anjo maldito

1.7K 176 94
                                    

Ah, quão profundas são as revelações que só podemos alcançar na esteira da morte... Saber que vagamos por múltiplas encarnações, cada qual uma faceta distinta de nossa jornada espiritual.

Não me julguem mal, pois sinto-me inalterado... Nada, verdadeiramente, teria transformado a essência de minha persona.

Permaneci por longos anos no seio da humanidade.

Transmutei por várias formas, sempre distinguindo-me de algum modo. Testemunhei carnificinas quando alado, fui alvo como cervídeo, naveguei pelos confins dos mares, experimentei a fome e a penúria no corpo de um fêneco, e tangenciei, indiretamente, a queda da humanidade ao prover o fruto proibido...

Entretanto, o que mais me intriga é sua constante presença.

Jamais aguardava encontrar aquele ínfimo ser no além-vida...

Na verdade, nem sequer imaginava que tal destino me aguardaria após a morte.

Minha alma peregrinou por inúmeros lugares, cometendo tantos equívocos... Questiono-me por que, precisamente durante minha encarnação como Alastor, fui relegado ao inferno.

Será que minhas chances de reencarnação esgotaram-se? Teria perdido a oportunidade de redimir-me, e, por tal motivo, encontro-me aqui?

Minha mãe alegava que dispúnhamos de apenas sete oportunidades para reencarnar e alcançar uma ascensão espiritual... Talvez estivesse certa.

Recordo-me de ter-me defrontado com essa entidade celestial em todas as encarnações.

São memórias tão remotas... tão obscurecidas...

Era sempre ele, desde tempos imemoriais.

A sensação de estar irremediavelmente ligado a ele desde a aurora dos tempos é... indescritível.

Acaso ele reconhece minha verdadeira essência?

Não.

Decerto que não.

Não possuo relevância suficiente para que o Seraphin predileto de Deus me guarde em suas lembranças.

Ou talvez seja uma experiência tão singular que a vida jamais poderá ser igual após conhecer uma alma como a minha... Uma experiência inteiramente única em cada encarnação.

Sim.

Sempre evocarei uma sensação distinta, independentemente dos milênios que se desenrolem.

Ele há de perceber.

Ele deve perceber.

Eu anseio que ele perceba.

Pobre Alastor, mergulhado em seus próprios devaneios, enquanto observa Lúcifer embalar sua filha. O anjo ostentava um olhar de ternura incomparável.

Reminiscência do olhar que sua mãe lhe dirigia ao abraçá-lo.

"Anseio devorar esse anjo maldito, pedacinho por pedacinho..."

Alastor murmura num sussurro quase inaudível, refletindo sobre como será conviver com vestígios que lhe remetem penosamente ao passado.

_______________________________
°•Avisos•°

Bem, esta é a primeira história com um enredo mais sério e romântico. Admito que não sou muito habilidoso com esse tipo de trama, mas estou disposto a me esforçar 😮‍💨

O primeiro capítulo pode ter parecido confuso, no entanto, o desenvolvimento da história provavelmente esclarecerá algumas dúvidas.

Decidi dedicar-me mais do que o usual a esta história. Pretendo lançar, no mínimo, um capítulo por semana. Contudo, como esta é a semana de estreia, planejo disponibilizar logo três capítulos para vocês desfrutarem 🎀

Não estou acostumado com este estilo de escrita, então, peço que, se encontrarem algum erro, me informem nos avisos finais de cada capítulo.

Também pretendo incluir no final de cada capítulo uma lista com o significado de palavras mais complexas, basta solicitar que no próximo capítulo ela estará disponível :D

Obrigado por ler, não esqueça a ★estrelinha★
_______________________________

\\★ Apple pie ★// radioapple 📻 🍎 Onde histórias criam vida. Descubra agora