Divindades e Humanos

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Divindades são autossuficientes, humanos não. Quando o sangue divino corre em suas veias, se é capaz de conviver em total harmonia consigo mesmo, sem precisar de algo ou outro alguém para lhe sustentar.

Todavia, quando o que corre em suas veias são apenas plasma, glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas é necessário se apoiar em alguma outra coisa para sobreviver. Seres humanos foram criados para se relacionar, para amarem e serem amados. Quando isso não acontece o resultado só pode ser o caos.

Pouco antes da humanidade afundar em sua própria malevolência, as divindades protetoras da Terra criaram um novo método para impedir que o vazio do amor ocupado pelo ódio pudesse extinguir o planeta azul completamente: o Sistema Gemelar.

Tal sistema designa almas gêmeas no momento de seus nascimentos e a partir do toque físico um pequeno sinal surge em um dos dedos da mão esquerda, como um fino anel de compromisso. A alma gêmea de uma pessoa pode estar em um namorado, como no caso das pessoas com a linha no dedo anelar; em um amigo, quando o sinal surgia no dedo do meio; em um familiar — normalmente gêmeos já nasciam com esse sinal no indicador —;  em um animal ou em alguma atividade, como no caso das pessoas com a linha no mindinho. Todos os humanos estavam destinados ao amor, sem nenhuma exceção.

No Gemelar, além do local do sinal, as cores dele também definiriam a intensidade da conexão entre as almas gêmeas. As linhas vermelhas, as mais comuns, representavam um amor normal, saudável; as linhas brancas simbolizavam uma conexão leve, sem a necessidade de um relacionamento próximo; o sinal preto traduzia intensidade, aqueles com as linhas escuras sentiriam que suas vidas só estariam verdadeiramente completas se estivessem ao lado de sua alma gêmea, não existia a possibilidade de fazer qualquer coisa sem sua alma gêmea para os com o sinal preto; havia também o sinal amarelo, que surge quando a alma gêmea de alguém morre, ou quando o objeto amado é extravidado. As linhas amarelas também são acompanhadas de outra linha com alguma das outras três cores para representar a intensidade da conexão perdida. 

O Sistema Gemelar se estendia à todos e funcionava dessa forma com qualquer pessoa, exceto para o trio que sobrou de uma linhagem destruída. Os Ackermans não se encaixavam nos padrões comuns.

Mikasa, com seus ouvidos bem afiados, escutou os insultos nada maduros que alguns dos rapazes de sua nova escola proferiam contra um pequeno garoto que parecia estar tão perdido quanto ela. Logo se aproximou, rezando para não arrumar confusão em seu primeiro dia, e assim que os olhares do grupinho se voltaram para ela, levantou as mangas do uniforme para mostrar os bíceps.

— Terceiro ano do ensino médio, caralho. Troca o disco, galera. Deixem o moleque em paz ou serei obrigada a quebrar a cara de vocês — disse, com um tom sombrio.

A Ackerman definitivamente não estava acostumada a falar gírias ou palavrões, mas achou que poderiam ajudá-la a apavorar os rapazes inconvenientes, por isso apenas repetiu as palavras que seu tio resmungava pelos cantos da casa, sofrendo para engrossar a voz. Aparentemente deu certo, pois o grupo se afastou com feições assustadas.

— Uau! Você tem uma aura completamente diferente dos outros humanos. — O garoto que estava sendo intimidado anteriormente a encarou, admirada.

— Realmente, o pessoal costuma falar esse tipo de coisa sobre a minha família. Mas enfim, você está bem? — Ela ajeitou as mangas do uniforme.

— Estou sim, graças à você. Obrigado, pessoa-que-não-sei-o-nome. — O loiro colocou uma das mechas de seu cabelo atrás da orelha.

— Mikasa, e o seu? Também é o seu primeiro dia? Parece tão perdido quanto eu.

— Armin Smith! — Ele soou animado ao revelar o sobrenome. — Meu pai é o novo diretor, mas eu acabei não tendo tempo para conhecer o prédio de antemão. Minha irmã disse que iria me mostrar a escola, só que ela foi no banheiro e acabou desaparecendo.

Gemelar, Ackerbond Onde histórias criam vida. Descubra agora