O chão estava coberto de sangue. As mãos tremulas e respiração ofegante como se correra uma maratona. O Olhar distante, encarando o corpo caído e imóvel em sua frente. A outra mão largou lentamente o revolver enferrujado, o objeto responsável por aquele mar vermelho no banheiro sujo e pequeno da casa dos Beckers. A banheira já não era usada há anos, sua sujeira era perceptível diante do objeto branco nem tão branco agora. Lá estava ela, dentro da tal banheira imunda, depois de empurrar aquele corpo pesado do homem morto. Foi uma luta intensa, quase morreu, mas seu inseparável canivete se mostrou útil mais uma vez, rasgando o rosto do barbudo, dando-lhe tempo o suficiente para mirar o revolver em sua nuca e, sem hesitar, atirou.
- O filho da puta era forte... – Praguejou enquanto tentava, aos poucos, sair da banheira. – Preciso me limpar. – O sangue lhe deu mais agonia do que o ambiente sujo e empoeirado, com certeza.
Ela revistou o homem e achou alguns trapos, munição contadas, talvez quatro se ela mexesse bem no bolso do moribundo. Também achou alguns cigarros, mas isso não era de seu gosto, definitivamente.
- O Chaminé gostará de receber isso. O que mais você tem, seu merdinha? – Ela cutucou aquele homem até achar algo em seu bolso de trás, talvez não parecesse algo importante num primeiro momento, mas... – Caralho, que sorte!
- Ei... – Alguém debilitado e segurando sua própria barriga apareceu ao lado da porta quebrada do banheiro. – Você está bem? – Sua mão fora de encontro ao corte em sua testa, sendo amparado por um pedaço de pano encardido.
- Esse merda tem um carro! – Gritou ela enquanto mostrava no alto o monte de chaves, sendo uma delas, claramente, pertencente à um automóvel.
- Uma boa notícia depois de toda essa confusão, afinal. – Respondeu o jovem alto e esguio que tentava achar seus óculos pelas redondezas, mas sem sucesso. – Você está bem? – Perguntou ele, mais uma vez.
- Vou sobreviver. Esse... – Ela se interrompeu, juntando forças para chutar o morto. – Merda quase me matou sufocada! Agora estou com o sangue dele em mim... Filho da puta. Tinham quantos com ele?
- O Charles contou cinco, um tentou fugir, mas não conseguiu.
- Não iria muito longe, Charles não o perderia de vista. – Ela ergueu-se diante do rapaz que, se movia com grande desconforto em sua barriga. – O que você tem?
- Três socos na boca do estômago, não recomendo. – Dizia enquanto perdia sua afinação para a dor que o fez gemer ao falar. – Mas vou ficar bem. Você precisa saber quem foi o cara que tentou fugir.
A menina foi até um balde com água até a metade e limpou seu rosto, vendo o pigmento vermelho tomar conta de todo o ambiente em sua volta.
- Credo, isso não sai! – Ela esfregou diversas vezes o seu rosto durante alguns segundos, até que saísse tudo de uma vez por todas. – Agora sim.
Os dois seguiram por um corredor aberto de um segundo andar destruído. Em meio ao chão de madeira velho e rangedor, o rapaz acha seus óculos e finalmente observa seu caminho mais nítido. Abaixo, conseguiam observar a sala de estar dos Beckers com a área central espatifada, com diversos cacos de vidro espalhados pelo lugar.
- Nathan? – Perguntou ela, observando os detalhes de um possível cenário de uma briga.
- Ele foi o primeiro a ser atacado, aparecemos assim que ouvimos.
- E depois?
- Alexia acertou um dos caras, mas eles pareciam conhecer bem esta casa.
- Os Beckers? – Cogitou a garota, tentando achar uma lógica.
- Pensamos também, mas eram jovens demais para serem eles. Depois a resposta veio.
- Tínhamos tudo sob controle.... Não deixávamos pegadas, não comprávamos brigas desnecessárias, fomos discretos... O que será que... – Sua frase não conseguiu ir muito longe. Aquele cara amarrado em uma cadeira com uma corda grossa e bastante firme tirou sua total atenção. – Maldito Stan.
