chapter three.

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Anne o encarava. Scott podia sentir o olhar penetrante dela ainda que não visse seus olhos. Era quase como se ela o analisasse, em silêncio, imóvel. Imóvel até não estar mais. Ela levantou a mão e apontou para o lado. Scott moveu os olhos e contemplou a escuridão. Aliás, tudo era escuridão ao redor. Anne, que estava a pouco mais de 3 metros de distância, começou a andar na direção que apontou, e Scott não soube controlar as próprias pernas naquele momento. Ele acompanhou a noviça em passos hesitantes, temia que pudesse afundar em meio ao vazio daquele lugar a qualquer momento. Algo surgiu ao fundo, ele estreitou os olhos para ver. Anne alcançou o que pareceu ser uma pia e, acima, um espelho. Ela levantou a cabeça e se encarou, mas não se enxergou, e o rapaz observou pelo reflexo suas mãos se erguerem até a venda.

Scott acordou no meio da noite mais uma vez. Estava gelado como se houvesse caído em algum lago congelado. Ele acreditaria nisso senão fosse pela falta de estar encharcado. Em passos cuidadosos, ele caminhou pelo apartamento até a cozinha e preparou uma xícara de café o mais silencioso que conseguia ser para não acordar Jinki. Buscou o Notebook no quarto quando sua bebida ficou pronta e o ligou sobre a bancada da cozinha. Suas mãos foram rápidas para abrir o Google. Seu histórico de pesquisas era completamente bagunçado e boa parte da culpa disso era de seu trabalho. Era comum achar páginas e artigos de jardinagem no meio de artigos jornalísticos sobre serial killers e arquivos baixados que o FBI o disponibilizava, ainda que Scott preferisse ler as coisas no papel do que numa tela que cansava sua vista.

Ele ajeitou o óculos no rosto conforme vagava pela internet. Usava seus privilégios de ''agente do FBI'' para pesquisar por qualquer caso semelhante ao que estava trabalhando no momento, mas tinha que admitir que retratar suas vítimas como anjos era, no mínimo, criativo. Ninguém nunca havia feito algo parecido com aquilo, era uma característica muito própria, quase uma marca d'água do assassino. Assassinos, quando matam por prazer, gostam de sentir que são especiais de certa forma. Eles querem que algo os difira dos demais, que saibam que aquilo é obra deles e não de apenas mais um. Isso também implica no fato de que eles nunca se limitam ao número de vítimas, e embora esse em específico pareça ter algum tipo de perfil ao invés de apenas escolher no aleatório, algo dizia a Scott que não demoraria para mais alguém aparecer morto daquela mesma forma. Se a ideia era eliminar falsos fiéis, seu assassino não precisaria procurar muito por aí para achar um.

— Pesadelo de novo?

A voz de Jinki preencheu o vazio do apartamento e de seus pensamentos, e Scott se espreguiçou antes de concordar com a cabeça. Ela se aproximou, gentilmente colocando as mãos sobre o ombro do irmão por trás enquanto espiava sem descrição a tela acessa do Notebook. Não precisava de muito para saber sobre o que ele pesquisava e ela apenas confirmou suas hipóteses ao ler o que a tela dizia. Qualquer um acharia uma completa bagunça tantas abas apertas e sobrepostas umas às outras, tanto texto, tanta imagem, um caos de informação borbulhando a frente de seus olhos, mas Jinki já havia se acostumado com aquilo, enquanto para Scott tudo estava em perfeita ordem.

— O que você faz acordada? — ele inclinou a cabeça para trás.

— A Frogguinha não parava de arranhar a porta. — qualquer um teria questionado como Scott pôde não escutar, mas não Jinki. Ela apenas sorriu cansada.

Frogg era a Maltipoo que tinham há pouco menos de um ano. A origem do nome da cachorrinha era uma história engraçada e que os irmãos tinham de contar sempre que alguém novo conhecia o pet. Nenhum deles era bom com nomes, no começo chamavam-a de ''coisinha'', ''garota'', ''princesa'' e variações disso. Isso até um acidente envolvendo uma cachorrinha e uma lata de tinta verde acontecer. Coisinha, até então, ficou parecendo um verdadeiro sapo com todo seu pelo branco manchado com a tinta que Jinki havia comprado para pintar os arredores das janelas da sala, pulando para lá e para cá como se não houvesse feito besteira, e Jinki acho o momento tão icônico que o apelido pegou, mas como ''sapo'' e ''sapinha'' não eram bons, tampouco era ''perereca'', Scott sugeriu que chamassem em inglês, levando em conta que moravam nos Estados Unidos. Então, nasceu a Frogg, mas eles a chamam de Frogguinha devido ao seu tamanho.

Método Anjo.Where stories live. Discover now