Clube dos 27

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É realmente uma pena que eu não tenha conseguido esperar mais alguns anos para ser encontrada tendo uma overdose de heroína na banheira em um hotel qualquer. Eu sempre quis fazer parte do clube dos 27.

Aquele teria sido o cenário perfeito para qualquer documentário póstumo. Quem me encontrou afogada no banheiro foi a camareira, que já estava acostumada com minha falta de resposta ao entrar para limpar meu quarto. Passava grande parte dos meus dias apodrecendo na minha cama ou encolhida em algum canto do apartamento, de modo que ela poderia facilmente acreditar que eu era muda ou catatônica.

Como de costume, imagino que ela começou recolhendo as embalagens de comida congelada e roupas sujas pelo chão. Então, limpou o vômito no carpete do apartamento, e me amaldiçoou mentalmente pela sujeira em que estava aquele lugar. Eu gostava dela, e sinto muito por ter sido a pessoa a me encontrar naquele estado.

Sei que deve ter ligado direto para a emergência, e quase consigo ouvir sua voz trêmula descrevendo a cena. Me pergunto se já tinha se deparado com alguma situação como essa. Camareiras decerto têm muitas histórias para contar. Posso ver os olhares curiosos dos demais hóspedes do hotel e a surpresa em seus rostos ao descobrirem quem repousava debaixo daquele saco preto.

Já podia imaginar as manchetes dos jornais: "Estrela do Rock, Atena, é encontrada morta na banheira do hotel em que estava hospedada, as suspeitas são que ela foi vítima de uma overdose acidental". Não haveria mais explicações, afinal, não era necessário. Todos sabiam o motivo, ou pelo menos parte dele.

Mesmo assim, imagino que fingiriam surpresa. Se lamentariam uns aos outros de como eu era tão nova, e tão bonita. Como se estivesse tudo bem se eu fosse velha e feia. Como se não fossem parcialmente culpados pelo que eu fiz.

Infelizmente também havia pessoas com as quais eu me importava. Como minha agente e publicitária, a quem eu vinha recusando todas as ligações e tentativas de me ajudar.

E meus fãs. Odeio pensar no que fiz com eles. Deixando que me colocassem em um pedestal, no qual eu nunca fui capaz de ficar de pé. Não quero pensar neles, não quero pensar nas garotinhas de doze anos abraçadas com seus pais, chorando porque sua cantora favorita era uma drogada suicida.

A recordação da minha família, dos que me viram crescer, é ainda pior. Minha mente vai para o dia em que me ligaram chorando, pois aquela menina de cabelo bagunçado que cantarolava nas festas de natal tocou no rádio. Não irei nem pensar no meu pai, nem no amor com o qual me suportou por tantos anos.

E então, quando me lembro de amor eu me lembro dele.

E quando me lembro dele, outras memórias me inundam em ondas pulsantes de dor, quando finalmente sinto o peso de todos esses anos sobre meu peito, e então, finalmente, eu me lembro de tudo.

"Não pude esperar" foi a última coisa que pensei, enquanto afundava, rumo à escuridão sem fim.



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⏰ Última atualização: Sep 05 ⏰

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