Implacável

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A vida de um vitorioso não era o que ela, e muitos outros, pensavam. Haydée, ganhadora da 68º edição dos jogos vorazes, estava em sua ampla casa, na aldeia dos vitoriosos. Encara por um longo tempo a foto suspensa em uma das paredes pintadas de azul pastel, é óbvio que a parede seria azul, afinal tudo o que é feito pelo capital para e sobre os distritos é generalizado. Mas a garota não se importava com a cor, até achava bonita, para ser sincera, e dentre as novas preocupações que se estabeleceram após seu triunfo como vitoriosa, a decoração da casa dela era uma das últimas.

O lembrete da capital, as memórias dos jogos e de como ela conseguiu aquela casa a acompanhariam enquanto ela vivesse, pouco importava a cor da parede. Assim como a presença da foto que decorava sua parede, e nesse momento o objeto que tinha sua atenção, nela Haydée posava de peito estufado e um sorriso moldado para passar confiança, uma coroa adornava sua cabeça e suas mãos seguravam um buquê de flores laranjas. Ela pensa o quão nova e inocente era a garota retratada, tão jovem com seus 16 anos, com tanta esperança. Olhando em retrospectiva não saberia dizer se a confiança era realmente moldada, ou se por alguns dias, ou talvez meses, ela de fato pensou ter um poder e influência muito acima do que tinha.

Após seus jogos, deixou-se deslumbrar pela vida luxuosa ofertada inicialmente pela capital. Observava seu mentor e o estilo de vida que o mesmo levava naquele lugar, Finnick era o momento, todos desejavam poder estar no mesmo ambiente que ele, almejavam poder respirar o mesmo ar que ele e poder olhar para seu corpo ao vivo. O garoto andava sempre com uma parte de seu corpo exposto, com roupas luxuosas e pensadas por seus estilistas para lhe deixarem sexy. Para ela, e para a capital, ele era um Deus Grego, brilhante e bronzeado. Haydée queria ser como ele era para aquelas pessoas, ela queria ser amada, idolatrada, queria reinar ao lado do queridinho da capital, sonhava com arrancar suspiros e até desmaios dos mais afetados, como Finnick provocava.

Agora, dois anos depois, Haydée era como Finnick. Não era idolatrada ou a queridinha, óbvio que eles gostavam dela, eram doidos por sua campeã, mas não com a mesma intensidade que gostavam de Finnick, mas ela entendia. Mas ela era desejada como ela, e agora queria jamais ter cobiçado ser como ele. A garota lembra que após seus jogos e seu deslumbre, esqueceu da versão do seu mentor que conheceu e conviveu antes de entrar na arena, uma versão doce, cuidadosa, carinhosa e até insegura. Deixou-se levar pela capital e adotou a narrativa que foi construída para Finnick como verdadeira, mas ela fez isso com diversas outras coisas.

Mas ela era uma carreirista, afinal, ela treinava para se candidatar em algum momento, embora o destino não tenha dado tempo para tal ato e tenha adiantado em dois anos sua inevitável ida para a arena. Ela não era uma tapada, mesmo treinando e se preparando para sua ida, não achava que a vitória era uma glória ou que os jogos eram justos, era só algo fatal, um fardo do qual ela não poderia se livrar. Mas sentir o gosto do sucesso subiu momentaneamente a sua cabeça, ela se sentiu importante, até a fatídica reunião com o Presidente Snow, no fim de sua tour, até o seu delicado convite para que ela se prostituísse. Convite no qual ela declinou na hora, afinal ela era uma vitoriosa, tinha poder de escolha, tinha relevância e importância, jamais aceitaria ser humilhada dessa forma. Foi assim que a garota se viu sozinha. Ao retornar para o distrito 4, acompanhada de Mags e Finnick, com os quais sequer teve coragem de mencionar o encontro com o Presidente, temendo o que os dois pensariam dela, ela recebeu a notícia do acidente com o gás da cozinha que terminou com a morte de seus pais e irmão mais novo. Ao entrar na casa, com Finnick em seu encalço, encontrou sob a mesa uma rosa branca e uma carta de condolências assinada por Snow.

Ela não precisou dizer nada, seu mentor, e a partir desse momento amigo, entendeu tudo, no fim das contas ele tinha passado pelo mesmo apenas um ano antes. Ele a aconchegou em seus braços enquanto a mesma chorava, e sequer ousou tentar abafar ou repreender o sofrimento da garota, deixou que ela aproveitasse enquanto ainda era capaz de sentir, enquanto não estivesse anestesiada. Ele não era bobo, perceberá o deslumbre da garota após a arena, viu seu ego inflado, sabia que em algum momento isso iria acabar, mas quem era ele para alertar? Era muito mais fácil conviver com uma vitoriosa inicialmente convencida do que paralisada pelo trauma, era menos doloroso. Mas ele sabia que esse momento chegaria, como chega para todos, apenas achava que seria mais tarde, após seu primeiro ano como mentora nos jogos, até lá ele esperava que a poeira tivesse baixado e ele pudesse ter alertado ela, orientado, mentorado. Sentiu-se culpado, essa era a função dele, ele poderia ter impedido, mas o Snow é imprevisível, implacável em suas ações, um mestre no jogo que joga.

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⏰ Última atualização: Feb 25 ⏰

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Lavender Haze- Finnick OddairOnde histórias criam vida. Descubra agora