Shadows

14 4 26
                                    

Nas profundezas sombrias da noite estrelada, Severus Snape andava de maneira lenta e solitária, imerso e perdido em suas próprias incertezas. Seus passos pouco deixavam rastros no chão, enquanto pareciam ecoar uma constante sonoridade de sons longínquos trazidos pelas lembranças. Como uma melodia triste tocada pelas cordas do tempo, se desdobrando na imensidão do esquecimento, vozes e sons preenchiam sua mente reverberando nas paredes mais vazias e profundas de sua alma atormentada. Não sabia ao certo quanto tempo estava ali.

Lembrava que em algum momento cores vermelho alaranjadas tingiram o céu de fim de tarde, sendo substituídas por uma coloração roxo azulada extremamente profunda, antes de deixar o seu recanto cômodo dentro do castelo de Hogwarts para vagar pelos jardins e se encostar no tronco de uma árvore para simplesmente desistir desse breve aceno de paz de espirito para, logo, voltar a se perder em passos sem direção.

Pensava em Lily. Fechando as mãos e pisando firmemente na grama, seus olhos pouco reconheceram o quanto estava próximo ao local de sua pior lembrança, pouco se dera conta do quanto seus modos carregavam o peso de tais pensamentos distantes e dolorosos. Todos ancorados em desejo estranho de conquistar por orgulho e raiva, não por amor, aquilo que não lhe pertencia. Severus sabia que um dia a quis verdadeiramente, como uma melhor amiga que se tornara seu primeiro amor, mas aquilo morrera. Com o amargor do veneno do desprezo queimando em sua garganta, olhou firmemente para as pequenas ondas geradas pelos movimentos da lula gigante.

Talvez ela tivesse um nome. Talvez seus sentimentos também o tivessem. Mas não importava, seguiria em frente experimentando o sabor amargo da derrota. O gosto ácido da traição e da repulsa misturados ao remorso por tudo o que acontecera. Apesar de todos os pesares, de não a ver mais desde o dia da formatura, pensar em toda a dor que Lily lhe causara não conseguia diminuir o sentimento opressor de perda.

Jamais se perdoaria. Jamais seria completamente capaz de entender por qual razão ela havia morrido. Lord Voldemort havia lhe prometido que a entregaria comotroféu. Dumbledore, por sua vez, garantira que a protegeria de todo o mal. E a verdade era que ela estava morta em uma casa destruída, a qual, ele nunca tivera interesse de entrar ou conhecer. Tudo estava perdido naqueles detalhes agora irrelevantes e aterradores. Fatos que adulterariam a sua vida para sempre.

Olhando para o céu, com os olhos pensativos e soturnos, Severus notou o quanto a lua lançava sobre seu rosto toda a sua luz prateada. Lua cheia, lua que vibrava com os uivos de cachorros e lobos, que lhe servia de farol durante aquela terrível madrugada. Lua que banhava tudo em uma aura etérea constante de abandono.

ShadowsOnde histórias criam vida. Descubra agora