Primeira impressão

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- Eeei! - disse alguém, depois de ter esbarrado no braço de Lise e nem ter tido a educação de pedir desculpas.

- Ei? - Lise disse incrédula, sem nem olhar para o infeliz. - Você me atropela e ainda reclama? - continua, recolhendo seus livros do chão.

- Quem me atropelou foi você, que não prestou atenção por onde andava! - disse o individuo, com um tom nada agradável.

Por Deus, só podia ser brincadeira! Lise não acreditou nos próprios ouvidos.

- Olha, senhor-sei-lá-quem metido a gostosão - disse Lise, olhando para seu atropelador pela primeira vez -, primeiro aprenda a pedir desculpas, depois reclame, okay? Com sua licença. Ela saiu batendo o pé e caminhou até a sala de aula, amaldiçoando o garoto idiota.

- O que houve Lise? - perguntou Pietra, quando Lise tacou os livros em cima de sua carteira, seguido da bolsa.

- Hum? Ah, nada... - disse Lise, sorrindo torto e sentando.

Pietra era colega de classe de Lise, diga se de passagem, a única que falava com ela. Mas tinha seu próprio grupinho. Todos tinham... Menos Lise. A professora de biologia entrou na classe e deu uma palestra de quase uma hora sobre o meio ambiente, pois havia presenciado a terrível cena de ver alguém jogando lixo na rua!

Só mais um dia normal, Lise pensou, quase normal.

Chegou a hora do intervalo e Lise apanhou seu livro, acompanhando a multidão, feliz por ter juntado dinheiro para comprar seu lanche. Passou pelo refeitório e correu para a cantina, já pensando no que comprar. Acabou com uma garrafa de Coca Diet, um salgadinho de cebola e dois pirulitos. Sentou-se na primeira mesa vazia que achou e passou a acompanhar o Q em uma aventura. Ganhara de presente de aniversário "Cidades de papel", livro que desejava desde o ano anterior. Na verdade seu aniversário havia passado há seis meses, mas sua mãe não era muito boa com datas.

- Esse lugar está ocupado? - perguntou o garoto que atropelara Lise mais cedo, apontando para a cadeira ao lado dela. Ela negou com a cabeça e voltou a ler. - Ela não morre. - ele continuou. - Ele a encontra.

Lise fechou o livro com força e se forçou a encarar o idiota que havia acabado de estragar sua leitura.

- Sente prazer em me ver nervosa, não é? - ela perguntou, com os dentes cerrados e uma vontade enorme de matar aquele indivíduo.

- Não - ele disse, sorrindo -, mas se fosse você, nem continuaria lendo. Esse é um dos piores livros que John Green escreveu.

Esse dia estava saindo pior que a encomenda.

Agora ele insulta meu autor favorito, vai para minha lista negra, com certeza, Lise pensou.

- Mais algum comentário idiota ou spoiler que estrague ainda mais minha leitura? - Lise perguntou, irritada.

- Ora, desculpa, não precisa ficar tão nervosa.

- Não estou nervosa! - Lise vociferou.

- Oh, não... Imagina se estivesse. - disse o garoto, com um largo sorriso no rosto. - Mas me desculpe okay? Só te vi sozinha aqui e resolvi fazer companhia. Aliás, meu nome é Jake.

- Olha Jake - disse Lise, extremamente irritada -, se eu quisesse uma companhia, arrumaria uma. Você derrubou meus livros, acabou com minha leitura e com meu bom humor. Sugiro que volte para seus amiguinhos e me deixe em paz.

- Não vai me dizer seu nome? - ele disse, parecendo frustrado, mas ainda com um sorriso zombeteiro no rosto.

- Meu nome é: some daqui, seu idiota! - Lise gritou.

- Garota ignorante. - disse Jake, levantando da cadeira e andando até a mesa cheia do que Lise chamava de "desocupados". Lise bufou e deixou o livro de lado, amaldiçoando a existência do tal de Jake.Terminou de comer e esperou o final do intervalo. Foi a primeira a chegar à sala de aula, e assistiu às aulas olhando para o relógio com impaciência. Quando o sinal tocou, Lise quase voou para fora da sala. Quando passava do portão da escola sentiu uma mão em se ombro. Girou nos calcanhares e deu de cara com a celebridade de seu dia, Jake, com seus olhos extremamente negros a fitando.

- Quê? - ela falou, já bufando.

- Cara, tenho a leve impressão que você não gosta de mim. - ele disse, sorrindo. - Eu só vim comunicar que vou te acompanhar até sua casa.

- Primeiro: eu não sou "cara". Segundo: mas não vai mesmo!

- Eu vou. - ele disse, passando seu braço em volta do dela e caminhando ao seu lado.

- Ah meu Deus! Dancei conga na cruz pra merecer isso na minha vida! - Lise disse, tentando em vão se soltar do braço de Jake.

- Você fica uma gracinha nervosa, sabia? - disse Jake. - Quer que eu leve sua bolsa?

Lise olhou para o garoto, incrédula e parou de andar.

- O que você quer de mim? - ela perguntou. Ele soltou o braço dela e, pela primeira vez a olhou com o que parecia ser vergonha.

- Vou contar por que não quero que nos apaixonemos e você descubra depois e me odeie eternamente, como nas novelas. Promete não querer me matar?

- Não. - Lise disse. - Fala, agora!

- Okay... - ele disse, deu dois passos para trás e passou a mão nos cabelos. - O Peter me desafiou a falar com você sem levar um soco na cara... E eu disse que conseguiria mais que isso. Disse que... Te beijaria até o final do dia.

Lise ficou calada, fitando a cara do garoto na sua frente, esperando ansiosamente a parte do "A-há! Pegadinha do malandro!". Mas ele não falou. Passaram-se alguns minutos, que pareceram horas, e Lise continuava a olhá-lo nos olhos com uma enorme descrença.

- Bom - ele continuou, notando que ela não se pronunciaria -, tecnicamente eu ganhei a aposta, porque ele nos viu saindo abraçados...

- Não estávamos abraçados! - Lise gritou. - Você é um idiota! Ah meu Deus! Vai lá se vangloriar por seu feito histórico para seus amigos idiotas, tchau.

Sem dar tempo de ele protestar, Lise saiu correndo em direção á sua casa, que não era muito longe dali.

Ódio ou amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora