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Deserto de Nevada, EUA. Rodovia Estadual 375

Sexta-feira, 19 de agosto de 1977



Jimmy estava radiante. Dirigia seu Pontiac GTO 1969 conversível pela longa estrada como quem dedilha um solo de guitarra no último volume. Cada arrancada em que o motor V8 de 366 cavalos de potência proferia seu ronco distorcido, para Jimmy soava como mais um acorde grave e potente da música alucinante que o acompanhava. Porra, isso sim é carro. O sorriso iluminou seu rosto. Aquela madrugada parecia ter sido desenhada especialmente para eles; já chegariam a Las Vegas, na manhã seguinte, totalmente no clima. Esta é a noite e ela é minha. Eu sou o rei.

Os outros três passageiros também estavam em êxtase. Estendiam braços displicentes para cima enquanto o vento gelado do deserto varria seus cabelos e roupas. Os baseados que levavam nas mãos e nos cantos das bocas estavam travando uma batalha ferrenha para permanecerem acesos. Jimmy virou a cabeça. A moça de seios fartos e olhos claros ao seu lado já estava acendendo o seu segundo. Meu Deus, como ela é gostosa. Melanie viajava no banco do carona e, sem dúvidas, era a mais excitada. Cantava alto e, vez ou outra (entre uma tragada e outra), jogava-se para cima do rapaz forte e moreno que dirigia o carro de forma sexy, e lambia seu rosto com fervor, instigando-o a experimentar o que ela ofereceria de bom grado mais tarde. Eu quero você, James Mashall, e quero agora! Esta é a noite, ela pensava, com um sorriso malicioso para Jimmy, enquanto tirava o prendedor dos seus longos cabelos loiros e deixava-os livres para serem bagunçados pelo vento.

No banco de trás viajavam Bob e Linda, e para eles já era a noite a muito tempo. Agarravam-se com ferocidade num beijo sufocante e pareciam não se preocupar com coisa alguma. Quando Bob deitou por cima de Linda, seu baseado se desprendeu de sua mão frouxa e repousou fumegante no chão do carro. Ele nem ligou. Aquele lá já tinha cumprido o seu dever; que apagasse então. Bob puxou os cabelos ruivos e curtos de Linda com uma das mãos e com a outra, agora livre, vasculhou com ardor o interior de seu vestido florido para descobrir o que ela escondia por debaixo. Melanie olhou para trás do banco do carona e não conseguiu se conter:

— Boa, Bobby! — ela riu, batendo palmas. — Linda, cuidado com a mão nervosa dele!

O casal parou de se beijar na mesma hora e, em meio a gargalhadas constrangidas, ambos se ajeitaram e sentaram novamente no banco. Percebendo a situação cômica que se desenrolava, Jimmy virou-se, já imaginando que veria o rosto redondo de Bob completamente corado.

— Agora sim! Esse é o Bobby que eu conheço! — gritou, cheio de orgulho do amigo. — Ele não perde tempo!

Durante alguns instantes em que Linda, envergonhada, escondia o rosto nas mãos, e Jimmy e Melanie riam para Bob, apenas este olhava para frente. Quando pensou em abrir a boca para defender seus atos contando alguma de suas famosas piadas, arregalou os olhos. Foi o único a ver o clarão que, sem aviso, rasgou o céu e desceu em altíssima velocidade, como um cometa, vindo exatamente na direção deles.

— Jimmy! — Bob berrou, apontando para cima. — Caralho!

Com o susto, os outros três olharam ao mesmo tempo e, quando a intensa luz branca parecia estar prestes a invadir o carro, Jimmy fincou o pé no freio. O som estridente da borracha dos pneus queimando o asfalto foi bem mais alto que os gritos dentro do carro, que foram completamente abafados. A claridade cegou todos os passageiros enquanto eles derrapavam com violência. Em desespero e sem conseguir enxergar, Jimmy virava o volante para todos os lados, tentando retomar o controle, mas foi inútil. Todos se seguraram da maneira que puderam enquanto o Pontiac GTO vermelho rodopiava sozinho na estrada, como uma bailarina experiente, cujo suor era exalado através de uma espessa fumaça negra.

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