Me sinto cansado com uma grande, forte dor de cabeça. Meu corpo está relaxado na minha cama, porém muito pesado para conseguir levantar. Estou de frente para a minha janela, sem ter como fugir da luz do sol que invade as janelas do meu quarto. Me surpreende que as cortinas estão abertas, colocando quase que literalmente o sol dentro do meu quarto.
Começo a ter alguns flashes de música alta e uma sensação de alegria, mas logo volto para a realidade deitado aqui na cama, com as minhas pernas formigando. Já tive essa mesma sensação antes... o sangue do meu corpo não está conseguindo circular, então desceu todo para as minhas pernas. Coloco as pernas apoiadas na parede para fazer o sangue circular melhor, para não sentir câimbra quando levantar, já basta o corpo doendo, sendo que não sei como cheguei nessas situações.
Ouço barulhos em frente à minha casa, tento levantar mais não consigo, meu corpo está muito pesado, mas as minhas pernas já não estão doendo muito, acho que consigo levantar com mais força. Estou com medo de ter deixado a porta de casa aberta e alguém ter entrado aqui, preciso descobrir o que está acontecendo. Fazendo muita força, consigo me levantar da cama e vou até a janela. Os barulhos vêm da casa de frente à minha, são os novos vizinhos que estão tirando suas caixas de dentro do caminhão.
O antigo dono era o Sr. James, de 38 anos, que morou na casa durante 4 grandes, longos anos. Porém, após viajar a trabalho para o Canadá, decidiu mudar o CEP e ficar por lá mesmo. Foi o tempo dele voltar ao Brasil e por a casa à venda e assim desfazer-se de suas coisas para construir uma outra vida fora do país. Ele era um cara bem legal. Vou sentir saudades das nossas conversas sobre animações; cada novo lançamento da Pixar era um acontecimento. Temos crush na mulher elástica em comum.
Estava quase saindo da minha janela quando me deparo com um cara que parece ter mais ou menos a minha idade. Saindo da casa e indo conversar com o motorista do caminhão, ele está com uma calça cargo preta bem folgada no corpo. Porém, com uma regata também preta, só que dessa vez bem justa ao corpo, e por algum motivo ele decidiu sair de casa descalço. Ele tem pele pálida e cabelos pretos, um preto meio branca de neve, ou como as pessoas normalmente costumam dizer, preto azulado.
Sua regata permite marcar seu peitoral, acompanhado de um físico de um cara que tem experiência puxando peso na academia. Sim, não tem como não ser sim, ele é meu número, meu tipo de homem, mas certamente hetero. Assim como todos os caras que eu já senti alguma atração.
Deixo meus pensamentos com o novo vizinho de lado pois, vejo um menino saindo da casa que era do Sr. James. No mínimo deve ter uns quatro anos, ele vai até o vizinho novo dizendo o nome dele, mas por conta da minha dor de cabeça não consigo ouvir direito, não ajuda também eu estar longe com a minha janela aberta. Porém o inimaginável aconteceu, assim como aquelas comédias românticas tipo High School Musical, o menino que ele pegou no colo olhou pra mim e apontou com o dedo dele, o vizinho que tava de costas quase entrando pra dentro de casa do Sr. James virou-se e olhou pra mim. Não tem também como não notar um cara te observando, em uma janela que fica de frente pra sua casa. Minha janela até que é pequena, não era pra ter chegado nesse nível, me deixe levar totalmente.
Esperava talvez um olhar simpático, tipo quando falamos "bom dia" pra alguém e ela te devolve um olhar simpático, nos melhores dos cenários te deseja o mesmo e devolve com um sorriso pra você, bom... e como eu agiria em uma situação dessa do cotidiano. Não foi o caso aqui, o novo vizinho olhou pra mim com um olhar apático com um tom de reprovação, talvez ele tenha notado que eu estou na janela tempo suficiente, pra eu perceber que ele faz meu tipo e tá me achando muito estranho e até esquisito.
Não fico pra teorizar mais sobre essa situação vergonhosa, pego as cortinas e fecho com a tentativa de fugir desse momento, e com sorte, esquecer. Estou bastante envergonhado, sinto vergonha de muita coisa, e até mesmo de coisas que já fiz no passado que no momento não via como uma possível vergonha, já aconteceu várias vezes estando fazendo algo aleatório, e caindo pensando em algo que eu vejo como uma vergonha que eu fiz. Muitas das vezes fico com peso na consciência e com constrangimento de: "como eu fiz isso?, não devia ter feito!, isso foi muito burro!". Sei que é normal sentir vergonha de si mesmo e até de erros que cometemos, pra até poder evoluir como pessoa e não fazer um maior erro no futuro.
Devia ter saído da janela quando ele pagou o motorista do caminhão de mudança, agora vou evitar esse novo vizinho, pois se eu vê-lo de novo vou lembrar disso, não tô muito preocupado com isso porque não saio de casa com frequência. Eu até queria sair mais de casa pra caminhar pela praia e assistir o pôr do sol, quem sabe um dia desses eu consigo.
Acho que por conta desse susto com o vizinho fez meu corpo deixar de ficar pesado, ainda permaneço com a dor de cabeça mais isso posso resolver com uma pílula, por outra lado minha falta de memória de como cheguei nessa situação, seja difícil. Meu quarto tá do jeitinho que lembro, nada faltando aparentemente, abro a porta e dou de cara com uma zona na segunda sala de estar, os livros estão jogados perto da estante, outros estão molhados perto da televisão, o sofá tá sujo com algo que não consigo reconhecer mais não era pra tá ali, todas as luzes de casa estão ligadas pra mais uma surpresa pra mim.
Vou na direção do terceiro andar que fica depois do quarto dos meus pais, e lembro que antes de sair de casa meu pai trancou a porta que dá acesso às escadas do terceiro andar, e levou a chave com ele assim como todas as vezes. Fico aliviado que ninguém tenha tentado subir pro terceiro andar, nem eu sei o que tem no terceiro andar, após uma porta simples como todas outras dos quartos, tem as escadas que seguem pra cima e no fim uma porta de ferro que sempre achei ser a prova de balas, do lado direito da porta tem um painel com número pra por a senha, isso foi tudo que eu consegui ver quando era criança. Meu pai não deixa ninguém subir com ele além da minha mãe, não sei o que existe lá, porém meu pai disse que um dia vou saber, mais isso só vai acontecer quando eu completar 17 anos.
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MAYDAY
RomanceNo seu aniversário de 17 anos, First, acostumado com a riqueza misteriosa mantida por seus pais, recebe a promessa de descobrir a verdade por trás dos negócios familiares. Entretanto, é ao conhecer Boss, seu enigmático vizinho, que uma série de even...