MORPHEUS

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"Bom dia, Porchay. Como está se sentindo hoje? Algum sonho ruim?"

Porchay brincou com os próprios dedos, havia restos de sujeira embaixo das unhas de quando, no dia anterior, ele estava colhendo algumas flores selvagens no jardim, enquanto ele cantarolava baixo no ouvido de Porchay. 

"Ele ainda está aqui. Ele basicamente vive no meu quarto, dorme em minha cama, me abraça e me beija. E ele ainda está aqui quando eu acordo. Ele disse que nunca me deixaria." 

"Hmmm" Doutora Hernandez respondeu. "E você, Porchay? Você quer que ele vá embora? Quer se livrar dele?" 

"Não" Porchay sussurrou, um pequeno, pouco visível sorriso apareceu em seus lábios secos. "Eu o amo. Ele torna os meus pesadelos suportáveis" 

💫

"Nós devemos fazer isto" 

"Eu também o amo! Mas nós não podemos..." 

"Eles podem ajudá-lo" 

"Ele precisa de ajuda" 

Porchay não lembrava de muita coisa em sua casa. Seus pesadelos tinham ocupado cada segundo de suas noites desde que ele era uma criança, e a medida em que ele crescia, os pesadelos começaram a tomar seus dias, também. Ele quase não podia focar em outra coisa. Ele não podia sequer prestar atenção em seus pais - suas palavras carinhosas, olhares preocupados e toques gentis, tudo isso não era forte o suficiente para lutar contra todos os demônios que viviam dentro de sua mente. Eles sempre estiveram com ele, em todos os lugares, dentro dele, em cima dele, abaixo dele, à sua esquerda e direita... Ele não podia ignorá-los. Não podia, não conseguia! 

Os demônios não o estavam forçando a fazer coisa alguma. Nem mesmo o forçando a se autoflagelar, eles eram os únicos a machucá-lo. Toda noite, quando seu subconsciente entrava no reino dos sonhos, a tortura começava. Estapeando, perfurando, chutando, cortando, queimando, torcendo, esmagando... Era um ciclo interminável de dor pelo qual Chay tinha que passar durante os sonhos. E não importava o quão bem ele tentasse se convencer de que nada daquilo era real, era tudo real. Para ele. Para a sua mente. Para o seu corpo. Como alguém poderia dizer a ele, como ele poderia dizer a si mesmo que nada era real quando ele claramente sentiu cada perfuração em suas vísceras, cada corte forçando seu precioso sangue a deixar seu corpo, cada queimadura comendo sua pele viva e fazendo-o gritar o mais alto possível até não poder mais? 

Como nada disso era real? 

Como isso pôde machucá-lo tanto se não era real?

Como ele poderia sentir tudo exatamente da mesma forma que sentiria na realidade se não fosse real? 

Havia também aqueles momentos em que ele pensou já ter morrido há muito tempo e estava no inferno. Isso explicaria tudo. Ele poderia finalmente entender o que estava acontecendo com ele. Ele não saberia o motivo, mas ao menos saberia o que estava acontecendo com ele. 

Porchay tentou, por muitas vezes, não dormir. Era melhor morrer por falta de sono a deixar aquelas criaturas o machucarem mais uma vez. Mas, novamente, Porchay era só um humano. Um humano com necessidades humanas básicas. Mesmo que ele tentasse, porque ele o fazia, seu corpo simplesmente desligava e então ele andava pelas ruas tingidas de vermelho e ouvia os gritos de dor por todos os lados, percebendo somente quando sua mãe o acordava, cansada e muito pálida, que aqueles gritos pertenciam a ele. Que ele dormiu outra vez. E deixou os monstros vencerem. 

E quanto mais velho ele ficava, mais doloroso era saber que os monstros sempre venceriam.

Seus pais gradualmente desistiram dele logo após completar 18 anos. Chay não os culpava por isso. Se ele pudesse, também desistiria de si mesmo. Há um longo tempo. Mas algo dentro dele era totalmente contra isso. O pensamento de viver sua própria vida parecendo tão fraco, tão frágil para conseguir segurar sua mente por um breve momento. Como se sua mente pudesse resistir a forma mais maldosa de dor que os demônios o faziam sentir, mas só o pensamento de Chay fazendo algo "bom" para si mesmo era demais para suportar. Inaceitável. Proibido. 

MORPHEUS - KIMCHAY ONE SHOT PT BROnde histórias criam vida. Descubra agora