Prólogo - Vanaheim

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Se existia um paraíso, ele se chamava Vanaheim. Ao menos era assim que Roxie definia o lugar, desde que chegaram ali.

Já fazia quase três meses e ela só tinha a agradecer por sua mãe ter mantido tudo exatamente como haviam deixado. Poderia dizer, com toda a certeza do mundo, que estavam completamente felizes ali. Sem ninguém para acusar e sem ninguém para julgar. Sem ninguém para dizer o que eles, como realeza, deviam fazer. Poucas vezes foram até a cidade, duas ou talvez três viagens. A maior parte dos dias passaram em casa, na companhia um do outro. Conversavam, jogavam e se amavam. Essa última parte mais do que as outras.

A ruiva sabia o que a esperava quando voltassem para Asgard, mas preferia não pensar nisso naquele momento. Estava deitada, nos fundos, onde havia uma extensa varanda e, especialmente naquela noite, o céu estava repleto de estrelas. As três luas de Vanaheim brilhavam intensamente enquanto a deusa brincava de tentar adivinhar que constelação cintilava no céu.

- Constelação de Capricórnio. - Roxie apontou para o céu. Loki, que até aquele momento lia algo em um livro de capa de couro, desviou a sua atenção e olhou na direção de onde a jovem apontava.

- Essa não é a constelação de Capricórnio. Ela só pode ser vista de Midgard. - a ruiva olhou para o deus, no momento em que ouviu o barulho surdo do livro se fechando. O colocou em uma mesinha, ao lado da poltrona onde estava, e levantou-se. Caminhou até ela e sentou-se ao seu lado, fazendo-a deitar a cabeça em seu colo. - Aquela é a constelação de Trauchsteim. É uma homenagem a um parente do Bilchsteim e algumas pessoas os têm como bichos de estimação. Para guardar as residências.

- Eu sei o que é um Trauchsteim. - respondeu e os olhos verdes de Loki pousaram no rosto da deusa.

- As vezes eu esqueço que cresceu em Asgard. - a ruiva sorriu, fechando os olhos.

- Lembra quando éramos crianças? Insistimos em ter um no palácio e nossa mãe disse que ele sequer passaria pela porta. Então você teve a brilhante ideia de começar uma reforma forçada em casa. Thor se encarregou da demolição e eu de conseguir a marreta. Quebramos metade da entrada, antes que nos colocassem de castigo.

- Nós nem sequer tiramos um tijolo do lugar, Roxie. Os soldados nos perseguiram antes disso. Odin ficou furioso. - Loki sorriu. - Foi um bom dia.

- A mamãe deu os nossos primeiros cavalos depois disso. O meu era lindo.

- Você escolheu o meu. Era o mais devagar dos três e o mais guloso. - o deus reclamou respirando fundo. - Não poderia ter escolhido um mais rápido?

- Loki, eram potros. Se queria velocidade, deveria ter arranjado um com oito patas. - a deusa sorriu e fez um carinho no rosto do homem. Ele abaixou-se devagar em direção aos lábios da ruiva, até que ouviram alguém bater na porta.

O trapaceiro ergueu a cabeça da mulher e levantou-se. Não esperavam ninguém até a semana que iria chegar, quando marcaram para retornar a Asgard. Atravessou, rapidamente, a sala e chegou até a porta. Um soldado o aguardava do lado de fora. Fez uma reverência antes de falar.

- Sua majestade, a Rainha, pede que vossa alteza, e a princesa Sigyn, retornem imediatamente. Mandou a mim e mais dois para ajudar em qualquer coisa que tenham necessidade em levar.

- O que está acontecendo, soldado? - perguntou Loki.

- Estamos em uma guerra eminente, alteza. Devem estar protegidos em Godheim. - Loki voltou correndo para dentro.

- Arrume suas coisas. - mandou quando encontrou Roxie parada na entrada da casa.

- O que está havendo, Loki? - perguntou assustada ao ver os soldados aflitos.

- Só faz o que mandei. Te explicarei quando estivermos seguros. - a mulher assentiu e correu para o seu quarto. Arrumou suas roupas, de qualquer jeito, e voltou para a sala correndo. Um dos soldados tomou a bolsa de suas mãos e a acompanhou para fora do lugar, onde Loki já a aguardava.

Nem bem haviam saído e a luz intensa os atingiu.

Quando dissipou-se, Roxie percebeu que estavam de volta a cúpula da Bifrost. O guardião fez uma reverência rápida para eles, antes que fossem levados até as suas montarias.

Não era mais o cavalo negro e majestoso que Loki havia dado a Sigyn quando voltaram de Vanaheim, antes de tudo acontecer. Noventa anos impediam que fosse, mas lá estava o animal da mesma raça, porém de cor diferente. A máscara imitando as formas de um lobo, estava disposta em seu rosto e ele balançava as patas aguardando que a princesa subisse.

Loki a ajudou e em seguida montou no seu próprio cavalo.

Foram levados pela ponte arco-íris e pela cidade dourada, onde os olhos acusadores recaíram por sobre o casal. Loki parecia não notar, pois mantinha a sua pose de superior. Já Roxie, cada olhada e cada cochicho era como um golpe forte em seu peito.

Ela desejava estar de volta ao seu refúgio. Estar de volta ao seu paraíso. Estar de volta a Vanaheim.

Sobre Humanos e Deuses - Ragnarök (Loki)Onde histórias criam vida. Descubra agora