1 - A filha perfeita...

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Minha vida está longe de ser um mar de aventuras. Quero dizer, é uma aventura sair de casa todos os dias, sendo mulher, negra, trabalhando como secretária jurídica em um escritório onde os funcionários na sua maioria são brancos, herdeiros mimados que nunca precisaram se preocupar com o dia de amanhã, ou com o salário no final do mês, se daria ou não para pagar todas as contas e se sobraria para o mercado.

Todos os dias a minha eficiência é colocada à prova e junto, minha sanidade mental.  

“Sim, uma grande aventura.”

Mas não é esse tipo de aventura que eu sempre desejei. Desde que eu me entendo por gente, eu sempre tive essa coisa dentro de mim, uma força que ansiava escapar e ser livre. Um animal enjaulado esperando o momento certo para pular para fora e correr na selva que é esse mundo. 

Foi difícil aceitar que eu não podia ser mais do que a garota exemplar, a filha perfeita de Eleanor Rodrigues. Ao mesmo tempo, eu nunca soube como soltar essa fera que existe dentro de mim. E por isso, hoje me contento, viajando para outros mundos através dos livros, e vivendo aventuras repletas de ação, magia, monstros, deuses, vilões e herois.  

Eu sei, eu tenho vinte e cinco anos, deveria estar satisfeita em trabalhar em um dos maiores escritórios de advocacia do país, ganhando um salário razoável. Eu tenho um apartamento do qual eu gosto, e que fica bem longe das garras da minha mãe que, apesar de acreditar que realmente me ama, sempre teve uma forma controladora de demonstrar isso. 

Eleanor, durante toda a minha vida, fez com que eu reprimisse essa fera dentro de mim, deixando bem claro que toda essa minha fome por “mais”, me levaria à ruína. Mesmo não entendo os seus motivos, o porquê dela me reprimir tanto, eu me esforçava ao máximo para controlar todos esses sentimentos, até que um dia se tornou fácil. Eu consegui erguer uma muralha entre a fera e a filha perfeita que minha mãe queria que eu fosse.  

— Emma? 

Eu levanto o olhar, assustada. Estava tão distraída em pensamentos, algo que acontecia com mais frequência do que eu gostaria de admitir, que nem ao menos notei minha amiga parada na porta da minha sala. Ela me olha com um sorriso divertido, suas bochechas, salpicadas de sardas, se destacando com o movimento de lábios, enquanto seus fios ruivos e ondulados, caem até a altura de sua cintura, emoldurando seu rosto. Ela é tão bonita que mais parece uma pintura. 

Vanessa e eu nos conhecemos ainda na adolescência. Seus pais também eram rígidos e acho que só por isso, Eleanor não impediu que nos tornássemos amigas. 

— Ainda está trabalhando até tarde ou só está sonhando acordada novamente? Porque o escritório já fechou. 

Olho para as paredes de vidro, percebendo somente agora as luzes apagadas do lado de fora. Fecho meu notebook enquanto respondo sua pergunta: 

— Sim, estava sonhando. Afinal, é de graça. 

— Em falar em coisas gratuitas, – ela apoia o ombro no batente da porta – está rolando um happy hour, em um bar a dois quarteirões daqui, topa? Caras gatos? Bebidas de graça? 

— Você sabe que eu não bebo e não frequento bares. – Fico de pé, jogando minha bolsa no ombro. 

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⏰ Última atualização: Jul 09 ⏰

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Raízes Místicas: Revelações Inesperadas #1Onde histórias criam vida. Descubra agora