Por Srta-Athena
Ela nunca questionava nada quando, por muitas vezes, seus patrões eram grosseiros com seus funcionários - incluindo, ela mesma. Naquelas condições, com a epidemia do sono se espalhando e as demais dificuldades sendo "A Adulta" de uma penca de irmãos mais novos, ela simplesmente não poderia se dar ao luxo de ter opiniões contrarias a quem lhe pagava bem e em dia.
Se esforçou muito para se tornar médica e engolir sapo de gente rica era o menor dos seus problemas.
Alex Burgess e seu não assumido marido, Paul McGuire, não eram dos piores cuja a rosada tinha prestado seus serviços médicos, porém, eram os mais misteriosos. Sua mãe comentou que Alex e seu falecido pai mexiam com coisas erradas, que, de maneira suspeita, fizeram dinheiro e fama da noite para o dia e, não muito depois, a epidemia do sono começou. Mebuki Haruno pontuou que a culpa era dos Burgess, sendo enfática - até demais - quando o irmão do meio da Haruno caiu doente. Sakura precisou tirar a mãe da cadeia algumas vezes por causa de manifestações caluniosas perante pessoas tão quistas.
Sakura era cética, acreditava apenas no que seus olhos conseguiam enxergar e seu cérebro processar, todavia, deixava seus pequenos detalhes, como esse, escondidos no fundo de sua alma. O trabalho na mansão não era dos melhores, mas pagava as contas e despesas, principalmente depois que seu terceiro irmão mais novo não acordou mais. Já faziam quase dois meses e apenas as lamurias da matriarca preenchiam os ouvidos da Haruno, preferindo dormir na casa de seus patrões para não perder o foco no trabalho.
— Não se preocupe, querida, pode ficar no quarto de hospedes — Paul sorriu, gentilmente, caminhando alguns passos a sua frente, mostrando o caminho para onde iria passar as noites.
— Obrigada, Sr McGuire, prometo que minha estadia será breve — Sakura devolveu o sorriso, porém, de forma mecânica. Seu coração estava partido, se permitindo apenas a socializar o necessário, não queria parecer ingrata e, ao mesmo tempo, não queria se forçar a algo puramente por educação. Ela simplesmente não sabia o que fazer.
— Deixe disso minha querida, pode ficar o tempo que quiser — respondeu ameno, parando no meio do corredor do segundo andar, na frente de uma porta de madeira grossa, porém detalhada, daquelas que você não encontra mais tão facilmente — Você faz parte da nossa família, mesmo que trabalhe apenas em alguns dias da semana.
Sakura balançou a cabeça, fazendo um leve mesura. Mesmo tendo deixado o país asiático, lar de origem de sua família, ainda não conseguia deixar as formalidades milenares de suas raízes, mesmo que quisesse apenas sumir naquele exato momento. Ela realmente foi bem criada.
— O café da manhã e servido as oito, porém o Sr Burgess e eu não fazemos nossas refeições na sala, devido ao seu estado de saúde — o loiro, com alguns fios brancos cobrindo as laterais de sua cabeça oval, suspirou, abaixando as sobrancelhas finas e, consequentemente, marcando suas cicatrizes causadas pela velhice e, provavelmente, por sua tristeza - nisso, a jovem entendia bem — Mas não se preocupe, faça o que tiver que fazer e fique a vontade.
O grisalho entregou a Haruno um molho pesado de chaves de ferro, algumas antigas demais até para a idade de sua mãe. Uma em particular estava com uma fita branca enfeitando a cabeça, com seu nome escrito em letra cursiva, delicada.
— As chaves curtas são dos alojamentos, como cozinha, quartos de hospedes, biblioteca, as maiores são do jardim, e esta com a fita e sua — Sakura ouvia atentamente a todas as orientações, erguendo uma sobrancelha do motivo de ter tanta abertura em um lugar daquele tamanho — As vezes Alex e eu ficamos ocupados, viajamos, como bem sabe, e, como esta na mansão, e bom que fique com algumas chaves para uma dessas situações. Não e uma prisioneira, afinal, e nossa convidada e inteligente médica particular.
O tom meigo, algo característico do interesse amoroso de seu patrão, foi dissolvido em algo que a jovem conhecia bem, uma mascara, mas para que? Sua tristeza pela doença de seu amante era clara, todos sabiam, até o povo da cidade, não precisava de mascaras se não na frente do próprio Sr Burgess, então, por que?
