REBELIÃO DE JUNHO

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"When I miss you, when I long for you
When I want to lean on you, when I want to go back
I pretend to be happy again
I pretend to be happier
That's who I became"
pretend, suzy


O ano é 1832, e eles são estudantes em Paris.

Kelvin é o líder revolucionário de um grupo de universitários idealistas que sonhavam alto e acreditavam que poderiam mudar a França, e assim acabar com a monarquia. Ramiro é um cínico, bêbado, que afoga a sua dor no fundo de qualquer garrafa que encontra, mas que é puxado para Kelvin por sua luz incandescente uma vez mais.

Se Kelvin é a luz, Ramiro é o cego que dela necessita.

Ele necessita de qualquer atenção que o mais novo lhe possa dar, boa ou má, mas mesmo quando Ramiro discute com Kelvin sobre tudo o que ele diz, o outro homem nunca pede pra que ele vá embora.

Ramiro tentou resistir.

Quando ele, bêbado, tropeçou e deu de cara com o Musain e viu Kelvin, ele tentou deixá-lo em paz. Mas ele necessitava de estar na presença do outro, era impossível para Ramiro ficar longe do seu Kelvin. Toda uma vida sem ele tinha sido um inferno.

- Nem vale a pena tentar. - O bêbado diz. - A não ser que queiram morrer em vão. - Ele olha para Kelvin e dá um gole em sua garrafa.

- As pessoas vão-nos apoiar, você vai ver! - O líder diz, irritado com Ramiro pela milésima vez nesse dia.

- Você confia cegamente no nosso povo, mas eu não esperaria muito, não. No momento que virem a guarda vir em direção de vocês todos com armas e canhões, eles não vão hesitar em vos deixar sozinhos pra se defenderem.

As palavras de Ramiro sempre saem azedas e um pouco irritadas, porque enquanto Kelvin confia demasiado na humanidade das pessoas, no seu poder de mudar o país, Ramiro não confia nelas. Ele não confia nele mesmo para não magoar Kelvin uma vez mais. Ramiro já viu como o universo pode ser cruel, como as pessoas podem ser más e como, em seus piores momentos, são capazes de fazer coisas impensáveis.

 - Você não passa de um bêbado inútil. - Kelvin diz, visivelmente irritado.

Ramiro não refuta pois Kelvin não está longe da verdade.

 Mas na maioria das noites os dois esquecem as suas diferenças em opinião, esquecem as suas discussões, e Ramiro esquece todas as coisas más que já aconteceram, e eles deixam-se amar. Eles se amam como se suas vidas dependesse disso, palavras doces saem de suas bocas, as suas mãos percorrendo o corpo um do outro. Ramiro aproveita todos os pedacinhos de Kelvin que ele pode ter porque ele é egoísta, porque ele sabe que nunca vão conseguir ser felizes.

Nessas noites Ramiro realmente acredita em algo.

As noites em que Ramiro está bêbado em algum bar duvidoso e Kelvin está em seu colchão no chão, se virando e revirando, são as noites em que as suas brigas não conseguem ser resolvidas com pequenos beijos e pedidos de desculpa. São as noites em que Ramiro não consegue esquecer, e sua cabeça o relembra dos sons de Kelvin se engasgando no próprio sangue vezes e vezes sem conta. Isso o consome e só para quando ele finalmente apaga de tão bêbado.

Na noite antes de sua revolução falhada começar, Ramiro e Kelvin estão os dois no colchão do mais novo. Eles estão apenas deitados, Kelvin descansando a sua cabeça no peito de Ramiro enquanto o mais velho passa os dedos pelos fios de cabelo ruivos de Kelvin, plantando um leve beijo no topo de sua cabeça de quando em vez, enquanto Kelvin fala de suas preocupações.

Esses momentos era quando Ramiro conseguia ver o lado mais vulnerável de Kelvin — o lado que não é tão confiante de suas ações e do que está fazendo, o lado que duvidava dele mesmo de vez em quando, o lado de Kelvin que mais ninguém via a não ser ele.

WINTER BREATHOnde histórias criam vida. Descubra agora