O Homem-Câmera gosta do Homem-Câmera, mas o Homem-Câmera não gosta do Homem-Câmera.
Cada mergulho é um flash. A exposição precisa ser ajustada manualmente para conseguir o melhor efeito visual e a luz que favorece cada objeto retratado. Havia uma orelha, há um obturador. Havia o osso da mandíbula rangendo e o desprendimento da objetiva.
"O que há contigo?", nada, nada. Favor tirar uma foto. Havia a saturação e a melhor pose. Um punho para as baterias e um olho de peixe.
Olhe no espelho. O que há?, a câmara escura. Nela, nada há de valioso, apenas o eco de imagens antigas nos íons de prata.
A pergunta é séria, mas a resposta é um riso. Nada há nele além da boca esgarçada de dentes afiados. Não há futuro no mundo, apenas no rolo da câmera.
O Homem-Câmera nada compreende. O Homem-Câmera cai, se enterra, desfoca, queima o filme. Não há de que gostar, pois nada há. A morte não é queda, a morte é derretimento e queimaduras no asfalto ardente.
O álbum está completo. o Homem-Câmera se desvanecerá, exausto, completo, nem Câmera, nem Homem, um rolo sem filme e uma lente rachada.
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Homem-Câmera
Short StoryNão há de que gostar, pois nada há. A morte não é queda, a morte é derretimento e queimaduras no asfalto ardente. Um exercício de escrita dadaísta.