Consequências

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Comentem bastante. Boa leitura! :)

Dias antes, distrito 7

As pequenas janelas embaçadas pelo clima cruel deixavam, timidamente, a luz solar clarear o escritório, onde pairava um clima mais impiedoso que a neve incessante despencando lá fora.

Jungkook esfregava as mãos enluvadas uma na outra e sua respiração formava uma pequena nuvem de fumaça no ar. Seu único anseio era sair dali quanto antes.

- Não vou para Panem com você.

O tom da voz era tão desalmado que poderia jurar que a temperatura despencou mais alguns graus. Segurou um genuíno suspiro de alívio e acenou levemente com a cabeça.

- Como esperávamos, não posso ser seu pai e seu mentor. - Jeon sentiu o desapontamento pingar de cada sílaba e, com certeza, não era por parte do mentor. A ironia implícita na regra era que, então, não havia proibição para ele ir para a capital. Obviamente, falhou em ser os dois. - Isso não muda nada, Jungkook. Espero que se lembre de tudo que lhe ensinei a vida toda. Não estarei lá, mas tudo chegará até mim.

- Sim, senhor.

O homem equilibrou um charuto entre os lábios e o acendeu com o isqueiro. Aquela era sua brecha para cair fora.

- Assista às gravações de todas as colheitas a caminho da Capital. Conheça todos os tributos. - Tacou o isqueiro na mesa, recostando na cadeira. Uma sombra tomou seus olhos quando voltou a falar. - Houve um voluntário naquele buraco esquecido por Deus. - Tragou o charuto por tempo demais. - Patético!

Lá estava. Não era preciso sequer citar o nome do distrito. Durante toda a vida, o garoto cresceu ouvindo seu progenitor abominar tudo e qualquer coisa minimamente ligada ao doze. "Nada de bom sai daquele lugar!", "Aquele lugar é um lixo!", "Escória", "Não sei porque a capital não explode o doze com todos dentro". Essas e outras milhares de ofensas foram cuspidas no decorrer dos seus 23 anos em qualquer mera oportunidade.

Nunca soube o motivo. Qualquer tentativa de descobrir variava entre respostas rasas e silêncio absoluto.

- Por que isso com o distrito doze? - Tinha esperança de conseguir uma resposta desta vez, considerando que existia a possibilidade de ser a última conversa de verdade deles. - Sei que o senhor não aprecia nenhum dos distritos em geral, sim. Contudo, tem algo mais com o doze em específico. Por quê?

Recebeu um súbito olhar violento, fitando a mandíbula dele se contrair. Não se intimidou, hoje não. Não desviou e sustentou o olhar tão intensamente quanto. Era agora ou nunca. Achou que a sua petulância e as circunstâncias finalmente arrancariam uma resposta.

- Se despeça de sua mãe antes de ir. - Levantou-se e deu as costas, o ignorando. Caminhou até a porta e com a mão na maçaneta, se deteve por alguns segundos em silêncio. Antes de sair e sem ao menos olhar, falou:

- Não morra, Jungkook.

Reprimiu a raiva e a frustração e foi à procura de sua mãe. A encontrou sentada no enorme sofá da sala com suas típicas roupas elegantes de inverno. O olhar perdido nas chamas da lareira e na companhia do som ambiente dos estalos suaves da lenha queimando. Tão reprimida em sua própria mente que ao menos notou sua presença.

Jeon Soo-mi era a mulher mais imponente e forte que ele conhecia e a pessoa que mais amava no mundo. Apesar da idade, os cabelos curtos ainda brilhavam, o belo rosto não transparecia os anos de vivência e nunca deixava de lado o seu espírito alegre, mesmo após tantos anos ao lado daquele homem sem vida, ela transbordava positivismo e confiança.

Em Chamas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora