"Os seus olhos são
Espelhos d'água
Brilhando você
Pra qualquer um
[...] Ah! Que vontade de ter você
[...] Hum! Que vontade de merecer
Um cantinho do seu olhar
Mas tenho medo"
(Espelhos d'Água - Patrícia Marx)
Ramiro sabia precisar bem em que momento se apaixonou por Kelvin. Demorou a entender o que sentia, a aceitar o que sentia - e a se aceitar, principalmente -, mas quando chegou ao fim de todas aquelas etapas pôde perceber e afirmar, com toda a certeza que possuía em seu ser, que amava o menor desde a primeira vez que o viu.
Se fechasse os olhos e se concentrasse conseguia lembrar com clareza daquela manhã quente no meio do verão.
Havia ido com o patrão até o Naitandei porque ele possuía assuntos a tratar com a velha Cândida, enquanto esperava do lado de fora, encostado na caminhonete estacionada sob a sombra das copas das árvores ali presentes, ouviu uma série de gritinhos infantis e uma movimentação agitada na lateral do bar. Com cautela se aproximou do local, preocupado que algum bêbado pudesse ter arrastado alguma criança e estivesse tentando fazer algo com ela; preocupação está que foi se dissipando à medida em que se aproximava do local de onde os sons se originavam.
De perto podia distinguir vozes falando de maneira rápida e animada, os gritinhos que havia escutado em nada tinham semelhanças com gritos de socorro como pensou no primeiro momento, eles eram divertidos, como se a criança - seja ela qual fosse para estar naquele local - não conseguisse se conter na hora de demonstrar o divertimento que sentia e acabasse por externá-los por meio dos gritos animados.
Quando mais se aproximava, mais intrigado o capataz ficava, como evidenciava o seu cenho franzido, as vozes agora eram mais fáceis de distinguir, eram de uma garotinha, isso não tinha dúvidas, e a voz suave de um homem que, ao que tudo indicava, era quem pedia socorro.
— Aaah! Rosa! Aí, sua pestinha! Isso não vai ficar assim! REVANCHEEE! - Com a curiosidade tomando cada vez mais conta de suas ações Ramiro se esgueirou , de forma colocada a parede do bar, e, com extremo cuidado, espiou para descobrir o que estava acontecendo ali; seu momento de espionagem resultou na descoberta de uma guerra com água entre uma garotinha e um homem baixinho, este que presenteou o peão com a bela visão de um sorriso aberto, com direito a buraquinhos, chamavam de covinhas, se não se enganava, e olhos fechados, tudo isso apresentado em seu rosto delicado.
"Ele parece um anjo" era o único pensamento que rodava na mente do peão naquele momento, não conseguia desviar seu olhar do outro, mesmo quando esse virou de costas para si e às cegas - porque ao que tudo indicava havia sido acertado nos olhos por algum jato d'água proveniente da mangueira - tentava acertar a dita garota chamada Rosa, essa que Ramiro não tinha, ao menos não até o momento, notado que havia reparado em sua presença ali.
A menina o encarava com as sobrancelhas arqueadas e, mesmo que não gostasse de admitir e caso alguém o questionasse negaria o fato até a morte, o fez se sentir intimidado, fazendo assim com que desse alguns passos desengonçados para trás, o que a fez rir e manear levemente a cabeça em direção ao outro homem ali presente que se encontrava alheio a tudo, antes de fazer com a mão sobre a boca o sinal de zíper se fechando, como se prometesse a Ramiro que guardaria em segredo o tempo em que ele se perdeu - ou se achou - enquanto admirava o outro.
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A Luz dos Olhos Teus [EM REVISÃO]
RomanceCom a vida que levava, e pela forma como foi criado, Ramiro jamais imaginou que momentos de afeto e de brincadeiras era algo que lhe fazia falta. Isto é, até conhecer Kelvin. O rapaz vinha - e com uma paciência admirável - o fazendo descobrir mais s...