Prólogo

541 94 1.5K
                                    

Num tranquilo fim de tarde, o sol já se despedia e a escuridão começava a parecer cada vez mais atraente. Atraindo olhares para uma floresta distante da cidade, onde as estrelas brilhavam mais intensamente e o ar provocava arrepios, sussurrando encantos nos ouvidos daqueles que ousassem adentrar aquele lugar.

Um chalé humilde no meio desse denso matagal abrigava quatro membros de uma mesma família, afastados de todos os tumultos urbanos, dedicados ao que qualquer ser, vivo ou não, chamaria de magia.

Escondidos, eles não apenas praticavam, mas também descobriam novos tipos de feitiços, sem se preocupar com as consequências e as repercussões que isso acarretaria. Apesar disso, faziam o possível para não chamar a atenção, embora já tivessem sido descobertos.

Diversos seres encapuzados, criaturas das sombras, cercavam a residência do lado de fora, esperando apenas o sinal para prosseguir.

Enquanto na casa, as duas irmãs gêmeas de nove anos estavam sentadas frente a frente em uma mesa de madeira redonda, folheando os grimórios e praticando alguns conhecimentos como tarefa que os pais haviam pedido.

Társila encarava um antigo grimório de feitiços, com capa dura de couro e incrustado com um cristal verde, que já não chamava mais a atenção da menina. Ela fazia caretas quando folheava uma página e não compreendia o que estava escrito. Enquanto isso, Ameera estava animada com seu grimório de poções, que era idêntico ao da irmã, exceto pelo cristal roxo na capa.

Embora não entendesse bem as letras, procurava imagens que facilitassem a prática da lição. Társila arrancava as pétalas de uma rosa vermelha com pontas alaranjadas, pelo tédio de não ter nada para fazer naquele fim de tarde. Por coincidência, Ameera parou na imagem de uma rosa com pontas alaranjadas, semelhante a que a irmã segurava. Ela leu rapidamente em silêncio, ou ao menos tentou ler, e se surpreendeu.

ㅡ Talvez você não saiba. ㅡ Ameera mal começou a falar e seu tom presunçoso já havia irritado Társila, que revirava os olhos enquanto escutava a irmã.

As duas eram idênticas, com olhos esmeraldas e cabelos castanhos em um tom queimado, assanhados quase da mesma maneira. Mais espertas do que o normal para a idade que possuíam; o que não era visível nos olhos de uma, era notado pelos da outra.

ㅡ Cada uma dessas rosas foi feita a partir de uma poção extremamente rara, com sangue de centauro misturado com o sangue real feérico, além de outras coisas ㅡ murmurou Ameera, sem compreender completamente a última parte do texto no grimório.

Ainda assim, Ameera olhava para a irmã indignada, enquanto Társila fazia questão de rasgar mais uma pétala, sem se importar com suas palavras.

ㅡ São flores raras de cura! ㅡ grunhiu Ameera, perdendo a paciência pelo descaso de Társila. ㅡ A mais forte das poções de cura.

ㅡ E deixaram aqui jogadas no meio da sala por quê? ㅡ perguntou Társila, em um tom irônico de surpresa.

Então, após encarar a irmã por alguns segundos, a garota puxou mais uma pétala da flor e a jogou em sua direção, apenas para implicar.

ㅡ Pare com isso! Não enxerga que isso está errado? ㅡ Ameera arriscou tomar a rosa da mão de sua irmã, mas Társila se esquivou de seu movimento e continuou a puxar a pétala da flor, dessa vez arrancou duas e não restou mais nada no caule.

Társila pegou outra rosa, no meio da mesa, e recomeçou o maltrato com a planta, não antes de fazer careta para a irmã que avançou para cima. As duas em pé começaram a correr pela sala.

ㅡ Mãe! ㅡ gritou Ameera, sem conseguir alcançar Társila.

ㅡ Deixa de ser certinha... Você nem conhecia os feéricos, nem os príncipes que perderam o sangue para criar a rosa ㅡ Társila implica, puxando mais uma folha a alguns metros de distância. ㅡ Tanto faz agora...

Impuro Sangue RealOnde histórias criam vida. Descubra agora