“ E quaaanto a minha dor, não se importe amor, já se fez minha amiga, me dói devagar…”
A voz marcante de Alcione invadia o pequeno quarto de Yasmin, que acordou mais feliz do que nunca ao saber que já começaria no emprego tendo folga.
Hoje a escola seria dedetizada, benditas sejam as baratas.– No meu colégio as baratas seriam parte do corpo discente, isso sim.– Ela ri.
É claro que ela gostava de lecionar, mas preferia milhares de vezes um dia inteiro de descanso, isso porque ainda tinha o entusiasmo e a esperança dos professores recém formados, e o primeiro emprego ainda veio no modo Easy, dando aula em escola particular, pra filho de bacana.
Após tomar um longo e demorado “banho deluxe”, com direito a todos os seus produtos de beleza e um tratamento nos cabelos, ela colocou seu melhor vestidinho de passeio, uma sandália confortável, e pegou seu celular, sentindo que não era tão diferente dos seus futuros alunos adolescentes.
– 24 é uma adolescência prolongada, não é mesmo? – Ela diz pra si mesma.
As borboletas em seu estômago deram cambalhotas quando ela viu a mensagem de Fernando dizendo que já estava lá embaixo…
Eles estavam conversando desde o fatídico dia em que o então candidato à presidência da República foi esfaqueado, pelo menos pra uma coisa boa aquele milico tinha servido.
A conversa entre os dois fluía perfeitamente bem, Fernando tirava risadas gostosas de Yasmin todos os dias, o destino parecia encaminhar os dois para um romance leve e divertido, coisa essa com a qual Yasmin sempre sonhou.Suas amigas, igualmente tomadas por um fervor adolescente, aplaudiam o desenrolar desse romance promissor.
– Nunca te vi tão linda. – O rapaz diz exibindo seu sorriso solar.
– Você diz isso todas as vezes.– A jovem provoca.
– É que todas as vezes você se supera. – Ele argumenta.
– Como você é bobo.– Ela diz, aproveitar a bela paisagem.
A paisagem era o próprio Fernando, que não precisava se esforçar pra parecer bonito, ele estava relativamente simples, vestindo uma calça jeans e uma camisa cinza, seu melhor acessório eram os cabelos castanhos que formavam cachos perfeitos e reluzentes, a moldura perfeita para o seu rostinho de anjo.
Sem aviso prévio, ele se aproxima, dando um beijo na testa de Yasmin, que desviou o olhar na tentativa de não deixar tão óbvio o fato de que ela estava babando por ele.
Para Yasmin, Fernando era inacreditável, porque ele a proporcionava experiências juvenis que ela não imaginava que poderia viver, como boa pessimista que era.
Ela bem se lembra de salvar imagens no “we heart it” e no “Tumblr” alguns anos atrás, de casais visitando museus e galerias de arte.
E agora ela estava ali, saindo de um museu com um homem que parecia ter saído diretamente dos seus sonhos.
Tudo bem, não era o museu do Louvre, mas era o Mariano Procópio. (É quase a mesma coisa, não?)
Era a primeira vez que Fernando visitava o lugar, apesar de estar alguns anos morando em Juiz de Fora, a justificativa dele era de que a faculdade lhe roubava tempo e paz demais, a ponto de ele nunca ter parado pra visitar esses lugares.
Ele ficou fascinado (e assustado) com o quadro de Tiradentes, e Yasmin riu bastante quando ele disse que não dormiria à noite.
– Me desculpe por ter falado tanto sobre a inconfidência mineira. É um péssimo assunto para um encontro. – Ela ri.
– Imagina, eu morreria sem saber que Tiradentes era engenheiro.
– Eu tenho muitas qualidades e acho que a maior delas é que eu sei milhares de curiosidades inúteis.
– E por falar em curiosidades inúteis…– Fernando tira um bloquinho do bolso, bem em frente ao museu.
Ele começa a mostrar para a garota inúmeros cálculos, e dessa vez é ela quem fica horrorizada.
– O que é isso? – Yasmin pergunta franzindo a testa.
– A probabilidade de alguém ganhar duas vezes na loteria.– Fernando diz, como se fosse óbvio.
