Entreolhares

Capítulo três

Ele tentou convencê-la a ficar mais um pouco. Narcissa quase cedeu. Afinal, era uma tarefa muito árdua não ceder aos encantos de Severus quando ele fez uma omelete espetacular para o café da manhã, ou quando ele a fodeu sobre a mesa da sala de jantar. Mas ela precisava ser racional. Ele já estava atrasado para o trabalho, e ela precisava voltar para casa. Ainda, Severus conseguiu convencê-la a aceitar sua carona. No carro, ele somente tirava a mão das pernas de Narcissa para passar a marcha, e ela tirou proveito de todos os sinais vermelhos para roubar-lhe um beijo.

Ela riu por dentro. Sentia-se uma adolescente.

Mas assumindo a responsabilidade de uma mulher adulta, não deixou que Severus dirigisse até a portaria do condomínio de luxo. Queria evitar qualquer dor de cabeça que Lucius poderia lhe causar, e sabia que ele teria pedido ao porteiro para avisar quando e com quem ela chegasse. Então caminhou sozinha pela rua e sorriu amarelo para o porteiro quando o ouviu dizer: "o seu Lucius estava doido atrás da senhora".

Adentrou a mansão sem olhar para os lados, torcendo em silêncio para que Lucius não a visse ou que, com sorte, nem estivesse em casa. Infelizmente, ele a alcançou ainda no hall de entrada. Assim que o viu, lembrou-se de jogar o cabelo para um único lado do rosto, escondendo a marca roxa que Severus deixara em seu pescoço.

- Narcissa, meu amor. Onde esteve?

Ela pretendia não lhe dar ouvidos, mas a palavra carinhosa a fez paralisar no lugar. Com desconfiança, Narcissa o mirou com frieza.

- Fora - respondeu. Voltou a andar sem olhar para trás, mas escutava Lucius vir no seu encalço.

- É, isso eu percebi. Fiquei preocupado, você nunca fez isso antes.

- Você já passou muitas noites fora. O que te garante que nunca fiz o mesmo nessas mesmas noites?

- Ah, Cissa... Vamos ser honestos, não é?!

Isso a fez parar novamente. Lucius não achava que ela teria coragem para traí-lo. Aquilo fez uma onda de raiva atravessar o seu corpo, mas escolheu respirar fundo. Tinha mais a perder do que ganhar se confessasse que havia passado a noite com outro homem, mesmo que, àquela altura, não visse como poderia trair um homem de quem havia pedido o divórcio.

- Considerando a última conversa que tivemos, eu não queria passar a noite em casa. Acho que é um direito meu não querer conviver com o meu ex-marido. Yaxley me deixou num hotel em Londres, creio que ele deve ter te contado quando o questionou.

Ela já sabia há muitos anos que Yaxley não era confiável. Havia uma parceria muito discreta entre ele e Lucius, e Narcissa já havia percebido há muito tempo que Yaxley agia como uma espécie de vigia. Achou que seria mais seguro pedir que o motorista a deixasse num hotel a algumas ruas do restaurante.

- Eu ainda sou o seu marido, Narcissa. - A voz dele era mansa e compreensiva. - Nós precisamos conversar com calma, não podemos tomar decisões como essa no calor do momento.

- Eu não agi impulsivamente, Lucius - disse devagar para se certificar de que ele entendesse todas as palavras e notasse a sua segurança. - Este casamento não é mais um casamento há anos. Você me trai há mais tempo que Draco tem de vida. Eu não gosto de você, e você me detesta. O divórcio vai fazer bem a nós dois. Por favor, poupe a si mesmo dessa atuação barata.

- Olha, você tem razão. - Ele ergueu as mãos como se pedisse por uma bandeira branca. Narcissa franziu a testa. - Nosso casamento está um fiasco há... Há muito tempo - suspirou. - Mas fizemos uma promessa, ok? Até que a morte nos separe. E eu realmente quero tentar...

- Ai, Lucius! Pelo amor de Deus! - gargalhou na cara dele. - Você me trata igual merda por todos esses anos e acha que eu vou acreditar agora que você quer mudar? Você só não quer perder toda a grana que terá que me pagar quando o processo do divórcio for finalizado.