"O que a história conta não passa do longo sonho, do pesadelo espesso e confuso da humanidade."
– Arthur Schopenhauer
Um grito ficou preso em minha garganta enquanto, levando a mão em direção ao coração descompassadamente acelerado, sentava-me na cama.
O mesmo pesadelo de sempre.
As palavras pesadas, impensadas e tão carregadas de fúria, que me foram proferidas no momento que eu poderia considerar o mais decisivo de minha vida, ainda doíam, e eram tão presente em minha vida agora quanto o eram quando as ouvi pela primeira vez. Agora, porém, eu sabia havia algo que me magoava infinitas vezes mais que aquelas palavras e meus pesadelos eram tão intensos ao ponto de ir fundo naquilo que eu tanto evitava refletir sobre.
Pensei que, com o tempo, isso passaria, mas aqui estou eu – cinco meses depois – com mais uma noite de sono perdida por conta de um maldito pesadelo.
As pessoas costumam dizer que evitar um problema nunca é uma boa escolha, que essa não é a solução mais sábia, e eu preciso concordar. No entanto, era a única forma que eu sabia que funcionava no momento de crise que, infelizmente, eu ainda me encontrava. Não importa que meses tenham se passado. Essa dor não é o tipo de dor que passa depois de algum tempo. É o tipo de dor que só cresce e cresce e uma hora explode. É o tipo de dor que só será amenizada depois que todas as bactérias da ferida forem eliminadas. É só uma questão de tempo.
Soltei um longo e demorado suspiro, puxando a garrafa d'água que sempre estava ao lado de minha cama e tomei alguns goles, seguindo o padrão de beber água para aliviar a secura da garganta e tentar respirar o mais pausadamente possível para ir desacelerando as batidas de meu coração. Invariavelmente, acaba sempre bebendo todo – ou quase – o conteúdo da garrafa de uma só vez, o que não ajudava em nada nas batidas.
Puxei meu celular da mesa de cabeceira ao lado da minha cama só para conferir que horas eram. Quase três da manhã. Coloquei-o de volta na mesa junto com a água.
Eu precisaria acordar às sete e meia da manhã naquele dia, e que teria muito trabalho das nove da manhã às cinco da tarde, mas também sabia que demoraria pelo menos uma hora para que o sono voltasse. Havia ido dormir às onze da noite, não conseguindo esperar até meia-noite e meia, o horário que, eu havia descoberto, fazia com que eu estivesse um pouco mais descansada no dia seguinte, pois eu não despertava durante a madrugada.
Trabalho.
Depois da fase de experiência, o meu sistema já estava acostumado ao ritmo intenso da livraria, e eu já não mais sentia tanto sono e cansaço físico e mental como nos primeiros dias em meu primeiro emprego. Porém, o dia havia sido turbulento por conta do recebimento de novos livros e, por mais que eu estivesse feliz em ver tantos livros de autores amigos chegando – enquanto já planejava com quais deles gastaria o que sobraria do meu salário do mês –, como só havia conseguido parar durante alguns minutos na hora do almoço, o cansaço havia me tomado tão logo cheguei em casa, fiz e comi meu jantar e tomei um bom e refrescante banho. Depois disso, só tive tempo de abrir um livro aleatório no meu e-reader antes de apagar completamente.
Depois de verificar meus e-mails e as notificações de todas as redes sociais que eu mais usava através do celular, peguei meu Kindle com a intenção de voltar a ler o livro que havia começado antes de cair no sono.
Era um romance de banca que eu havia baixado da nuvem para o aparelho recentemente, uma das diversas indicações de livros do tipo que recebi em um dos grupos que participo no Facebook. De cara, temos uma mocinha iludida pelo homem que ama e que, mesmo amando-a também, rejeita-a por causa daquele famoso clichê do macho alfa e mocinha fraca.
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O Livro da Minha Vida
ChickLit"Hoje estou me reconstruindo e essa é a minha história. É o livro da minha vida." Laila Ravanholi, aos dezenove anos, está apenas começando a vida fora de casa, tentando superar as recentes decepções que a fizeram querer ser independente. Dividindo...