A fachada era decorada com esqueletos e esculturas de seres mitológicos. No topo, havia uma placa escrita "Cabana da Miss Abidemi" com letras estilizadas, simulando sangue, como se tivessem sido escritas por um assassino que acabara de matar alguém. Era algo que, muito provavelmente, afastaria uma pessoa comum. Felizmente, Mari não era uma dessas pessoas.

      Ao olhar a vitrine, a garota vislumbrou o seu reflexo e imediatamente se sentiu angustiada. Pôde ver uma magrela com uma quantidade absurda de sardas na cara. Cabelos pretos longos e enormes óculos com lentes arredondadas. Junto ao seu aparelho dental, formava o visual clássico de uma nerd estereotipada. Mari sabia que sua aparência era digna de uma personagem de filme adolescente dos anos 90. Mesmo assim, procurava não se incomodar com isso.

      Através da vitrine esverdeada, viu uma estante cheia de potes com olhos em conserva. Obviamente, eram falsos, mas ela ficaria mais satisfeita se fossem verdadeiros.

      Logo que entrou, ficou maravilhada com as bizarrices daquele lugar. Sua sensação era como a de uma criança indo pela primeira vez à Disneylândia ou de um otaku visitando Akihabara. Sensação que só os mesmos sabiam como descrever.

      Admirada, caminhou até uma enorme estátua de Bafomé em uma pose não convencional. Abaixo da estátua havia vários livros sobre rituais; os favoritos da garota. Eles eram velhos, com páginas amareladas e capas empoeiradas. O que a fez imaginar que tipo de pessoas tinham sido seus donos anteriores. Como eram? Com quais mortos haviam se comunicado? Quantos demônios já tinham invocado? Eram muitas perguntas circulando pela sua mente.

      Do nada, uma voz sinistra ecoou:

      ─ Seja bem vinda à cabana da Miss Abidemi!

      Mari virou-se abruptamente e pôde ver uma senhora rechonchuda. Tinha pele escura; usava um turbante e óculos escuros.

      ─ A senhora é a Miss Abidemi? ─ perguntou a garota.

      ─ Isso mesmo! ─ confirmou a mulher, com uma voz exageradamente dramática enquanto fazia uma pose estilosa. ─ Sou a incrível Miss Abidemi, dona dessa loja de tralhas... quero dizer, aparatos ocultistas valiosos. Diga, menina esquisita, o que procura?

      ─ Esquisita?

      ─ Sim, sim, claro. Creio eu que apenas pessoas esquisitas virão até aqui. Acha que estou errada?

      ─ Bem... não.

      Miss Abidemi esticou seus braços e movimentou seus dedos como se estivesse dançando com as mãos. Nesse momento, suas enormes unhas pintadas de vermelho ficaram em evidência.

      ─ Muito bem, fedelha... quero dizer, menina. Diga-me o que procura. Saiba que tenho de tudo por aqui ─ enquanto falava, mantendo o seu tom caricato, pegou um crânio esquisito no alto de uma das prateleiras. ─ Que tal isso? Foi tudo que sobrou de um demônio que matei semana passada.

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⏰ Última atualização: Feb 07 ⏰

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Dampnas Place, Desbravando o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora