Seus olhos se fecharam. Como as águas uma vez abertas por um milagre divino se fecharam. Como a mistura entre a água do mar e um rio límpido. Seu coração partiu-se em pedaços irregulares. Os cabelos caíram ao seu lado e uma lágrima desceu. O véu negro que engolia a luz do dia e devolvia um brilho violeta. O que descia de seu couro cabeludo era uma cascata escura. Seus joelhos caíram e beijaram o chão, como uma submissão. Sua cabeça pendeu enquanto chorava e admitia sua fraqueza em frente àquelas pessoas. Ela pedia desculpas com o olhar, com seus gestos gentis e suas lágrimas doces que molharam o tecido de seus imensos quilos de tecido.
Ela não havia dito uma palavra. Uma sílaba. Um nada. E ainda assim, eles vieram. Gritando, esbravejando. Pela injustiça sofrida, pela dor das palavras enforcadas em suas gargantas.
Ela não se mexeu.
Não moveu um músculo.
Mas ainda assim eles não vieram, foram oprimidos. Reprimidos. Rejeitados. Castigados. E ela foi puxada para longe. Com olhos marejados e uma dor inestimável em seu peito. Ela pedia desculpas. Perdão. Não à Deus. Mas ao povo.
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Viola não se importou com as mãos sujas de terra, muito menos com os grãos que ficavam sob as unhas. O Sol não estava tão forte aquela manhã, o clima era agradável para dizer o mínimo. As galinhas haviam colocado ovos, as batatas estavam prontas para serem colhidas, o trigo também. Pouco importava a sujeira em seus pés nus, tudo o que ela queria era terminar suas obrigações antes do pôr-do-sol — e talvez teria conseguido se uma certa galinha não tivesse a feito se esconder uma árvore durante duas horas inteiras apenas por tentar pegar os seus ovos.
Mas isso não tirou seu entusiasmo. Em breve seu irmão estaria de volta, então era melhor começar a preparar o jantar. A faca já estava velha e cega, mas com um pouco de esforço, ela funcionaria. Alguns cortes aqui e ali não machucavam tanto. Viola sorriu ao pensar que em breve seu irmão voltaria da fábrica, isso a fez gargalhar baixinho enquanto descascava aquelas batatas. Seus pés brincavam com a grama enquanto cantarolava uma canção que já não se lembrava mais a origem, mas sabia que alguém bem importante cantava para ela antigamente. Mas talvez estivesse errada. Talvez fosse alguma composição maluca do seu cérebro entediado que ela insistia em lembrar. _Não que fosse importante._
Toc, toc, toc
Viola se levantou com um sorriso ainda maior. Seu irmão havia chego, talvez tivesse trago o pão que havia prometido mais cedo? Talvez tivesse roubado mais um corpete de um burguês ousado? Talvez ele e seu amigo tenham decidido que seria ótimo fugir do trabalho apenas para comer? Quem sabe, quem sabe. Mas nada daquilo importava, Viola já estava feliz em saber que a sua única companhia estava de volta, e só aquilo importava. Viola sabia o quanto o irmão dela trabalhava na fábrica de ferro, suas mãos sempre voltavam acabadas e algumas vezes em carne viva — problema que quase acarretou em algo pior uma vez, há cinco anos atrás —, suas roupas sempre acabavam podres de tão sujas e seus sapatos tão gastos que nem as costuras de Viola ajudavam. Viola insistiu muitas vezes para que seu irmão a deixasse trabalhar na fábrica junto para ajudar, mas Leon — seu irmão — e Austyn — amigo de Leon — sempre negavam e a impediam. Era um lugar horrendo.
Homens cansados suados sofrendo sob um calor inestimável, com crianças e idosos mas mesmas condições. Viola odiava aquilo, por isso sempre fugia quando podia. Levando comida para os trabalhadores junto de alguns outros voluntários, água fresca e comida repartida igualmente para todos. Por mais que Leon odiasse, ele era grato à sua irmã por tamanha ajuda.
Oh, seu irmão! Estava na porta! Viola correu para abri-la já pronta para saudar sua única família com o maior sorriso de todos.
Contudo, o sorriso de Viola morreu lentamente quando viu uma mulher desconhecida. Mais alta, um rosto maduro e mais sério. Seus cabelos dourados trançados e livres ao mesmo tempo. Suas roupas chiques indicavam duas coisas: que ela era uma nobre e que era uma governanta. Viola já tinha visto uma ou duas governantas em todos os seus dezoito anos de vida, mas nunca se esqueceu. _Não que sua vida fosse animada o suficiente para fazê-la esquecer de algo tão facilmente._
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Morsure de Vampire
Romance"Gostaria de ter de conhecido antes." "Eu não a deixaria" "Por que?" "Por que antes de hoje, eu não era nada, não sem você"