Capítulo 2: Megalofobia

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     Ao amanhecer, decidimos seguir em frente e deixar a vila para trás. Caminhamos um pouco até nos depararmos com um grupo de zumbis. Tentamos nos afastar sem desencadear nenhum conflito, mas, como era de se esperar, não foi isso que aconteceu. Enquanto eu avançava de costas, acabei pisando em um galho quebrado, chamando a atenção deles. A maioria era lenta, mas havia um que se destacava. Tinha grandes bolhas na região dos olhos e as orelhas três vezes maiores do que as de uma pessoa normal, lembrando um funil de carne. Ele era rápido e, mesmo sem conseguir enxergar, começou imediatamente a nos perseguir. Corremos então mata adentro, sem olhar para trás. O único som que se ouvia eram os estalos que ele fazia. Era como se o barulho dos dentes dele ao bater emitisse um eco, permitindo-lhe sempre nos encontrar. Tentamos correr o máximo que pudemos até avistarmos algo entre as árvores: uma cidade. Mal sabíamos que, ao colocarmos os pés naquela cidade, teríamos as piores experiências até então.

   Assim que chegamos à cidade, corremos até a primeira construção que avistamos. Parecia ser um prédio administrativo, com diversas cadeiras e papéis jogados pelo chão. Pulamos o balcão da recepção e nos agachamos, torcendo para que aquela criatura não nos ouvisse. Mas, inevitavelmente, ela nos alcançou. Só podíamos ouvir os barulhos que ela fazia, cada vez mais próximos. Dênis estava nervoso, com as mãos sobre a boca e os olhos fechados. Eu estava paralisado, sentindo uma tremenda dor no coração, como se algo tivesse atravessado minhas costas e me atingido. Foi então que vi Baltazar esticando a mão e pegando uma caneca quebrada que estava ali no canto, jogando-a para trás do balcão. O barulho de sua quebra atraiu a criatura para outra direção. Aproveitamos a oportunidade para nos afastarmos e, calmamente, nos dirigimos a uma porta próxima. Era a entrada das escadas, que levava até o último andar. Subimos e subimos. Nossa ideia era que, quanto mais alto estivéssemos, mais seguros estaríamos naquele momento. Porém, não foi isso que aconteceu. Ao abrirmos a porta do último andar, deparamo-nos com um corredor escuro, mal dava para ver o final mesmo com a lanterna, além de diversas portas de cada lado. Dênis tentava abrir as portas enquanto Baltazar tentava ver o que havia no fundo do corredor. Estávamos todos cansados, exaustos. Eu precisava permanecer firme diante da situação, pois se não conseguisse, talvez... Nesse momento, Baltazar começou a falar: "Pessoal, tem algo ali. Não sei dizer, é algo grande bloqueando o corredor. Até parece um..." Antes de terminar a frase, aquela coisa virou-se para nós, revelando sua aparência grotesca. Era um monstro de quase 2 metros de altura, com um corpo gordo cheio de bolhas. Lentamente, ele começou a avançar na direção de Baltazar. Eu permaneci sem reação, minhas pernas tremiam querendo me derrubar. Dênis, vendo tudo isso, começou a forçar uma das portas que estava trancada com o ombro. Ele gritava comigo: "Droga, Damian, para de ficar parado aí sem fazer nada e vem me ajudar." Aquilo me fez voltar à realidade e ajudá-lo a empurrar. Baltazar continuava a jogar coisas que encontrava no chão nele, mas ele continuava a se aproximar. Pensando agora, essa era uma atitude estúpida a se tomar, mas quem sou eu para julgá-lo? Eu era apenas o cara que estava quase se mijando nas calças.Com muito esforço, conseguimos arrombar a porta. Atrás dela, encontramos uma pequena escada em espiral que levava ao terraço. Não percebemos que já havia anoitecido e a nevasca estava mais forte do que nunca. Naquele momento, o medo tomava conta de nós. Os eventos que se seguiram só desencadearam mais problemas, e, por mais que tentássemos, parecia que estávamos presos em uma espiral de adversidades.

Não podíamos ficar no terraço; o frio começava a congelar nossas mãos, e a hipotermia era uma ameaça iminente. Não havia alternativa além de enfrentar nossos medos e voltar para dentro. Cada passo nas escadas era acompanhado por uma sensação de fragilidade, como se pudéssemos quebrar a qualquer momento, como vidro sob pressão. Ao chegarmos à porta, notamos que a criatura não estava mais no corredor. Sabíamos que aquele lugar não era seguro para passar a noite, então decidimos retornar à entrada no térreo. Mal sabíamos o que nos aguardava.

   Ao chegar na entrada, rapidamente fomos para a porta, mas algo nos impedia de escapar. Na nossa frente, diversos zumbis se aglomeravam, prontos para entrar. Parecia que não havia limite de monstros, pois a cada instante mais deles se aproximavam na nossa direção. Rapidamente um deles avançou na direção do Dênis. Estava muito escuro e não dava para ver claramente o que estava acontecendo, mas de repente o Dênis apareceu livre. Então corremos sem olhar para trás, fugindo em direção ao fundo do local. Por sorte, o caminho estava livre e conseguimos escapar. Depois de tanto tempo naquela cidade, o inimaginável aconteceu. Amanheceu. Após horas fugindo e nos escondendo em lugares diferentes, finalmente a situação melhorou. A nevasca havia parado e pudemos sair dali. Aproveitamos que o dia estava mais calmo e vasculhamos mais alguns lugares, acabando por encontrar uma arma na mão de um cadáver. O Dênis acabou pegando ela, concordamos que até agora ele era o que estava mais estável mentalmente de todos nós. Assim que saímos da cidade, logo de cara vimos um lugar muito bonito. Encontramos uma ponte que nos levou a outra cidade. Optamos por passar a noite ali. Logo pela manhã, seguimos viagem até encontrar uma casa abandonada no meio da floresta. Aquela casa evocava uma sensação de profundo desconforto. Começamos a explorar a casa e tinha muitos corpos no andar de baixo, era bizarro. Foi quando estávamos subindo as escadas que eu percebi que o Dênis estava andando estranho. O confrontei sobre o que estava acontecendo, ele começou a evitar a pergunta e a mudar de assunto. Então perguntei se ele havia sido mordido. Ele gaguejou, então eu soube. Nesse momento, ele sacou a arma e a apontou para mim. Eu permaneci imóvel, tentando assimilar a notícia mais trágica que eu poderia receber: a pessoa que eu considerava como um irmão estava prestes a se tornar uma daquelas criaturas. O Baltazar tentou falar com ele para abaixar a arma e que iríamos resolver tudo, mas todos nós sabíamos que não tinha como. Nesse momento, Dênis só conseguiu dizer uma coisa: "eu amo vocês". Logo depois, ele puxou o gatilho, caindo e falecendo diante de nós. Não importa quem você seja, se você for infectado, é o fim.

   


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⏰ Última atualização: Feb 14 ⏰

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