O gringo | CAPÍTULO 1

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E D U A R D A    D O S    S A N T O S   
P E R E I R A

Eu sempre assisti a filmes de romance; acredito que esse seja o maior motivo pelo qual crio tantas expectativas em um relacionamento e na vida em geral. Nunca tive uma grande demonstração de amor na família, acreditem, realmente não tive! A vida amorosa medíocre do meu irmão resultou em dois casamentos fracassados. Meu pai sempre foi um homem muito comprometido; tinha dezenas de empresas e passava mais tempo em um quarto de hotel do que em casa. No entanto, mesmo com toda a correria de sua vida, ele conseguia manter um equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional, sendo assim um pai extremamente foda para mim e meu irmão, e um ótimo marido para minha mãe.

No meu aniversário de dezoito anos, meu pai insistiu para que eu fizesse uma festa. Nunca fui o tipo de garota que teve muitos amigos; sempre vivi na minha solidão e, acreditem, nunca me importei com isso. Tentei convencer meus pais a não fazerem a festa. No final, Leonardo me convenceu a fazê-la e a convidar alguns amigos para que eu talvez pudesse me enturmar com eles (definitivamente não deu certo). Era tecnicamente impossível fazer amizade com homens que falavam 99% do tempo sobre futebol e coisas do tipo. E sem querer ser estraga-prazeres, a festa foi péssima. Sei do esforço que minha mãe fez para deixar tudo perfeito, mas mesmo assim, não estava animada para algo diferente. Minha ideia momentânea foi sair da área da festa e andar pelas ruas do condomínio privado da Barra da Tijuca. Sentei-me no meio-fio da rua e fiquei observando as casas ao redor, até que minha atenção voltou para um carro preto, onde visivelmente tinham duas pessoas transando. Me aproximei disfarçadamente e me deparei com meu pai pegando sua secretária, talvez? Eu juro que até hoje não sei quem era aquela mulher. Em segundos, toda a imagem de bom pai e marido que eu tinha dele se desfez. Eu poderia ver qualquer coisa do meu pai que, sem dúvidas, perdoaria e deixaria passar, mas aquilo detonou o resto de expectativa que eu tinha.

Com vinte anos de idade, me relacionei com um jogador de futebol, Gabriel Barbosa. Ele e meu irmão eram e são colegas de time,!sempre nos víamos no centro de treinamento. Em um dia aleatório, ele me convidou para tomar um drink em um bar em Ipanema, e convenhamos, ele é um gostoso, eu definitivamente não negaria. Tivemos um relacionamento bom no geral, eu diria. Podemos pular a parte em que ele fodeu completamente meu psicológico, me fazendo ser a louca e a vilã da história. E quando pensei que nada poderia piorar nossa relação, vejo-o deitado na nossa cama com uma mulher enquanto eu viajava com a mãe dele.

Definitivamente, não tenho mais motivos para criar expectativas em relacionamentos.

Duda, eu te chamei dezenas de vezes - Karoline se dirige ao hall de entrada e me olha — Eu sei que depois desse 'rolê todo com o Gabriel a última coisa que você queria é ter que encarar ele novamente. Mas pensa, você está no Rio de Janeiro! Você não vem para cá tem meses, aproveita!

Eu sei, Karol - Suspiro — Mas sei lá, eu odeio ter que ser falsa na frente de todo mundo e fingir que não me lamento por ter sido uma puta corna - Sorrio ao falar em voz alta — Nossa! Primeira vez que eu não falo isso chorando - Bato no meu peito levemente — Que orgulho!

E quem disse que você precisa? Ele te traiu, você tem todo o direito de ter raiva. Mas preciso admitir que odeio te ver assim, você precisa provar para si mesma que já 'tá melhor com essa história e que não precisa ficar trancada que nem a Rapunzel em um apartamento em São Paulo. Se quiser ter essa vida lá, ok. Quando você voltar você age da forma que quiser, mas agora você está no Rio de Janeiro e sendo vigiada por mim - Sorrio — Veste uma roupa de gostosa e desce, estamos atrasadas para a festa

INEFÁVEL - JOAQUÍN PIQUEREZ  Onde histórias criam vida. Descubra agora