— Eu agradeço — respondeu, guardando suas perguntas junto ao seu eu mais secreto, vendo-o sorrir mais abertamente - falsamente.
— Fique a vontade, estarei com o Sr Burgess, quando quiser descer... — fez uma pausa, puxando um paninho do bolso do paletó azul pastel, limpando o suor da testa, espiando o horário no relógio de pendulo, do outro lado do corredor — Enfim, preciso ir, boa estadia minha querida.
— Claro, até Sr McGuire — Sakura sussurrou, porém o homem já estava longe, andando a passadas largas, como quem estava atrasado para algo importante.
Mas o que seria, para alguém que tinha tudo?
- -
Os olhos sempre carregados de indiferença estavam ali novamente, encarando o homem idoso, sentenciado a uma cadeira de rodas, para o resto do tempo humano que lhe restava, algo bem diferente dele, alguém tão diferente de uma carcaça mortal e frágil. Alex Burgess não passava de alguém sem escrúpulos, como seu pai foi quando vivo.
— Durante tanto tempo, não me dirigiu a palavra uma única vez — a voz arrastada, seguida de uma onda de tosse, não riscava o orgulho do Sonho, tinha perdido a fé na humanidade já fazia muito, muito tempo.
— Senhor, não pode se desgastar dessa forma, lembre do que sua médica lhe disse — Agatha suspirou com a teimosia do tio, impedindo que o mesmo se erguesse da cadeira de rodas — Deixe essa aberração para lá!
Morpheus suspirou com as palavras nada gentis da jovem de olhar assustado, entretanto, Sandman manteve-se quieto, focando seus olhos escuros no homem que, por uma fração de segundos, confiou sua liberdade, a que todo humano chamava de "vida".
— Não seja grosseira, sobrinha — bateu a mão em punho no braço da cadeira, tossindo cada vez mais. Estava morrendo, não tinha duvidas que, logo, não iria mais vê-lo, nem mesmo do outro lado — Ele é um deus!
Agatha suspirou, balançando a cabeça devagar, derrotada de mais um embate com o teimoso tio, entregando-lhe mais um pano limpo para que pudesse tossir em paz. O pano usado, não muito antes de entregar-lhe o novo, estava manchado de sangue, a praga do câncer logo acabaria com sua vida, todavia, aquilo não parecia realmente preocupa-lo.
— Tio...
— Querido! — Agatha se virou na direção da voz forte do homem idoso. Os guardas o deixaram entrar sem problema, trancando a grade de ferro logo em seguida.
— Paul, veja, ele ainda não consegue me falar nada — Alex bufou carregado de frustração e tosse, o pano limpo logo se sujou com o sangue contaminado, deixando os nervos de sua sobrinha a flor da pele — Mesmo no meu leito de morte, ele me castiga.
— Está castigando-o a anos, Alex, não posso deixar de me compadecer por ele — Paul respondeu num tom brincalhão, beijando o topo da cabeça do amante, sem trocar olhares com o cativo em sua sela de vidro e magia — Mas ele poderia ser gentil em dar-lhe logo um acordo mais vantajoso.
— Ele já o deu, não acha? — Agatha bufou, cruzando os braços na frente do tronco bem vestido por um colete claro, adornando o conjunto de saia longa e blusa de mangas delicadas. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque apertado, com tranças decoradas com broches em formato de flores, bem presos ao redor da cabeça mediana. Todavia, sua insatisfação a deixavam incrivelmente maçante — Está abusando de sua saúde, está negligenciando tudo que conseguimos, que seu pai, meu avo, conseguiu, e tudo por uma obsessão.
— Agatha! — Paul a repreendeu, todavia, aquilo não parecia afetar a garota. Estava decidida em manter suas palavras, fechando a cara e, de maneira nada cortez, deixando os amantes a sós com o suposto Deus aprisionado.
Alex suspirou fadigado, segurando a mão de Paul enquanto eram observados por Morpheus.
No fim, Sandman não tinha outra escolha a não ser esperar pelo fim do acordo com o homem frágil, o único que tinha como refém a chave para sua sela, e, consequentemente, dono de seus poderes, desejos e principalmente de sua liberdade.
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Dreams - SandSaku
FanfictionEla era apenas alguém que foi contratada para cuidar do herdeiro de uma mansão antiga. Ele era prisioneiro por anos pelo pai e pelo filho, donos de sua prisão. Ela sabia quem ele era, porém, ele não sabia quem era ela. Só sabia que, só de olhar, sab...