Capítulo 1

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Chegando à nova casa


Já fazia duas horas que estava dirigindo e eu me sentia exausta. Passei o dia inteiro arrumando minhas coisas para a mudança. Bem, na verdade, já fazia dois meses que eu estava organizando tudo, mas hoje finalmente consegui terminar e pedi para levarem minhas coisas para minha nova casa que ficava em outra cidade. Minha nova casa era a antiga residência dos meus falecidos pais, que me deixaram há um ano. Inicialmente, relutava em mudar para lá devido às lembranças dolorosas, mas diante de alguns problemas financeiros, a perspectiva de morar em uma casa sem precisar pagar aluguel começou a parecer atrativa.
Poderia optar por alugar ou vender a casa, mas após algumas pesquisas, descobri que encontrar um comprador ou locatário para uma casa localizada em uma chácara era uma tarefa árdua e bastante complicada. Como não estava interessada em lidar com dores de cabeça, tomei a decisão de me mudar para lá.

Enquanto dirigia pela estrada de terra, percebi o quão distante minha casa estava da cidade mais próxima. Levava pelo menos 45 minutos de carro para chegar lá. A paisagem ao redor era dominada por campos vastos e árvores, criando uma sensação de isolamento e tranquilidade que contrastava com a agitação urbana.
Finalmente cheguei, contemplando os imponentes muros de tijolos com um portão de ferro preto. Me aproximava do portão de ferro, uma sensação de ansiedade misturada com antecipação começou a surgir em meu peito. Desliguei o motor e desci do veículo, sentindo o frio da noite envolver-me instantaneamente. A luz fraca dos faróis iluminava apenas o contorno do portão e parte da estrada de terra à frente. Com um suspiro profundo, estendi a mão para o portão e agarrei a fria barra de ferro. O rangido metálico ecoou pela quietude da noite enquanto empurrava o portão, revelando aos poucos o interior da propriedade. Cada rangido parecia ecoar como um eco das memórias que aguardavam além daquele limiar. Ao abrir completamente o portão, dei um passo para dentro da propriedade, sentindo-me como se estivesse adentrando em um mundo totalmente novo e, ao mesmo tempo, familiar. A escuridão envolvia a paisagem ao meu redor, mas ao longe, as sombras da casa dos meus pais pareciam emergir das trevas, convidando-me a explorar os segredos que guardam.

Deparei-me com as diversas árvores espalhadas pela propriedade. Sob o céu estrelado, a luz do meu carro era a única iluminação no local. A casa em si, uma construção robusta de madeira envelhecida, erguia-se imponente diante de mim. As janelas, ocultas pela escuridão, pareciam esconder segredos do passado. O alpendre, adornado com trepadeiras, agora parecia envolto em sombras indistintas na escuridão. Ao redor da casa, várias árvores se erguiam majestosas, suas folhas sussurrando segredos ao vento noturno. O céu estrelado lançava uma luz tênue sobre a paisagem, iluminando de forma intermitente os detalhes da propriedade e criando uma atmosfera misteriosa e melancólica.
Essa visão evocava lembranças dolorosas da infância, memórias que eu havia tentado enterrar no fundo da minha mente. Mas agora, diante da casa dos meus pais, essas lembranças pareciam ressurgir com uma intensidade devastadora, misturando-se com a escuridão da noite e as sombras da chácara.

Voltei até o carro apenas para estacioná-lo um pouco a frente da garagem. Então, desci do veículo e me aproximei do portão, quando fui fechá-lo, fiquei parada por alguns segundos olhando a pista de barro, observando as árvores ao redor. Um arrepio percorreu minha espinha, acompanhado por uma sensação de inquietação e medo. Parecia que alguém estava me observando, mas logo tentei ignorar esses sentimentos e concentrei-me em fechar o portão.

"De manhã, vou passar no mercado para comprar um cadeado para este portão", pensei comigo mesma enquanto terminava de fechar o portão. Voltei para o carro para pegar meu celular e usar a lanterna, preparando-me para adentrar minha nova casa naquela noite silenciosa e misteriosa.