O loiro elegante e de rosto jovial demais para entregar trinta e poucos anos fez a garota sentir um ódio repentino, sem sequer cogitar poupar a vida do rapaz se dependesse de sua vontade. Alguns detalhes eram altamente irrelevantes agora, mas para ela, saber o motivo de sua traição era mais importante do que qualquer lembrança de como o conhecera. Agora, Nathan se mantinha ansioso e se posicionava em frente ao loiro que chorava e clamava misericórdia ao grupo. O rapaz mais alto e de cabelo preto se concentrou em sua respiração e expulsou os choramingos de Stan de sua cabeça. Reagindo como se sua música predileta começasse a tocar. Então, após alguns segundos escutando aquela música que nunca tocou, Nathan acariciou gentilmente a sua barba e, em seguida, soltou um único movimento em direção ao rosto de Stan que sentiu o sua mandíbula receber uma pressão tão forte que pensou estar fraturada.
- Você andava com eles? – Uma pergunta simples, pensava Nathan.
- Nã... NÃO! EU NÃO CONHEÇO NENHUM DELES!
- Não me faça quebrar meu punho socando essa sua cara, Stan...
- É SÉRIO, É SÉRIO! Eu.... – Ele hesitou, olhou para os lados, tentando encontrar algum apoio em um dos cinco rostos que lhe observavam sombriamente.
- Stan, – Iniciou uma mulher alta e ruiva ao lado direito de Nathan, escorada na parede mais próxima. – olha para a minha mão... – Ela o induziu a olhar para seu braço direito abaixado e rente ao corpo, segurando firmemente uma pistola. – Na primeira tentativa de nos enrolar novamente, você ficará um pouco... Debilitado da sua perna esquerda, mas você é quem sabe.
Stan titubeou mais uma vez, mas ao ver que Nathan aquecendo para mais um soco, percebeu que não tinha saída. Pois se iria morrer mesmo, não queria ser mais torturado no processo. Talvez tivessem misericórdia.
- Eu vendo informações e eles compraram as de vocês... – Respondeu Stan, abaixando a sua cabeça, rezando para que sua pena fosse menor.
- Então você estuda os locais. – Intrometeu-se um velho de barba branca e com um forte odor de cigarro em sua veste militar.
- Sim. Se quiserem, para não verem isso como algo pessoal, consigo alguma informação para vocês... –
- Depois de ter fodido com tudo... – Comentou a jovem loira, inconformada.
- Carro! Eles possuem um carro em bom estado. Seguindo ao norte possui um posto que ainda possui combustível, mas é um pouco arriscado.
Para facilitar a travessia por todo aquele caos, todos sabiam que um carro seria bem-vindo, mas a informação de Stan estaria correta? Facilmente ele poderia estar blefando e tendo a desculpa perfeita para escapar em segurança.
- Qual a distância deste posto? – Questionou o garoto de óculos, tentando fazer um mapa mental da região.
- dezoito quilômetros daqui, talvez menos. É um lugar isolado, terá bastante suprimentos também. Juro para vocês de que é verdade. – Stan apresentava-se exausto, sem forças para continuar sendo torturado.
Os cinco entreolharam-se por longos segundos, estudando a possibilidade e pensando se poderia ser uma travessia segura ou não. Era uma verdade, havia um posto lá. Mas e se estivesse vazio.
- Vamos até esse posto, - Iniciou Nathan. - Mas você vai com a gente.
Stan observou e acenou positivamente com a cabeça freneticamente. Mesmo parecendo não concordar com a proposta, parecia a melhor opção para sair vivo dali.
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O Paciente Zero
Mystery / ThrillerCinco pessoas distintas precisam se unir para manterem-se vivas após uma terrível epidemia. Mas quem seria cada uma dessas pessoas? Sem saberem o mínimo de informações sobre passado um dos outros, os sobreviventes seguem em busca de refúgio e segura...