Quand C'est?

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A luz da lua filtrava-se pelas cortinas, espalhando um brilho prateado sobre o quarto de Bianca. Cada sombra dançava suavemente nas paredes, como se a própria noite estivesse sussurrando segredos de esperança e despedida. Eu me sentei ao lado dela, os olhos fixos no rosto angelical de minha filha, cujos olhos castanhos brilhavam com uma mistura de cansaço e determinação.

Seu peito subia e descia ritmicamente, uma dança silenciosa ao compasso do aparelho respiratório. O som suave do respirador ecoava na sala, uma melodia frágil que preenchia o silêncio da noite, como um lembrete constante de sua luta pela vida.

Sim, claro, nos conhecemos bem
Você até queria pegar minha mãe, não é?
Você começou com os seios dela
E, em seguida, com o pulmão do meu pai
Você se lembra?

Com mãos trêmulas, alcancei os cabelos dela, acariciando cada fio com uma delicadeza quase reverente. Cada cacho macio era uma promessa de amor e devoção, uma lembrança tangível de nossa jornada juntos, marcada por batalhas e triunfos, lágrimas e sorrisos.

Bianca abriu os olhos, tão brilhantes e vivos apesar da doença que a consumia. Seu sorriso, fraco, mas radiante, iluminou meu coração com uma ternura indescritível. Era como se ela soubesse, mesmo em sua fragilidade, que seu amor era a luz que guiava meus passos na escuridão.

"Papai...", sua voz era um sussurro suave, um eco distante que reverberava em minha alma. "Eu... eu estou com medo..."

Um soluço escapou de minha garganta, um som estrangulado pelo peso da verdade. Eu a segurei com mais força, como se pudesse protegê-la de todo o mal do mundo com o calor de meu abraço.

"Está tudo bem, meu amor", murmurei, lutando para conter as lágrimas que ameaçavam transbordar. "Eu estou aqui... sempre estarei aqui."

E você ama criancinhas
Sem dúvida, nada te faz parar
Mas pare de se fazer de inocente
Nas embalagens de cigarro está escrito
O fumo mata, você me choca
Mas você me ajuda

Ela assentiu, os olhos se fechando lentamente enquanto as lágrimas traçavam caminhos solenes por suas bochechas pálidas. Eu envolvi-a em meus braços, perdendo-me na suavidade de sua pele, na fragrância doce de sua respiração.

"Eu te amo, papai...", suas palavras eram como uma prece, um juramento de amor eterno que ecoava na noite silenciosa.

As palavras se perderam em um soluço sufocado quando eu inclinei-me para beijar sua testa, a sensação suave de sua pele contra a minha, uma promessa de amor incondicional.

"Eu também te amo, minha pequena", sussurrei, deixando que minhas palavras se perdessem na quietude da noite.

Enquanto Bianca afundava no sono, eu segurava sua mão com firmeza, como se cada batida de seu coração fosse um lembrete da preciosidade da vida, da fragilidade do tempo. O suave zumbido dos aparelhos respiratórios foi interrompido pelo som do soluço contido de minha esposa. Ela estava à porta, uma figura frágil e trêmula, sua mão pressionando com força a boca na tentativa fútil de conter o desespero que ameaçava inundá-la a qualquer momento. 

Cada passo em direção a ela parecia uma eternidade, o peso da verdade se tornando quase insuportável. Eu pude sentir meu coração se contrair em agonia enquanto me aproximava, as imagens dos momentos felizes que compartilhamos como uma família assombrando-me como fantasmas do passado. 

Câncer, câncer, me diga quando será
Câncer, câncer, quem será o próximo?
Câncer, câncer, oh me diga quando será
Câncer, câncer, oh câncer

Eu não podia me deixar afundar nesse abismo de desespero. Com um esforço sobre-humano, empurrei minha própria dor para o fundo da minha alma e envolvi minha esposa em um abraço hesitante.

"Nós vamos sobreviver a isso juntos", sussurrei, minhas próprias palavras ecoando vazias e ocas no ar carregado de tristeza. "Nós precisamos ser fortes... por ela."

Os olhos dela se encontraram com os meus, uma tempestade de dor e desespero que me fez tremer até a alma. E então, enquanto seus lábios se curvavam em um sorriso trêmulo, ela me deu um aceno silencioso, como se concordasse com a impossível tarefa que nos aguardava.

Eu soltei um suspiro pesado e me virei para Bianca, meu coração se despedaçando com cada respiração irregular que ela tomava. O toque frio da realidade me atingiu com toda a força, lembrando-me da cruel sentença proferida pelos médicos, das palavras ásperas que ecoavam em minha mente como um mantra de desespero. Eu me perguntei como era possível que algo tão pequeno e inocente pudesse suportar tanto sofrimento, como se o peso do mundo repousasse sobre seus ombros frágeis.

Lágrimas escorreram por minhas próprias bochechas enquanto eu lutava para encontrar as palavras que escapavam de mim, afogadas pelo oceano de dor que ameaçava me engolir. Eu sabia que não havia consolo para a angústia que nos consumia, que a dor da perda iminente nos perseguiria até o fim dos nossos dias. Recordei-me das noites sem dormir, das horas intermináveis passadas em meu laboratório, buscando desesperadamente a cura que poderia salvá-la.

Eu me lembrei das promessas que fiz a mim mesmo, dos juramentos silenciosos que eu proferi diante das estrelas, prometendo que nunca desistiria, não importasse quão difícil fosse o caminho.

"Eu não vou desistir", sussurrei para mim mesmo, as palavras carregadas de uma convicção inabalável. "Eu vou encontrar a cura. Eu tenho que encontrar."

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