Fui me aproximando da porta de entrada e tirei as chaves do bolso, destrancando a porta e acendendo as luzes. "Ainda bem que já tinha pedido para ligar a energia novamente", murmurei para mim mesma. Ao adentrar a casa, fui envolvida por uma atmosfera de nostalgia, misturada com um toque de melancolia. Os móveis, uma vez elegantes e bem-cuidados, agora exibiam sinais de desgaste e acumulação de poeira. O carpete macio sob meus pés parecia ter perdido sua cor original, enquanto as cortinas pesadas agora pendiam em farrapos pelas janelas.
Apesar do aspecto desgastado, a arquitetura da casa ainda mantinha sua beleza singular. As paredes de madeira escura, adornadas com detalhes intrincados, contavam a história de uma época de prosperidade e bom gosto. Os lustres que pendiam do teto ainda emitem um brilho fraco, apesar de cobertos por uma fina camada de poeira.
Enquanto explorava os cômodos da casa, um sentimento de inquietação começou a crescer dentro de mim. Cada sombrio corredor e cada esquina escondida pareciam ocultar segredos sombrios, aumentando minha sensação de vulnerabilidade.
De repente, um ruído distante fez meu coração acelerar. Parecia o som de uma porta se fechando ao longe. Congelei, meus sentidos alertas enquanto tentava discernir se era apenas minha imaginação ou se algo estava realmente errado.

Com passos cautelosos, me dirigi à direção do som, lutando contra a crescente sensação de pânico. Ao chegar ao quarto principal, me deparei com uma porta entreaberta que eu tinha certeza de ter deixado fechada. Um calafrio percorreu minha espinha enquanto me aproximei lentamente, preparada para enfrentar qualquer intruso que pudesse estar escondido dentro. Com um movimento rápido, empurrei a porta aberta, revelando a escuridão do quarto além. Meu coração batia forte no peito enquanto minha mente lutava para processar a cena diante de mim. O quarto estava vazio, mas algo não estava certo. A sensação de que alguém esteve ali recentemente ainda pairava no ar, enviando calafrios pela minha espinha.
Nervosa liguei as luzes rapidamente, verifiquei cada canto e recanto do quarto, procurando por qualquer sinal de intrusos. Foi então que notei que a porta apresentava um defeito, não fechando corretamente. Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios ao perceber que não havia motivo para alarme. Ainda assim, fiz uma nota mental para consertar a porta o mais rápido possível, não querendo correr o risco de futuras preocupações de segurança.

Fechando a porta com força para garantir que estivesse trancada, continuei a examinar a casa, não encontrando nada fora do comum, pelo menos por enquanto. Então, voltei para a sala, pegando um pano para remover a poeira do sofá antes de me sentar. Enquanto fazia isso, peguei meu celular para verificar se havia sinal. Vi que tinha um pouco de sinal e várias mensagens da Carol, minha amiga de infância. Sentindo-me mais calma e tentando afastar a sensação estranha que pairava na casa, aproveitei a oportunidade para responder às mensagens.

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Mensagens de Carol

Carol: Oi?

Carol: Você já está chegando?

Carol: Está tudo bem com você?

Carol: Me avise quando chegar!

Carol: Ei, você está bem?

Carol: Oi, oi!

Após ler as mensagens de Carol, uma sensação de calor reconfortante tomou conta de mim. Era reconfortante saber que ela se importava comigo e estava ansiosa para saber se eu estava bem. Com um sorriso nos lábios, digitei uma resposta rápida para tranquilizá-la:

"Oi, sim, estou bem. Já cheguei, o sinal aqui é meio ruim. Estava arrumando as coisas aqui, o caminhão com o resto só vai vir amanhã à tarde então, só tô com minha malas."

Enviei a mensagem e coloquei o celular de lado, me sentindo aliviada por ter compartilhado minha situação com Carol. Enquanto isso, decidi explorar um pouco mais a casa e talvez começar a desfazer as malas, sabendo que o grosso de minha mudança só chegaria no dia seguinte.
Depois de uma rápida olhada pela casa, dirigi-me até a porta principal para buscar minhas malas no carro. Decidi escolher um dos quartos para me instalar e optei pelo quarto de hóspedes. Não me sentia confortável em ocupar os quartos principais, repletos de memórias dos meus pais, e o outro quarto estava vazio, além de ter a porta com defeito.
Com o pano que havia utilizado para limpar o sofá, fiz uma rápida limpeza na cama do quarto de hóspedes, removendo o lençol de cima e passando o pano para tirar o acúmulo de poeira. Apesar do ambiente um pouco abandonado, senti um certo conforto ao preparar minha nova área de descanso na casa dos meus pais.

Exausta após o dia agitado, deitei-me na cama sem demora, deixando-me envolver pelo aconchego das cobertas. O silêncio da noite envolvia a casa, enquanto eu me entregava ao cansaço, permitindo que o sono finalmente tomasse conta de mim. Aos poucos, minha mente se desliga das preocupações do dia, mergulhando em um tranquilo estado de relaxamento enquanto eu me entregava ao descanso tão merecido.

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⏰ Última atualização: Mar 10 ⏰

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