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"Eu amo você, Erica.
Isso significa muito mais do que apenas "gosto de estar perto de ti" ou "gosto de como você fala comigo".
Eu quero dizer que amo cada pequena parte de você. Amo a pessoa que eu sou quando estou ao seu lado. Amo o cheiro doce do seu perfume floral no meu travesseiro. Amo a pessoa que você me motiva a ser.
A maioria das pessoas pensa que amor é algo para ser mostrado, mas eu morreria por você em segredo.
Eu prometo te amar quando for um dia de calmaria e prometo te amar ainda mais quando for um furacão."

Mesmo que Kira nunca realmente tivesse tido dificuldade em imaginar como Malia seria, com a chegada da americana, essa tarefa ficara ainda mais fácil.

Agora, sempre que fechava os olhos, a descrição detalhada do livro se misturava com os traços que, embora ainda não tenha visto muitas vezes, eram muito claro em sua memória.

Como prometido, mais cedo naquela tarde, Allison havia ligado para compartilhar o que tinha descoberto sobre a aluna nova.

Não eram notícias muito animadoras para quem desejava arduamente conhecer alguém romântica, que tivesse grande apresso por literatura clássica e que gostasse de dar três selinhos ao final de cada beijo intenso, no entanto. Malia era parte do time de basquete e uma aluna de notas medianas. Ninguém a conhecia o suficiente para saber sobre seus gostos pessoais mas, a julgar por suas roupas, não parecia ser do tipo delicada e perfeitinha, tal como Allison descrevia a Malia dos livros sempre que Kira tocava no assunto.

Não sabiam de muita coisa mas talvez fosse o suficiente para iniciar um diálogo.

Talvez aquilo não fosse exatamente o que a Yukimura havia pedido as estrelas afinal, amar a Malia literária era como as folhas secas caídas ao chão. Como o cheirinho de chocolate quente a queimar, como as gotículas de chuva sobre a janela do quarto e os ventos uivando na noite.

Aquelas noites nem tão quentes e nem tão frias e cobertores macios.

A doçura de outubro, os olhos brilhantes e o riso alegre. O sorriso que faria Kira se sentir menos sozinha.

Kira havia conhecido Malia em outubro e essa era a razão pela qual ela adorava o outono.

Ela havia pedido às estrelas por algo que se parecesse com isso, mas poderia facilmente adaptar-se aos desafios que a vida real lhe propunha já que, no fim das contas, o amor vem quando desistimos de implorar para que ele venha.

[...]

A chuva que caía desde o amanhecer engrossava a cada instante, atraindo o olhar desesperado de Kira para a rua escorregadia. Não tinha certeza se aquilo podia ser classificado como sorte, mas o ponto de ônibus no qual sempre ia ficava próximo a escola e talvez, se corresse, não se molhasse o suficiente para pegar um resfriado.

A japonesa suspirou pesarosa ao perceber que aquela era sua única alternativa. Seu celular estava sem bateria, então ligar para seus pais não era uma opção. Allison ficaria na escola até mais tarde para participar de uma reunião com o restante do grêmio estudantil e não poderia molhar-se junto a amiga.

Kira estava sozinha nessa.

— acho que esse dia não pode piorar — murmurou irritada e como que uma resposta imediata do universo, percebeu que podia sim piorar.

— Kira?

A Yukimura girou os calcanhares em direção a voz que lhe chamava, dando de cara com Malia Tate aproximando-se de si com um guarda-chuva amarelo em mãos. Seus olhos se arregalaram instantâneamente e ela não soube dizer o motivo.

Talvez fosse pelo fato da americana lembrar de seu nome ou, simplesmente, por ela estar ali, no mesmo ambiente, dividindo o mesmo ar que si.

Kira temia não conseguir disfarçar a maneira como seu coração batia freneticamente e retumbava por seus ouvidos.

— o-oi — gaguejou sentindo-se estúpida quando a americana parou a alguns centímetros de distância.

— o que você 'tá fazendo o que aí parada? — questionou com a sobrancelha arqueada e a mais nova segurou um revirar de olhos diante da pergunta idiota.

— certamente não estou "aqui parada" — respondeu fazendo aspas com as mãos — por diversão — Kira observou então os lábios vermelhinhos da outra se curvaram em um sorriso divertido e pequenas ruguinhas se formarem abaixo das pálpebras inferiores.

Seus olhos se tornaram dois pequenos risquinhos, abandonando a expressão monótona que ela carregava até então.

A Yukimura não pôde deixar de reparar em como aquele sorriso combinava com ela.

— oh, claro que não — intercalou então seu olhar entre a morena e as ruas úmidas e a paisagem gélida daquela tarde — deixe-me adivinhar... Está sem guarda-chuva?

— bem, sim — decidiu abandonar o sarcasmo, permitindo-se encolher os ombros dentro da jaqueta grossa que usava — eu só preciso chegar até o ponto de ônibus, mas parece impossível — resmungou frustrada.

— eu posso te levar até lá — Malia ofereceu trazendo o guarda-chuva para o campo de visão da Yukimura. Sua postura era mais leve do que outrora.

Kira em sua situação atual, analisou o guarda-chuva e então o rosto neutro da americana.

— é, tudo bem — aceitou por fim, ignorando o sobressalto de seu coração.

O silêncio entre ambas era quebrado apenas pelo som das gotículas de água tocando o chão e o olhar concentrado de Kira se atentou ao chamado silencioso da Tate para que ela se aproximasse mais.

— você é do time de basquete? — a japonesa questionou como se não soubesse, tentando puxar assunto de alguma maneira — imagino que sim já que está usando uma camisa do time.

Malia, no entanto, apenas lhe lançou um olhar enigmático demais para que Kira pudesse entender e soltou um riso abafado.

— sou a pivô do time — respondeu brevemente — responsável por fazer as cestas — explicou ao notar a expressão confusa da mais baixa, achando-a terrivelmente adorável daquela maneira. As bochechas coradas bem como a pontinha de seu nariz perfeito.

— ah...

Quando finalmente chegaram até o ponto de ônibus, nenhuma das duas realmente queria se despedir. O motivo para tal ainda era uma incógnita.

— eu, hm — pela primeira desde que se conheceram, Kira viu Malia hesitar. Era engraçado — queria te pedir desculpas se pareci muito rude ontem. É só que, bem... Esquece.

No momento em que guarda-chuva se abriu novamente, Kira notou que a americana estava pronta para ir embora. Algo dentro de si a incentivou a responder.

— não tem problema — sua voz não saiu mais alta que um murmúrio. Ainda assim, a mais alta foi capaz de escuta-la — talvez possamos começar de novo. Sou Kira! — sorriu simpática para a garota que se encontrava de costas para si, olhando-a por cima do ombro.

— que bobeira — riu contida — até amanhã, Yukimura.

•••

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𝐰𝐢𝐬𝐡𝐢𝐧𝐠 𝐨𝐧 𝐚 𝐬𝐭𝐚𝐫 › 𝐦𝐚𝐥𝐢𝐫𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora