Um garoto em outra vida

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Caio, um rapaz comum em meio aos seus pares, não tinha muitos amigos, mas valorizava profundamente aqueles poucos que tinha. Sentado sozinho na varanda de casa, contemplava as estrelas e o esplendoroso nascer da lua, enquanto o vento suave acariciava seu rosto e sussurrava segredos da noite.

Seu olhar melancólico ansiava por uma era diferente, por um tempo em que a vida parecesse menos pesada e complexa. Às vezes, sua existência parecia apenas uma fachada que ele usava para afirmar que estava tudo bem para os outros, enquanto sua alma clamava por socorro em silêncio.

Enquanto suspirava fundo e girava o copo com duas pedras de gelo e um whisky barato, as lembranças do passado dançavam em sua mente, como sombras de uma vida que poderia ter sido diferente. Um gole, e ele sentia o calor do líquido ardente se espalhar por seu corpo, acalmando momentaneamente as turbulências internas.

A noite começava tranquila, mas logo a ansiedade o assolava, como uma tempestade que se aproxima sorrateiramente no horizonte. Seu peito apertava e suas mãos adormeciam, enquanto pensamentos sombrios ecoavam em sua mente, sussurrando promessas de alívio na escuridão.

Por muito tempo, ele lutou contra esses demônios interiores, buscando refúgio nos sorrisos e abraços de seus amigos queridos. No entanto, havia um ponto na vida em que nem mesmo o amor e o apoio deles podiam dissipar a névoa densa que envolvia sua alma atormentada.

As vozes do passado ressurgiam, como fantasmas que se recusavam a serem esquecidos. Frases dolorosas, proferidas por aqueles que um dia amou, ecoavam em sua mente, deixando cicatrizes invisíveis em seu coração já dilacerado.

Com o último gole em seu copo, deixou-o cair da varanda, como um gesto simbólico de libertação. O som dos cacos se misturava ao silêncio da noite, ecoando sua angústia e sua dor. Observou os fragmentos brilhantes no chão, como reflexos de sua própria fragmentação interna.

Suspirou profundamente, sentindo o peso de sua existência sobre seus ombros cansados. Vestiu seu casaco de couro preto, como uma armadura contra o mundo exterior, e saiu de casa, sem destino certo, apenas deixando-se levar pelo fluxo incerto da vida noturna.

Caminhando pelas ruas desertas, sob a luz pálida da lua, ele se viu imerso em um mar de pensamentos e emoções conflitantes. O relógio marcava 01:00, um lembrete implacável de que o tempo não espera por ninguém, nem mesmo por aqueles que lutam contra suas próprias sombras.

Parou em frente a um bar fechado, onde risadas e brindes uma vez ecoaram. Recordações do passado o envolveram como um abraço frio, trazendo à tona sentimentos de nostalgia e arrependimento. No fundo de sua alma, ele desejava desesperadamente voltar no tempo e desfazer as escolhas que o trouxeram até ali, mas sabia que o passado era um lugar inalcançável, onde apenas os fantasmas da memória residiam.

Em pé em uma ponte alta, próxima ao anel viário, ele contemplou o vazio negro que se estendia diante de si. Uma sensação de vertigem o envolveu, enquanto ele se via à beira de um abismo emocional. Pensamentos sombrios dançavam em sua mente, como sombras dançando ao luar, sussurrando promessas de paz na escuridão final.

Um zunido ecoou em seus ouvidos, crescendo em intensidade a cada segundo. Ele se virou para o lado e deparou-se com duas luzes brilhantes, como faróis de um destino incerto. E, então, tudo se tornou branco, como se a escuridão interna finalmente engolisse a luz de sua alma atormentada.

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