– Legal… você pretende apostar?
– Não, tô dizendo que eu fiz algo tão improvável quanto ganhar na loteria, e algo assim não acontece duas vezes na vida de alguém.
– Onde você quer chegar, mestre dos magos? – A moça diz intrigada.
– Eu conheci você. – Ele diz, deixando-a sem palavras.– E essa foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo. E eu gostaria muito de não te perder, eu sei que isso é precipitado e você pode sair correndo assim que eu terminar de falar, afinal nos conhecemos a incríveis duas semanas. Mas não é preciso muito tempo pra perceber o quanto é legal ganhar na loteria, sabe? E eu percebi. Obrigado por tornar meus dias melhores, eu precisava muito disso.– Fernando diz, guardando o bloquinho novamente no bolso.
“Sortuda sou eu.” – Yasmin pensou. Aquilo não era apenas um sinal, mas um claro indício de que ela não era a única a estar “caidinha”. O anjo de olhos verdes estava com os 4 pneus arriados.
– Vem pegar seu prêmio então! – Ela diz, se atirando nos braços dele, que pela primeira vez tocou-lhe os lábios. Naquele instante ela achou que estava muito certo ao chamá-lo de anjo (mesmo que só em pensamentos), pois ele facilmente era capaz de levá-la aos céus.
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– Eu não acredito que dos oitenta e tantos sabores você escolheu MO-RAN-GO! – Yasmin falou, desacreditada ao sair com Fernando de sua sorveteria preferida no final daquela tarde gostosa em que eles passaram passeando pela cidade.
– Eu tenho certeza que é melhor que passas ao run.– Fernando contra-ataca.
E ao fim do dia, mal ele deixara Yasmin em frente ao velho prédio no bairro São Pedro, e já se desfazia de saudades. Com ela não era diferente.
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O dia parecia bom demais pra ser verdade, e Yasmin sempre desconfiava de duas bons demais pra ser verdade. Ela era acostumada somente com dias ruins demais pra ser mentira.
Movida por uma curiosidade sinistra, ela abriu o navegador de seu celular para pesquisar se era possível uma pessoa ser atingida por um raio dentro de casa, pois ela temia ser essa pessoa, mesmo que nem estivesse chovendo.
Ela estava digitando, com a velocidade de um idoso que está sendo introduzido à tecnologia, quando mais uma vez um número estranho lhe mandou uma mensagem estranha.
– Saudades da época em que meu primo colocou meu número em um anúncio na olx e disse que eu estava doando um bezerro.– Yasmin lamentou, abrindo logo a mensagem.
A mensagem dizia:
“Já adiantei a parada com o Marcelo.Tudo certo?”
Com certeza era estranho, mas não tanto quanto o que viria a seguir.
O número desconhecido, que não tinha foto, nome ou qualquer coisa que pudesse lhe dar alguma pista sobre o autor daquelas mensagens enviou a droga da foto de uma ARMA.
Naquele instante Yasmin deu um grito de pavor, atirando o celular na cama. Quem quer que estivesse fazendo aquela brincadeira doentia com ela estava indo longe demais!
Ela olhou o relógio que estava sob o seu criado. 23:47. Tarde demais pra lidar com esse tipo de situação. Suas amigas já estavam dormindo há algum tempo, e ela certamente não tomaria uma atitude prudente estando tão assustada. O melhor a se fazer era tentar ter uma noite tranquila de sono e tentar pensar mais racionalmente no assunto no dia seguinte.
Com passos silenciosos, ela foi até a cozinha e tirou de uma das gavetas do armário um Rivotril de sua amiga Ana.
Agora ela já tinha o suficiente pra ter uma noite de sono, que apesar de não ser exatamente tranquila, ao menos não seria tão turbulenta.
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Dona Morte
Mystery / ThrillerYasmin saiu de sua pequena cidade em Minas Gerais para cursar história, e tentar uma nova vida na Manchester Mineira. Ela era uma garota comum, que levava uma vida comum ao lado de seus poucos amigos. Sua vida em Juiz de Fora era simples e sem grand...